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Festival carioca de música e arquitetura chega ao MEP

O Museu do Estado do Pará, instalado no Palácio Lauro Sodré, recebe a programação FOTO: Suane Barreirinhas/divulgação
O Museu do Estado do Pará, instalado no Palácio Lauro Sodré, recebe a programação FOTO: Suane Barreirinhas/divulgação

Ainda em clima de comemoração dos seus 407 anos, Belém recebe pela primeira vez o Fima – Festival Interativo de Música e Arquitetura, evento que une música, patrimônio e história. Em sua segunda edição, que destaca palácios históricos pelo Brasil, será a primeira vez que o festival será realizado fora do Rio de Janeiro.

Nesta quarta-feira, 18, às 17h30, ele chega ao Palácio Lauro Sodré, antiga sede do governo paraense e atual Museu do Estado do Pará, com o concerto da mezzo soprano Carolina Faria e da pianista Ana Maria Adade.

Na abertura, o Coro Infantojuvenil Vale Música faz participação especial. Além da música, a apresentação ainda contará com o historiador Aldrin Figueiredo, pesquisador da Universidade Federal do Pará. A entrada é gratuita.

Será o segundo concerto da temporada do Fima, aberta em dezembro último, no Rio, com um concerto do sopranista Bruno Sá e da pianista Priscila Bomfim no Palácio Petit Trianon, sede da Academia Brasileira de Letras.

A escolha da capital paraense tem motivo de sobra: “Belém é uma cidade que possui prédios de grande relevância histórica para o patrimônio material”, diz o músico e produtor cultural Pablo Castellar, diretor e coordenador artístico do Fima.

Belém também já está prevista na terceira etapa do festival, ainda sem data prevista, cujo tema será teatros históricos brasileiros, claro, com o Theatro da Paz.

Durante a apresentação de amanhã, que traz no repertório peças de compositores como Rossini, Guerra-Peixe, Villa-Lobos e Waldemar Henrique, a música se reveza com os comentários de Aldrin Figueiredo, enfatizando tanto as características históricas do palácio, e os acontecimentos a que ele está ligado, como também sobre o arquiteto Antonio Landi.

“O repertório musical propõe uma viagem pelo espaço, onde a gente constrói um diálogo musical com a arquitetura e com a história desse local. Os comentários do Aldrin são intercalados com as interpretações da Carolina Faria e da Ana Maria Adade, tentando criar uma experiência multissensorial”, explica Castellar.

O historiador Aldrin Figueredo pontuará o concerto com informações sobre o Palácio. FOTO: DIVULGAÇÃO
O tempo recontado em música

O programa escolhido para o concerto evoca a relação do Palácio Lauro Sodré com a natureza amazônica e com os rios, ao mesmo tempo em que busca acompanhar as mudanças históricas pelas quais passou. Afinal, como lembra Pablo Castellar, a edificação do século 18 permanece funcional na vida da cidade.

O concerto abre com “Mãe d’Água”, composição de César Guerra-Peixe, e segue com uma música do tempo em que o palácio abrigava a primeira residência feita de taipa-de-pilão – a ária “Son tutta duolo” da ópera “La donna ancora è fedele”, de Alessandro Scarlatti.

Há ainda a ária “Divinités du Styx”, da ópera “Alceste”, de Christoph Willibald Gluck, uma obra escrita em 1767, mesmo ano em que se iniciaram as obras do palácio em estilo clássico italiano.

Já o recitativo “Ó Pátria” e a ária “Di tanti Palpiti”, da ópera “Tancredi”, de Gioacchino Rossini, realçam um patriotismo que aflorou principalmente depois do país ter sido alçado a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 16 de dezembro de 1815.

Desse período, o programa ainda apresenta a modinha “Beijo a mão que me condena”, do Padre José Maurício Nunes Garcia, o mais importante compositor brasileiro do fim do século 18 e início do 19.

A Cabanagem não fica de fora dos registros. Para lembrar esse momento, o duo musical tocará “Matinta Pereira”, de Waldemar Henrique.

E entrando no fim da segunda metade do século 19 até o início do século 20, o concerto celebra os salões de Belém e o advento do ciclo da borracha, quando o então governador Augusto Montenegro reformulou toda a primeira parte do palácio, dando-lhe as características do ecletismo, ao gosto da Belle Époque.

Para tanto, Carolina e Ana Maria seguem com “Uma Lembrança”, de Henrique Gurjão, “Un Sogno”, de Meneleu Campos, e a canção camerística de Carlos Gomes, “Noces d’argent”.

A mezzo soprano Carolina Faria e a pianista Ana Maria Adade dão concerto especial do 2º Fima em Belém. FOTO: Suane Barreirinhas/divulgação
MULTIPLATATORMAS

Assim como todos os concertos realizados pelo Fima, o diretor lembra que o conteúdo da apresentação em Belém em breve estará disponível no site do projeto. “Todo conteúdo é filmado no formato tradicional e também em 360°, para quem tem óculos de realidade aumentada”.

“Além disso, disponibilizamos versões em Libras e com audiodescrição, para que tudo seja o mais acessível possível”, completa Castellar. Junto com isso, ainda há uma websérie em que o público pode acompanhar como são feitas as escolhas dos programas musicais e um podcast com os artistas envolvidos no projeto.

Realizado pela empresa de Castellar, a Artemundi Produções Culturais, com patrocínio do Instituto Cultural Vale, o Fima acabou ganhando desdobramentos, incluindo atividades de educação patrimonial nas escolas por onde passa, ou aulas voltadas para a música, como as masterclasses de canto lírico que serão ministradas aqui em Belém, na quinta-feira, 19, por Carolina Faria, com o acompanhamento de Ana Maria Adade.

“A ideia com esse festival é a gente criar caminhos, através da música e da arquitetura, para a construção de um futuro onde as comunidades possam compreender a importância desses patrimônios da sua cidade”, diz Castellar.