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Neste final de semana acontecem os últimos ensaios técnicos do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro, no Sambódromo da Sapucaí. A escola de Duque de Caxias, Acadêmicos da Grande Rio, entrará na avenida neste domingo, 23, às 20h30, para o último teste de som e luz antes do desfile oficial. Com isso, inicia sua contagem regressiva para o espetáculo do Carnaval 2025. Este ano, a escola leva o Pará para a avenida, com o enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas do Curimbós”.
No barracão da escola, os trabalhos estão a todo vapor. Inclusive já realizando as entregas de fantasias.
“Os preparativos no barracão estão caminhando no tempo certo, tudo que a gente já imaginava, já estamos nessa reta final de preparação. Agora são os ajustes finais”, diz Gabriel Haddad, que forma com Leonardo Bora a dupla de carnavalescos da Grande Rio.
“Na construção final do nosso desfile, costumamos fazer, já há alguns anos, um teste de carga nas alegorias, o que foi feito no último final de semana, onde colocamos os nossos carros ainda desmontados na parte de fora do barracão, com as pessoas em cima. A gente anda com os carros, testa todo o tipo de mecânica e elétrica, para ver se está tudo dentro dos conformes. Então, estamos num caminho bom, já entregando alas para os componentes, está caminhando como imaginamos”, completou o carnavalesco.
O primeiro ensaio técnico da escola, no último dia 13, na Marquês de Sapucaí, foi marcado por muita música e animação. Serviu como um aquecimento para o desfile oficial, previsto para o dia 4 de março, quando a Grande Rio será a terceira escola a entrar na avenida.
O enredo deste ano, “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, de autoria da dupla, em parceria com a artista visual paraense Rafa Bqueer, pesquisadora convidada, propõe um mergulho nas águas amazônicas e uma jornada mística que mistura palácios, pajelanças, incensos, igarapés, encantarias e terreiros de Tambor de Mina. Tudo isso perfumado com ervas e conduzido pelo ritmo e pelas letras do carimbó.
“Nosso enredo é um enredo encantado. Ele é dividido em cinco setores: a primeira parte fala do momento do encantamento das princesas turcas. O nosso segundo setor é a chegada delas ao Brasil e conhecendo a encantaria do fundo, conhecendo a Pene Maracá, que já vai entendendo essa relação delas com barro, com as energias que vêm dos igapós, conhecendo os encantados que aqui já habitavam. E essa relação vai se construindo também através da Pene Maracá, através da pajelança cabocla, onde elas começam o seu processo de ajuremamento e vão se tornar caboclas do Tambor de Mina paraense. Entendo essa formação também dessa religião, que é muito específica da região, e tudo isso cantado por carimbós, festejando todo esse processo em que elas se tornam muito queridas em todo o Pará”, resumiu Haddad.
O carnavalesco destacou ainda, que as três princesas turcas, caboclas, se tornam ajuremadas e encantadas pelos curimbós. “Nosso enredo é guiado por uma música de Dona Onete, a música ‘Quatro contas’. Essa música conta esse momento que Dona Onete recebe quatro contas que vão protegê-la por toda vida. As contas das três caboclas turcas e a conta da cabocla Jurema”, destacou ele.
Leonardo Bora completa a explicação sobre as “pororocas” do título do enredo. “A gente escolheu esse título porque algumas doutrinas do Tambor de Mina paraense saúdam as Belas Turcas enquanto pororocas, que são as ondas gigantes, produtos do encontro das águas doces dos rios amazônicos com as águas salgadas do oceano, que formam uma barreira do mar. Tal qual Dona Onete canta em ‘Quatro contas’, essa barreira que quebrava as embarcações invasoras. Portanto, elas protegiam a floresta, esse território sagrado”, contou Bora, sobre as entidades cultuadas na religião afro-brasileira e que, na avenida do samba, serão representadas pelas cantoras paraenses Naieme e Fafá de Belém e pela atriz Dira Paes.
“Assim como as princesas que se encantam, se ajuremam na floresta e se tornam protagonistas na Mina paraense e em temas de carimbó, elas protegem a Amazônia. Por isso, elas são as pororocas. E vamos trabalhar com essa ideia de ondas de água ao longo de todo o desfile. Isso aparecerá de diferentes formas, seja nas alegorias, seja nas fantasias dos desfilantes”, adiantou Leonardo Bora.
Um enredo materializado em ondas ao longo do desfile
Unida, com o samba na alma e na ponta da língua, a Acadêmicos do Grande Rio fez uma temporada de ensaios de rua marcados pelo canto intenso da comunidade, com grito até de “é campeã”.
“A expectativa é a melhor possível, temos um grande samba, um barracão se aprontando, alegorias, comunidade muito aguerrida, que está cantando muito o samba, o enredo tem sido muito elogiado. Então, a nossa expectativa é sempre a melhor possível, estamos muito felizes com todo o resultado”, falou o carnavalesco Gabriel Haddad.
“Esperamos que o samba aconteça, esse samba tão expressivo, e que a escola toda se comporte com muita força na avenida. Os ensaios são importantes para os últimos ajustes para a comunidade se sentir ainda mais confiante para o desfile oficial”, completou Leonardo Bora.
