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Feira do Livro terá foco na Amazônia e meio ambiente

As vozes dos homenageados, Heliana Barriga e Salomão Larêdo, guiarão o primeiro dia da Feira. FOTO: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.
As vozes dos homenageados, Heliana Barriga e Salomão Larêdo, guiarão o primeiro dia da Feira. FOTO: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Literatura, música e festa em um só lugar, é o que aguarda o público com a realização da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que ocorrerá de 9 a 17 de setembro, no Hangar Centro de Convenções, em Belém. A 26° edição do evento foi lançada ontem, no Teatro Gasômetro, com a presença dos dois grandes expoentes da literatura paraense homenageados este ano – o escritor e jornalista Salomão Larêdo e a contadora de histórias, escritora e compositora Heliana Barriga.

Rodas de conversas, saraus, debates, apresentações de teatro e música, além da exibição de cinco programas de TV ao vivo vão compor a programação dos oito dias de feira, em três espaços simultâneos: Arena das Artes, Arena Multivozes e Arena Amazônia. Na parte musical, entre as atrações confirmadas, estão o infantil Mundo Bita, Linn da Quebrada, Chico César, Gaby Amarantos e  a cantora, compositora, atriz, autora e ativista indígena Kaê Guajajara. Haverá ainda sessões de autógrafos no Ponto do Autor, empreendimentos do segmento de artesanato e os ilustradores credenciados no Beco do Artista.

VENCEDOR DOS PRÊMIOS OCEANOS E JABUTI ENTRE OS CONVIDADOS

Entre os nomes que estarão presentes nos debates, estão o escritor baiano Itamar Vieira Junior, premiado com o Jabuti e Oceanos por seu romance “Torto Arado”; o criador de conteúdo digital potiguar Ivan Baron, ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, que se tornou mais conhecido  ao compor o grupo escolhido pelo presidente Lula para subir a rampa do Planalto com ele no dia da posse; a jornalista e escritora paraense Cristina Serra, que durante 26 anos integrou a equipe da TV Globo, nome sempre presente nas discussões da pauta política e ambiental; a escritora santarena Monique Malcher, vencedora do Prêmio Jabuti em 2021; o cientista político Ricardo Abramovay, professor da Universidade de São Paulo, pesquisador sobre a Amazônia e autor de livros como “Muito Além da Economia Verde”; e Amara Moira, escritor(a), travesti e pesquisadora da Universidade de Campinas, autora de “E Se Eu Fosse Puta”.

Diversa, a edição propõe a valorização do estado do Pará, afirma a titular da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), Ursula Vidal. “É um momento de festa para o Governo do Estado do Pará, a nossa 26ª Feira Panamazônica do Livro das Multivozes, que homenageia dois escritores do interior do Estado, uma vinda de Castanhal, a nossa querida Heliana Barriga, e o nosso Salomão Larêdo trazendo essa força do nosso Rio Tocantins, de Cametá, com essa identidade amazônica. Estamos muito felizes e acreditamos que será uma feira que renova esse protagonismo amazônico nas falas dos territórios, na valorização do que se produz culturalmente no nosso Pará”, afirma Ursula, que no lançamento esteve ao lado ainda do presidente da Fundação Cultural do Estado do Pará, Thiago Miranda, do secretário adjunto de Estado de Educação, Patrick Tranjan, da secretária municipal de Educação de Belém, Araceli Lemos, e da vice-reitora da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Ilma Pastana.

CRED LIVRO VAI BENEFICIAR MAIS DE 32 MIL SERVIDORES

Outro ponto destacado pela secretária foi o incentivo proposto pelo evento aos fazedores de cultura. “A Feira do Livro é um espaço de encontro e de transversalidade de políticas públicas. Nós temos aqui uma valorização da política de acesso ao livro e à leitura, com o nosso Cred Livro, por meio da Seduc, da Uepa, da própria Semec [Secretaria de Educação de Belém], mas nós temos também a música e o teatro presentes, além de várias expressões culturais do nosso artesanato, de ilustradores, lançamento de livros”, adianta.

Este ano, 32.733 mil servidores públicos vão ser contemplados com o Cred Livro, 23 mil deles servidores da rede estadual de ensino. Cada um deles terá crédito de R$ 200 para adquirir livros durante a feira. Somente a partir da Secretaria de Estado de Educação, significa um investimento de R$ 4,6 milhões. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Belém (Semec) estima contemplar mais de sete mil servidores do magistério, técnicos administrativos e de apoio operacional, totalizando cerca de R$ 1,3 milhão investidos, enquanto a Uepa investiu R$ 807 mil para garantir créditos de R$ 200 a R$ 350.

De acordo com Ursula Vidal, a Feira é o evento com a maior circulação de pessoas realizado no Pará – foram mais de 70 mil pessoas somente no encerramento do evento, no ano passado. E a expectativa é que se mantenha assim. “E este será um espaço de ressonância para essas vozes que protagonizam esse novo modelo de economia verde, sustentável e com justiça social”, destaca a titular da Secult.

