Estreia nesta quinta-feira, 15, no circuito brasileiro de cinemas, o filme “Manas”. Dirigido por Marianna Brennand, o longa-metragem aborda a exploração sexual de crianças e adolescentes na Ilha do Marajó, no Pará. A atriz Dira Paes integra o elenco, fazendo o papel da policial Aretha, inspirado em pessoas reais, como o delegado Rodrigo Amorim, conhecido por combater a exploração sexual infantil nas balsas da região, e a irmã Marie Henriqueta Cavalcante, uma referência no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes na região amazônica.
Jamilli Correa dá vida à menina Marcielle/Tielle, que tem 13 anos e vive na Ilha do Marajó (PA) junto ao pai, Marcílio, papel do ator Rômulo Braga; à mãe, Danielle, vivida por Fátima Macedo; e a três irmãos. Ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após “arrumar um homem bom” nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres à sua volta.
O filme se tornou um projeto de vida da cineasta brasiliense Marianna Brennand, que tem como uma de suas características de trabalho contar e preservar histórias relevantes e invisibilizadas nos campos cultural e social. Em entrevista ao Caderno Você, ela ressaltou que foi um momento muito especial voltar ao Pará, fazendo a pré-estreia em Belém, em abril deste ano. “Mais que isso: foi um gesto de escuta e de devolução à cidade, além de ter sido presenteada bem no dia do meu aniversário. Acredito que o filme se tornou uma missão de vida, que tem um propósito maior, que é o de lutar contra a violência de gênero, pela integridade dos nossos corpos, pela nossa liberdade, pela nossa existência, livre de violência e de medo, é uma missão da minha vida”.
Ela disse que espera que o filme seja uma ferramenta para lançar luz sobre esses crimes e encorajar as pessoas a enfrentá-los. “Eu faço cinema porque acredito no poder dele como uma ferramenta de transformação social e política. Espero ainda que o filme seja o início de um despertar e de um movimento para a gente mudar essa realidade. O meu desejo é colocar o espectador no coração e na alma da Marcielle para que ele acompanhe essa menina do começo ao fim do filme, ao longo da trajetória dela, enquanto ela sofre as maiores violências que uma criança ou uma mulher pode passar. E que ao sair da sala de cinema, o espectador saia transformado. Acho que lutar pelos direitos humanos, lutar contra a violência e contra o abuso e exploração sexual de mulheres e crianças é uma pauta de todos nós. Espero ainda que o público seja encorajado a quebrar os silêncios, principalmente as mulheres. Espero que elas se sintam respeitadas, vistas, se sentindo compreendidas”, acrescentou Marianna Brennand.
INÍCIO DO FILME ‘MANAS’
O primeiro contato da diretora com este tema foi há dez anos, quando ouviu pela primeira vez sobre os casos de exploração sexual na Ilha do Marajó no Rio Tajapuru, através de uma conversa com a cantora Fafá de Belém. Iniciadas as pesquisas para o filme, Marianna Brennand entendeu que precisava da ficção para contar aquelas histórias, em vez de um filme documental, para não repetir o processo de violência já vivido por aquelas pessoas. Assim surgiu o primeiro longa ficcional da cineasta.
“A ficção veio de uma maneira muito orgânica. A gramática cinematográfica de ficção me permitiu contar essa história, que é tão difícil, tão violenta e silenciada. Precisava também de um olhar feminino, delicado, um olhar respeitoso e sensível para construir essa narrativa. E desde o início, o meu maior desafio era como contar essa violência sem trazer mais violência. Penso que fez diferença o fato de ser uma diretora mulher, assim tive um olhar de empatia e de respeito para a história dessas meninas e de tantas mulheres que sofrem violência, principalmente ao retratar os nossos corpos”, afirmou Marianna.