A pororoca, fenômeno natural que dá título ao tema, representa o encontro entre diferentes correntes de água, simbolizando a união, o impacto e a força da natureza. A água estará presente no desfile inteiro, desde a abertura que acontece nas águas salgadas, quando o navio que as princesas turcas estão naufraga – de acordo com as histórias do Tambor de Mina. Depois, entra no mangue até a pororoca. E no final a escola vai navegar pelas águas cantadas por Dona Onete, na canção que guia o enredo.
A escola deve utilizar elementos cenográficos que simulem a pororoca, além de incorporar sons que remetam ao movimento das águas e às manifestações culturais típicas da nossa região.
No Instagram, do carnavalesco Gabriel Haddad, é possível ver uma prévia de uma alegoria com mais de 50 mil garrafas penduradas, que remetem aos vidrinhos de atrativos das barracas das erveiras do Ver-o-Peso.
“São mais de 50 mil garrafas, trabalho exaustivo dos aderecistas. Os nomes nessas garrafas brincam com a memória da escola, de personalidades da escola e do carnaval. Tudo para atrair boas energias e bons fluidos para o nosso desfile”, falou Leonardo Bora, no vídeo compartilhado na rede social.
Bora lembrou ao DIÁRIO que essa pesquisa de materiais é uma constante nos carnavais da Grande Rio. “Tentamos experimentar ao máximo, sempre desconstruir materiais, sempre fazer teste. E como este ano estamos falando dessas águas, uma das alegorias do desfile vai trazer essa imagem, essa tradição das garrafadas, do banho de cheiro das erveiras, formando um conjunto cênico muito interessante, que são as águas que banham o Pará como sendo essas águas do banho de ervas”, destacou.
“Os rios são o banho de ervas, porque eles levam esses saberes, as plantas. Então, vamos brincando com isso ao longo de todo o desfile. Será um desfile muito vivo, colorido, expressando esse imaginário solar, festivo, muito forte. O carimbó é muito quente, como cantava o Mestre Verequete. E é isso que vamos mostrar na avenida”, completou o carnavalesco.
Celebridades
Em seus ensaios, a escola vem sempre recheada de celebridades, que estarão no desfile na Sapucaí. Como a jornalista Patrícia Poeta, as ex-BBBs Alane Dias e Isabelle Nogueira, o ex-jogador Edmundo e a apresentadora Gardênia Cavalcanti. Além de Fafá de Belém, Naieme e Dira Paes, Dona Onete também já confirmou presença, informou Gabriel Haddad. “Entre outras personalidades que vão estar presentes no nosso desfile, além de lideranças religiosas do Tambor de Mina paraense, da pajelança cabocla, como mãe Eloísa de Badé, do Terreiro Dois Irmãos, mãe Fátima, de Soure, no Marajó. Teremos a pajé Roxita presente também”, adiantou Gabriel.
O ex-RBD Christian Chávez também estará no desfile. Nesta sexta-feira, 21, ele chegou ao Rio de Janeiro para entrar no ritmo da Grande Rio. “Eu estou muito emocionado por fazer parte dessa história, não tenho nem palavras para agradecer pela oportunidade. É quase como estar vivendo um sonho! É uma experiência única e não posso falar mais porque estou chocado. Chocado!”, declarou o cantor, depois de visitar o barracão, onde tirou as medidas de sua fantasia e teve a oportunidade de conhecer a estrutura do local, além da Cidade do Samba.
Rainha de bateria da escola, a atriz Paolla Oliveira já adiantou que seu figurino será uma homenagem à força das águas e à ancestralidade amazônica, mas nada além disso foi revelado até agora. Contanto, a expectativa em torno de sua performance é grande, especialmente após o sucesso dos últimos anos, principalmente ano passado, quando ela “virou onça” em plena avenida.
Paolla Oliveira já anunciou que este deve ser seu último ano como rainha de bateria da escola. Ela tem uma relação antiga e intensa com o Carnaval. E com a escola de Duque de Caxias. Foi na Grande Rio sua primeira experiência como rainha de bateria e desde então a atriz se consolidou como uma das personalidades mais queridas do evento.
A dedicação e o carisma de Paolla são reconhecidos não apenas pela comunidade da escola, mas também pelo público que acompanha a atriz, que sempre destacou o respeito que sente pelo samba e pela cultura carnavalesca. Ela já declarou que para ela, ser rainha de bateria é uma responsabilidade que vai além de exibir beleza; envolve representar uma comunidade e manter viva a tradição do samba.
“Paolla é uma pessoa maravilhosa, uma rainha incrível, que está sempre presente nos ensaios, presente nas ideias das suas fantasias. Ela quer que tudo esteja sempre conectado com o enredo, a criação artística. Ela é realmente muito maravilhosa, não tem o que falar dela. É excepcional como pessoa e rainha de bateria”, disse Haddad.
A Grande Rio desfilará oficialmente na terça-feira, dia 4 de março. A tendência é que o desfile comece por volta de 1h da madrugada, no último dia do Carnaval carioca.