MÚSICA

Felipe Cordeiro lança quarto álbum

Felipe Cordeiro assina 14 das 16 composições e toda a produção do novo álbum.  FOTO: RODOLFO MAGALHÃES/DIVULGAÇÃO
Felipe Cordeiro assina 14 das 16 composições e toda a produção do novo álbum. FOTO: RODOLFO MAGALHÃES/DIVULGAÇÃO

“Não haverá música popular brasileira no século 21 sem considerar a música da Amazônia”. Essa é uma das falas contundentes do cantor, guitarrista e compositor paraense Felipe Cordeiro em seu quarto álbum, “Close, Drama, Revolução & Putaria”, que chega às plataformas nesta quarta, 28, celebrando a música do Norte do país, com uma fusão de estilos populares amazônicos ao pop, e trazendo junto consigo um time estrelado de participações especiais.

Gaby Amarantos, Will Love, Valéria Paiva (Fruto Sensual), Maderito, Manoel Cordeiro, Arraial do Pavulagem, Suraras do Tapajós, Luê, Marcelo Nakamura e Murilo Modesto, Zaynara, Victor Xamã, Aqno, Layse Rodrigues, Daniel ADR, Patrícia Bastos, Cronixta e Ariel Moura desfilam ao lado do cantor e guitarrista nas faixas do novo álbum. Felipe Cordeiro assina toda a produção, assim como a composição de quatorze das dezesseis músicas, em que faz uma imersão pelo território político e estético da cultura e da festa amazônicas.

Trabalho reflete maturidade criativa

“O que difere esse trabalho dos outros? Acho que, primeiro, é um disco mais maduro e mais corajoso. Não é que eu não tenha sido corajoso em outros álbuns, sempre me senti livre para falar o que eu queria. Mas, mais do que nunca, muitas questões que gritavam e gritam em mim vêm com muita força nesse álbum, especialmente a questão da Amazônia. A gente vive uma época de muito ‘Amazon Money’, que é inclusive o nome da faixa que abre um álbum. Um interesse muitas vezes hipócrita e oportunista em relação à Amazônia. Quando, na verdade, falar de Amazônia sempre vai ser algo muito sério e que invoca muita legitimidade”, diz o cantor, que sobe ao palco do Sesc Belenzinho, em São Paulo, na próxima sexta, 30, para apresentar o novo álbum, “um show grande, com projeções, balé, que tem uma força visual”, conta.

Felipe diz que “Close, Drama, Revolução & Putaria” reflete a sonoridade que ele vem desenvolvendo ao longo dos últimos 15 anos, “uma música amazônica, brasileira, latino-americana, digital desde ‘Kitsch Pop Cult’ (2012), e que nesse álbum vem com muita força.”

Segundo o artista, as palavras escolhidas para batizar o álbum vêm da observação do que está se vivendo, quase como “tags” numa nuvem de palavras. “A gente vive uma perspectiva muito tensa, de muito mal-estar social, de uma certa perspectiva de fim de mundo, ou de muitos valores ligados aos mundos antigos. E uma das respostas que estão dando para isso no dia a dia, no comportamento das pessoas, é uma autoafirmação da individualidade, que é o close, uma autoestima valorizada. O drama, porque tem essas questões de tensionamento social, ecológico. Revolução, porque o mundo de hoje exige um pensamento revolucionário na medida em que, ou a gente transforma tudo, ou já era tudo. Ou o sistema muda de cabo a rabo, ou o aceleramento do fim do mundo acontecerá”,vaticina.

Sons com a temperatura da Amazônia

A liga para tudo isso está na putaria, vinda da quentura dos ritmos que Felipe traz para músicas como “Lambada Braba”, “Cumbia do Amor”, “A Lambadeira” e “Muita Onda”. “É putaria, porque é uma música de festa, e música de festa é latino-americana, o que envolve corpo, dança, autoafirmação de comunidades, de liberdades, envolve tudo.”

É em construir a ponte sobre essa riqueza que vem da alegria, de uma outra forma de se relacionar com o mundo, rumo a essa transformação necessária, que Felipe está interessado.

“Acho que a grande inspiração é essa, uma vontade de fazer música brasileira do século 21 pautada por um olhar amazônida da América Latina e do Brasil, que implica em dizer que o lugar em que eu nasci, que eu vivi e que eu vivo, é um lugar que tem muito a contribuir para essa visão de um novo Brasil. Acho que essa é a grande expressão do álbum, né? Isso se conecta com as festas latino-americanas, e com uma vontade também de conectar essa região a uma espécie de macronarrativa da música brasileira, porque eu acho que outra armadilha do capitalismo é botar a gente em caixinhas, em segmentos muito específicos”, diz o músico.

Amazônico, brasileiro, latino-americano

Se tem sido uma voz ativa para falar da necessidade de visibilizar a cultura amazônica como uma força poderosa dentro da matriz brasileira, Felipe também espera que o Brasil se enxergue mais conectado dentro das suas diferenças, a diversidade como uma potência.

“Eu tenho me esforçado para fazer um duplo movimento, que é afirmar minha comunidade nortista e ao mesmo tempo fazer com que ela faça sentido para todo mundo, de todo lugar do Brasil. Imagino que para as pessoas que não são do nosso Brasil, às vezes não entendem qual é o elo, entre a cultura de lá, do Norte, do litoral, do Sudeste, quando, na verdade, elas são frutos de histórias diferentes, mas têm elos em comum. Não só a diáspora das populações negras, mas a própria conexão entre os originários e as músicas urbanas, periféricas, contemporâneas. Todas se conectam no Nordeste, no Sudeste. E claro, o tecnobrega, a lambada, o marabaixo, a música black do Amapá, e por aí vai. Acho que essas são as grandes inspirações, a vontade de colocar a Amazônia na pauta do debate cultural do Brasil do século 21”, diz Cordeiro, voltando ao começo: não há música brasileira sem a música amazônica.

E não há perspectiva de transformar radicalmente o Brasil sem ter a Amazônia nesse fluxo, insiste. “Esse Brasil do século 21, para ser um país mais democrático, não só ecologicamente sustentável, mas culturalmente renovado e revolucionado, precisa entender as informações que vêm da Amazônia”.

*Com reportagem de Aline Rodrigues