Festa da Chiquita reúne comunidade LGBTQIAPN+ após Trasladação

TEXTO: WAL SARGES

Há mais de quatro décadas, a Festa da Chiquita, em Belém, representa as vozes de pessoas que foram cerceadas em suas histórias de vida e que no evento encontram um espaço de fala e de pertencimento. Essa é a proposta da festa idealizada pelo icônico Eloi Iglesias e que está em sua 46ª edição. Para fortalecer o movimento, se apresentam na madrugada de sábado para domingo, na véspera do Círio de Nazaré, na Praça da República, logo após a Trasladação, com atrações que vão do carimbó a  drags queens. Entre os nomes confirmados, estão Gabiru Carimbó Selvagem, Carimbó Som de Pau Oco, Xirley Tão e apresentações da casa de drags Flores Astrais, com momentos de bate-cabelo e muito suingue. Bruno Ferraz, Roberta Brito e Carlinhos Gutyerrez são alguns dos destaques da programação que conta ainda com uma “Tranviadação”.

A expectativa de Eloi Iglesias é de fazer uma festa de pouco mais de quatro horas. “A gente começa com a Transviadação, após as 2h da madrugada, depois que a Santa chegar na casa dela. Uma das novidades é esse abraço da Varanda da Fafá, que foi fundamental para gente poder trabalhar com certo respiro”, disse o artista, durante uma coletiva de imprensa na sexta-feira, citando a parceria com o projeto de Fafá de Belém que ajudou a viabilizar o evento.

“A gente mudou um pouco o formato da produção, porque sempre trabalhamos muito com voluntários, e este ano a gente conseguiu colocar uma equipe que nos deu respaldo, com mídia, rede social, que a gente não tinha essa pegada. Todo ano tem aquelas surpresas de última hora. A gente sabe que tem algumas celebridades que já confirmaram que vêm, como o humorista Paulo Vieira, que deve começar essa nova temporada [do programa “Avisa Lá Que Eu Vou”] dele passando pelo Círio, que vai ser uma coisa legal e que é potente”, festeja Eloi. Em entrevista ao DIÁRIO, Paulo Vieira confirmou que a Chiquita está no seu roteiro de gravações no Pará.

O autor de “Pecados de Adão” diz que a Chiquita quer mostrar o lado profano do Círio de Nazaré, mas também que a comunidade LGBTQIAPN+ também tem fé. “Nós temos a forma de fazer a festa e de demonstrar a nossa fé, é uma maneira muito particular de nos expressar. É a devoção dos artistas, das pessoas de rua, daqueles que colocam toda a sua exuberância ali e acolhem a festa de alguma maneira”, analisa.

Esta edição conta com um palco diferenciado e um tema que quer colocar a comunidade LGBTQIAPN+ no centro, com o Red Carpet, destaca o artista. “É um palco grande e belíssimo. Temos uma luz boa, uma decoração lindíssima e o tema da festa deste ano é o Red Carpet [embora tenhamos conseguido apenas um tapete azul, em vez do vermelho]. Nós sempre criamos temas muito políticos e vamos fazer um tapete porque é uma coisa que dá alegria, glamour, remete a essas grandes produções. A gente começou a descobrir que o tapete vermelho é também política”, diz Eloi.

Um tema que fala de direitos humanos, destaca Eloi Iglesias. “Primeiro precisamos quebrar os armários, depois, saímos deles e resolvemos ocupar os lugares. Ocupamos as faculdades, a Academia e os lugares de destaque na sociedade. A gente ganhou espaço, mas também temos que continuar lutando, porque muitas das vezes contratantes querem que o gay, a lésbica e o trans se encaixem nos moldes deles e não nos nossos. Trabalho é para todo mundo”, considera ele.

O artista conta que a aposta para o grande momento da festa é um figurino para lá de especial, com o famoso troféu concedido na Chiquita. “Como estamos falando de glamour, tem que ter o Veado de Ouro, até porque a gente fala que veado tem de todos os tipos, de todas as cores, de todas as raças, mas Veado de Ouro, só existe um”, conta o cantor aos risos.