Marcado pela emoção, o Globo de Ouro de melhor atriz em filme de drama, conquistado pela atriz Fernanda Torres por sua atuação em “Ainda Estou Aqui” mantém o filme em cartaz. Em Belém, o longa permanece em exibição no CineSystem e o Cine Líbero Luxardo voltará a exibi-lo a partir de quinta-feira, 9, com sessões às 16h30 e às 19h. Após a última sessão, haverá debate sobre o filme com a mediação do professor e crítico de cinemMarco Antônio Moreira, da ACCPA-Associação dos Críticos de Cinema do Pará.
Mais do que o prêmio para uma produção, o bom desempenho do filme de Walter Salles traz novas perspectivas para o cinema brasileiro. “O prêmio é uma injeção de ânimo. Isso faz o cinema brasileiro ser mais procurado, ser mais ponto de interesse dentro do cinema mundial”, analisa a jornalista, crítica de cinema, curadora e roteirista Lorenna Montenegro. Paraense, ela está entre os 25 brasileiros do total de 344 membros votantes do Globo de Ouro.
VISIBILIDADE
Essa mudança, embora ainda tímida, está acontecendo aos poucos, detalhou a crítica. “Tanto com as indicações de filmes fora da categoria de filme internacional, que já é esse lugar do filme estrangeiro, mas também na categoria de melhor filme, direção, roteiro e nas categorias de atuação, que a gente sabe que são aquelas que têm maior visibilidade”.
“Ainda Estou Aqui” também foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa, mas perdeu para o francês “Emília Pérez”. Ainda assim, o longa vem construindo uma brilhante carreira internacional. Já venceu na categoria “Melhor Roteiro” no Festival de Veneza, após ser ovacionado em sua exibição e aplaudido por dez minutos. Também levou o “Prêmio do Público” do Festival Internacional de Cinema de Vancouver, com mais de 40 mil votos, e ganhou uma estatueta no Critics Choice Awards pela atuação de Fernanda Torres.
“O diretor Walter Salles falou que, para ele, o mais importante é como o público brasileiro estava respondendo ao filme”, cita Lorenna. “E acho que ele está falando muito claro, mesmo ele sendo um bilionário, mas tendo essa consciência de que é mais do que um filme só. A importância é a volta do público para o cinema brasileiro. É sobre como o público realmente vai retornar às salas de cinema para prestigiar o cinema brasileiro”, diz.
O objetivo parece estar sendo alcançado. Até o último fim de semana, o filme alcançou 3,08 milhões de espectadores, entrando no ranking dos filmes brasileiros mais assistidos de todos os tempos. E a repercussão internacional traz a perspectiva de mais investimentos. Produção original da Globoplay, “Ainda Estou Aqui” faz a plataforma projetar investimentos futuros.
“Estamos extremamente orgulhosos e emocionados com a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro. Este prêmio não só destaca o talento excepcional de Fernanda, mas também a qualidade e a relevância do cinema brasileiro e das produções originais do Globoplay. ‘Ainda Estou Aqui’ é um filme que toca profundamente em questões históricas e emocionais do Brasil, e ver esse reconhecimento internacional é uma honra imensa para todos nós. Continuaremos a investir em histórias que merecem ser contadas e que ressoam com o público global” comemora Manuel Belmar, diretor de Finanças, Jurídico, Infraestrutura e Produtos Digitais da Globo.
O crítico de cinema e professor Marco Antônio Moreira acredita que a premiação representa muito para um possível aumento de interesse das pessoas em relação ao cinema brasileiro.
“A Fernanda Torres tem uma longa trajetória no cinema, muitos filmes bons, mas alguns não tão conhecidos como deveriam. Então, espero, acredito, que estimule as pessoas a procurarem, primeiro, o próprio filme. Muita gente ainda não assistiu ao filme, mas ele já é um sucesso, mais de 3 milhões de espectadores no Brasil. E que de algum modo continue esse interesse, não só pelo filme do Walter Salles, que é ótimo, mas também por outros filmes que a Fernanda fez, entre outras produções nacionais que foram lançadas nos últimos anos”, diz.
Para Lorenna Montenegro, essa atenção internacional de fato pode abrir os olhos para a beleza da produção brasileira. “O cinema brasileiro é muito pouco cotado, considerado e lembrado, então é muito complexo a gente olhá-lo dentro dessa perspectiva desses festivais ou dessas premiações e entender que ele não está num lugar ainda de prestígio comercial e artístico. Como, por exemplo, o cinema italiano ou o francês. Mas eu acho que a gente tem que galgar, porque o cinema brasileiro tem uma história e uma trajetória. A gente teve filmes formidáveis esse ano, sendo exibidos no circuito comercial, por exemplo ‘Baby’, ‘Malu’, para além do ‘Ainda Estou Aqui’ e ‘Manas’, que também foi premiado em Veneza, e que se passa no Pará. Então, eu acho que é importante olhar para esse momento como também um estímulo para que a nossa cinematografia cresça e floresça e tenha mais visibilidade”.