Wal Sarges
Uma série de encontros estão na Igreja das Mercês, em Belém, promovendo diálogo entre as diferentes áreas da cultura nesse ambiente de devoção religiosa. Hoje, às 19h, ocorre a segunda palestra do ciclo de conferências, que terá como convidada a professora Dra. Amarílis Tupiassu, para falar sobre “Os embates do Padre Antônio Vieira em defesa dos indígenas da Amazônia”. O evento é gratuito.
A Igreja das Mercês, localizada no bairro da Campina, está ligada a um complexo compreendido pelo convento e a igreja, fundada por padres da Ordem de Nossa Senhora das Mercês entre 1640 e 1777, quando foi concluída em alvenaria de pedra. Projetada pelo arquiteto italiano Antonio José Landi, é uma das poucas igrejas brasileiras com fachada convexa e frontão de linhas onduladas. Pela sua importância cultural, o complexo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O reitor da Igreja das Mercês, o padre João Paulo Dantas, é professor de História da Teologia e conta que, ao assumir a reitoria, pensou em resgatar a vocação desse espaço como agregador de conhecimento, tais quais os mosteiros ou conventos. “Tive o desejo de propor um ciclo de conferências para retomar a vocação desta Igreja como lugar onde se reza e adora a Jesus Cristo, além de cultivar a devoção à Nossa Senhora, mas também um ambiente da cultura. No ciclo, escolhemos temas de fronteira entre a fé e as diversas ciências”, afirma ele, acrescentando que ali existia uma escola de canto para o ensino infantil, espaço marcante de cultura, beleza artística e com canto bem cuidado.
“Teremos a participação da professora Dra. Amarílis Tupiassu, que é referência no Brasil sobre o padre Antônio Vieira. Ela vai nos brindar sobre a luta do padre Vieira em nossas terras contra os maus-tratos e a escravidão indígena. É um tema que às vezes é abordado unilateralmente e a gente convida uma professora especialista nos escritos dele porque a gente acredita que a fé cristã não deve ter medo da verdade e a verdade pode nos ensinar para melhorar ou pode nos confirmar no caminho que a gente trilha”, explica.
ESPERANÇA
A partir disso, foram pensados temas em outras áreas, como arquitetura. A próxima palestra será no dia 27 de outubro, com a professora doutora da Unama, Paula Rodrigues, que falará sobre o Cemitério da Soledade. “A gente convidou a professora doutora Paula Rodrigues para nos falar da pesquisa sobre os símbolos que estão nas sepulturas que falam da fé cristã e esperança da vida após a morte, além de paz, amor e saudade. São símbolos que falam do coração do homem, mas com abertura para a eternidade. Tem esse diálogo entre antropologia e a fé, a arquitetura e a simbologia artística”, diz o reitor.
A Igreja das Mercês constitui importante símbolo da Cabanagem, intensamente utilizada durante a revolta em 1835, tendo ali funcionado posteriormente o Trem de Guerra e o Quartel de Milícia, o Arsenal de Guerra, a Recebedoria Provincial, os Correios, o Corpo de Artilharia e o Batalhão de Caçadores. Nesse contexto, o padre destaca que este é outro grande tema a ser retratado na série de palestras.
“A iniciativa buscou parcerias. Uma delas foi com o Instituto Histórico e Geográfico do Pará. A gente conversou com o professor Fernando Neves para que ele viesse falar sobre esse tema, na quarta conferência. Ele vai falar como se deu essa batalha e ainda da saída dos Mercedários, além de explicar como esse local se tornou central para a Cabanagem”, detalha o padre João Paulo Dantas, que ministrará a última palestra do ciclo.
“Vou fazer uma retrospectiva histórica do culto e da simbólica de Nossa Senhora das Mercês ao longo dos séculos. Uma série de evoluções que vão do século 13 quando nasce a devoção em Barcelona, na Espanha, até hoje”, adianta o padre e professor.