Wal Sarges
Tradicional no período do Círio, a Varanda de Nazaré deste ano propõe uma edição diferenciada, com a realização de um fórum para a discussão sobre a biodiversidade, sempre tendo como foco a Amazônia. A iniciativa é da cantora Fafá de Belém, que reunirá mais uma vez diversas personalidades da cultura e da arte, tais como a atriz Dira Paes e a cantora Dona Onete.
Desta vez, a novidade é que terão convidados mais ligados ao meio ambiente, tais como Natascha Penna, turismóloga e pesquisadora paraense, e Eugênio Pantoja, diretor de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia-Ipam. O encontro será nesta quarta-feira, 4, às 12h, com abertura a partir de 14h, no Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, em Belém.
O fórum “Varanda da Amazônia” é inédito e objetiva discutir a biodiversidade amazônica em profundidade, abordando desafios e oportunidades por uma variedade de perspectivas. Conta com curadoria da especialista em estratégia criativa e professora da Fundação Dom Cabral, Erlana Castro, que selecionou nomes conceituados do segmento para discutir valores, pluralidade, cultura, meio ambiente e diversidade.
Um dos destaques do evento será o painel “A identidade nacional dos povos amazônicos sob o olhar feminino”, mediado por Fafá de Belém e com a participação da atriz e apresentadora Dira Paes, da cantora e escritora paraense Dona Onete, e de Joanna Martins, especialista em alimentos amazônicos e diretora da marca Manioca, além de Eugênio Pantoja, do superintendente do Sebrae Pará, Rubens Magno Jr, e outros nomes.
“A Varanda, desde que foi criada, sempre tem internamente um tema. A primeira, há 13 anos, foi o camarote ‘Bom Dia, Belém’. Queremos entrar na sua casa e cumprimentar o romeiro que todos nós somos. A gente vai homenageando fatos, influências, lugares, o paraensismo e traz à tona quem somos”, conta Fafá, dizendo que o espaço já recebeu outros temas, como a ilha do Combu, a Belém de herança portuguesa, a homenagem aos 100 anos de Ruy Barata, na pandemia, no Círio completamente virtual, além do centenário da Semana de Arte Moderna, em 2022.
RESPONSABILIDADE
Para este ano, Fafá de Belém conta que tinha pensado em trazer o tema da Cabanagem, mas percebeu que a biodiversidade traria reflexões atuais. “Essa é uma responsabilidade de cada um de nós que deve ser cobrada dos órgãos de governo, mas somos responsáveis pelo lixo, pelo desenvolvimento sem medida, pelos prédios que fecham a ventilação nas nossas casas. Cada um de nós é responsável pelo calor que está fazendo em Belém e cada um é responsável pela morte da samaumeira, e ainda, quando não preservamos o que é nosso. A sustentabilidade e a biodiversidade começam nesse ponto”, analisa.
O fórum está sendo pensado há muito tempo, diz a cantora. “Este fórum já vinha sendo desenhado há dois, três anos, ganhou força com o convite do Ipam para eu ser embaixadora da COP [Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima] no Egito. O Eugênio tem sido um parceiro espetacular, e é muito honroso para mim poder falar do meu jeito. Não sou cientista, mas sou amazônida e defendo que nós temos de ter voz porque nós temos o lugar de fala”, considera Fafá.
Pensando no pluralismo, foi criado o painel da mulher da Amazônia. “Escolhemos quatro gerações de mulheres empreendedoras que saíram de Belém, mas sabem que toda a nossa base é essa região de força do poder feminino. Vai ser interessante essa roda de conversa de mulheres empreendedoras que acreditam na sua terra como vetor e motor impulsionador para o mundo”, destaca.
Ela ainda detalha esse momento que contará com a presença de Dira Paes, Dona Onete e Joanna Martins. “Dona Onete é um patrimônio imaterial total da gente, uma mulher fabulosa que começou a mostrar suas composições aos 70 anos e não acredita em tempo. Dira Paes, essa grande estrela nossa que está nas telas do mundo, mas nunca deixa de trazer o seu olhar simples caboclo. Joanna Martins, por sua vez, é herdeira do nosso grande [chef] Paulo Martins, um homem que viajava com as panelas e que já clamava que o tucupi seria o shoyu do século 21 e está sendo. E eu [quem faz a mediação da conversa], essa mulher no meio do caminho, de 67 anos, que quando saí para ser profissional da música e da palavra, passei a usar o nome da minha cidade e levo o Pará onde quer que eu esteja, cantando fado, carimbó, Chico Buarque, Paulo André e Ruy Barata, Dona Onete”.
E cada vez mais Fafá se diz emocionada ao olhar para a Varanda. “É uma filha pré-adolescente minha, tardia, mas que é controlada, cuidada, ouvida e educada, além de ser sempre cercada por pessoas de muita confiança. A Varanda é o legado que vou deixar para a minha cidade, o meu estado e para a minha família. Já temos a TV Varanda sob o comando da minha filha, Mari Belém, junto com [o paraense e pesquisador de carnaval] Milton Cunha e com oito influenciadores poderosos de Belém, falando para a cidade através do olhar deles, mostrando curiosidades. É um passo muito grande de comunicação com uma Belém muito jovem, interessada e com um olhar crítico que pode agregar cada vez mais valor ao nosso olhar”, conclui Fafá.