No mundo encantado de Fernanda Torres, nas alturas das galas hollywoodianas, existe espaço para fantasias de Carnaval, jogos de curling e papo sério sobre ditadura, além de momentos mágicos, como um abraço apertado na popstar Ariana Grande.
“Ela tem um senso de humor incrível, ela é a patricinha de Beverly Oz”, disse Torres à Folha de S.Paulo sobre Ariana, protagonista de “Wicked”, após um encontro glorioso das duas no tapete vermelho do Festival de Cinema Internacional de Santa Barbara, uma cidade costeira a 150 km de Los Angeles.
As duas atrizes receberam um prêmio do festival pela carreira, chamado Virtuoso, ao lado de outros seis atores americanos, quase todos indicados ao Oscar, na noite de domingo.
De vestido longo Chanel, Torres era a única a falar inglês como segunda língua. E, mesmo assim, trouxe uma desenvoltura deliciosa. Foi marcadamente o oposto de suas colegas de prêmio, em especial Selena Gomez que, apesar de tão expansiva em “Emilia Pérez”, surgiu acanhada e monossilábica. Até Mikey Madison, a stripper desbocada de “Anora”, parecia tímida.
Mas para Torres, indicada ao Oscar por “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, não é competição. Ela é generosa, engraçada e naturalmente a alma da festa. “Foi um milagre eu ter sido indicada. É um ano tão incrível para mulheres no cinema. Deveriam ter dez lugares na categoria para serem justos com a gente”, disse.
A brasileira, assim como os outros premiados, foi entrevistada sozinha no palco por alguns minutos, na frente de uma plateia lotada. Torres brincou que, depois da surpresa da vitória no Globo de Ouro, não teve “coragem” de voltar ao Brasil.
“Estou evitando, escapei para Lisboa”, riu, engatando uma história sobre o tamanho da sua popularidade no país, que a fez virar fantasia de carnaval.
“A noite do Oscar vai ser Carnaval no Brasil, vai ser insano”, disse. “E uma coisa maravilhosa que está acontecendo, e isso é o pico da fama no Brasil, é que virei fantasia. Agora eu tenho muitas de mim pelas ruas. É muito orgulho.”
Inundada de aplausos calorosos, ela interrompeu para tentar seriedade. “Mas é um filme sério, vamos voltar ao filme”, pediu.
O papo verteu então para a mãe Fernanda Montenegro, que faz a personagem de Torres na velhice, ao final do filme. O que ela achou de ser convidada para trabalhar com a mãe? “Quando Walter me convidou, achei que ele queria que eu trabalhasse no roteiro”, disse. “Fiquei muito comovida em ser chamada para o papel.”
Ao ser questionada porque ficou tanto tempo longe do cinema, falou do seu sucesso na TV com as séries de comédia “Os Normais” e “Tapas & Beijos”, que tomaram sua vida.
“Fiquei tão popular que achei que eu já era para o Walter. Mas o Walter não vê televisão”, disse, arrancando risadas do público. “Ele ainda tinha aquela memória minha antiga”, continuou, se referindo a quando trabalharam juntos em “Terra Estrangeira”, de 1995.
Salles convidou Torres para o papel de Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, ex-deputado que foi assassinado durante a ditadura militar. “Achei que isso [um papel dramático] nunca mais aconteceria na minha carreira. E o Walter me salvou para o drama de novo. Estou de volta”, declarou.
Ao final do evento, todos os atores voltaram ao palco juntos para responder uma série de perguntas leves, como qual esporte gostariam de competir nos Jogos Olímpicos, já que o filme “Setembro Cinco”, indicado ao Oscar, se passa nos Jogos de Munique de 1972.
Torres não teve dúvida: “Curling”, respondeu, mais uma vez fazendo o público rir. Ao seu lado, o ator John Magaro, de “Setembro Cinco”, se juntou: “Eu também, porque sou um grande varredor”, disse. E a brasileira não perdeu a deixa: “Mas então vamos montar um time!”