FEIRA VALORIZA AUTORES PARAENSES

Com os olhos voltados para a Amazônia, a secretária diz que o evento deve refletir em sua programação a escolha por focar na Amazônia verde, mas ainda urbana. “A Feira é um lugar de discutir os nossos desafios e de apontar caminhos para uma Amazônia mais justa, de justiça social, de sustentabilidade, de uma economia verde. Este ano, nós vamos destacar as Vozes da Democracia, do Clima, do Marajó, as Vozes da Baixada e essa Amazônia da urbanidade. Entendemos que quando nós trazemos essas vozes para a centralidade da programação da Feira, nós estamos dando protagonismo para essas pessoas que produzem cultura, que falam sobre os seus desafios, mas apontam caminhos”, avalia a secretaria. A programação ainda inclui as Vozes da  Diversidade e Inclusão, dos Escritores Paraenses e da Cultura de Paz.

“A Amazônia está no centro das discussões planetárias. Nós entendemos que ela não é um problema, é uma solução. Nós temos uma oportunidade extraordinária de inaugurar o novo modelo de governança com a valorização do conhecimento, da ciência, das formulações, do conhecimento tradicional e ancestral que tem na Amazônia o seu território”, completa Ursula.

O evento também terá seus desdobramentos ampliados nas festas literárias realizadas fora da capital. “Além de Belém, estão incluídas outras cidades como Marabá, Santarém, Altamira e Bragança, onde já realizávamos festas literárias, e nós vamos ter também em Breves e em Cametá, que é a cidade do nosso homenageado, o nosso querido Salomão Larêdo”.

Com mais de 50 obras literárias publicadas, Salomão Larêdo é um dos escritores paraenses com produção mais profícua. Em todas elas, a região, sua cultura, o modo de ser do homem amazônico e seu ambiente  estão presentes. Aos 74 anos, ele celebrou a homenagem.

“Eu fiquei muito feliz com o convite do governador de valorizar o que é nosso, de valorizar a gente do interior, porque eu venho do mato, da beira do rio. É importante que a gente esteja não só valorizando a capital, mas sobretudo o interior, quanto mais a gente interiorizar, melhor, porque nós precisamos conhecer a Amazônia, a nossa cultura e valorizar o que é nosso”, ressalta o escritor.

Representantes da Secult, FCP, Seduc, Semec e Uepa participaram do lançamento da Feira Pan-Amazônica do Livro. FOTO: CELSO RODRIGUES

CONHECER AS VOZES LOCAIS LEVA AO DESENVOLVIMENTO

Para Larêdo, quanto mais feiras e oportunidades de dar a conhecer os autores locais, melhor para o desenvolvimento do Estado. E avisa: continua trabalhando intensamente. “Estamos com 54 obras publicadas e ainda vem mais coisa por aí, sempre no sentido de valorizar o que é nosso e as minorias oprimidas, a mulher, o indígena, o negro, gente da periferia, os que não têm voz, os que não aparecem, os que são invisíveis. Nós precisamos tornar visível a gente da Amazônia, o autor da Amazônia, o escritor da Amazônia, o artista da Amazônia. Então, nesse sentido, as minhas obras falam realmente disso, porque eu amo o meu lugar, eu escrevo sobre as coisas do meu lugar, a cultura do meu povo, porque a partir disso, eu estou falando da condição humana do homem universal”, lembra.

Nesta Feira Pan-Amazôncia do Livro e Multivozes, o autor relançará a obra “Remos de Faia: As Mil e uma Noites Amazônicas”, lançado originalmente em 1991 e que estava esgotado. “É um romance bonito. Ele cuida das coisas da Amazônia, onde eu vou falar da relação humana entre nós, da valorização do pessoal do interior, a cultura interior do homem da Amazônia. São quase 300 páginas. A edição está muito bonita”, elogia o escritor.

Heliana Barriga, também homenageada este ano, tem quatro décadas de atuação na contação de histórias, na composição musical e na literatura voltada para o público infantil, com obras publicadas como “A Abelha Abelhuda” e “A Perereca Sapeca”. Ela diz que ainda se sente estranha por ser reconhecida na Feira do Livro. “Porque eu sou do trabalho, da renúncia de muitas coisas, para poder trabalhar com a literatura e a poética. A maior poética é você plantar uma semente que dá fruto para você ser saudável”, compara a poeta e cordelista, que apresentará sua obra “Mala sem fundo: Um lugar de Inventar”.

Ela conta que tudo a inspira para escrever. “São 40 anos ou mais me dedicando, mesmo assim não tem hora para escrever nem nada. Eu escrevo no início da manhã que é, como dizem, a hora em que Jesus Cristo rezava. Sou capaz de escrever não sei quantas páginas sob o sol nascendo todos os dias. É interessante ainda abordar o caminhar de uma autora e a sua relação nas escolas, quando penso na relação do meu livro nas escolas. Acredito que cheguei no momento certo quando renunciei a algumas coisas para me dedicar à poesia”, comenta Heliana Barriga, que é Embaixadora das Infâncias do município de Belém, título concedido pelo Unicef.

*com reportagem de Wal Sarges e informações de Agência Pará

PROGRAME-SE

26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes

Quando: 9 a 17 de setembro

Onde: Hangar Centro de Convenções & Feiras da Amazônia – Av. Dr. Freitas, s/n – Marco

Quanto: Entrada Franca

Informações: https://feiradolivroedasmultivozes.com.br/programacao