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Exposição traça panorama das artes visuais na região de Carajás

Fotografia de Ícaro Matos presente na mostra FOTO: ícaro matos/divulgação
Fotografia de Ícaro Matos presente na mostra FOTO: ícaro matos/divulgação

Até o final de abril, a Casa de Cultura de Canaã dos Carajás expõe um apanhado da produção visual contemporânea na região, em “Carajás Visuais: Novos Olhares”. A mostra coletiva encerra o projeto “Canaã, berço da cultura criativa”, realizado pelo Pontal Instituto Cultural, que ao longo de 2022 mapeou o cenário cultural e artístico da cidade, e já teve outros desdobramentos relacionados à música, teatro e cultura popular.

Unindo linguagens como muralismo, videoarte, esculturas e instalações, a exposição integra artistas no início de sua produção artística a nomes consolidados nas artes visuais.

“Canaã é uma cidade superjovem, então a ideia não é ter um recorte curatorial. Porque quando se define isso há negação de algumas linguagens, você faz escolhas e abre mão de algo. Nossa ideia foi o contrário, foi inclusiva, somar o que a gente encontrasse”, explica o artista visual Marcone Moreira, que assina a expografia, curadoria e montagem da exposição. Ele também preside o Pontal Instituto Cultural.

“Fomos em busca de artistas para que, nesse processo, eles se conhecessem, trocassem. A arte se alimenta de arte, então ver a produção é importante. Por isso a mostra também reúne artistas de Parauapebas e Marabá, que têm um polo de artes visuais bastante consistente já”, explica Marcone.

Muitos desses artistas participantes vêm do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Sudeste do Pará-Unifesspa, que tem ajudado a movimentar a produção e a discussão sobre arte na região. Entre eles, os fotógrafos Elson Silva e Valeska Almeida, alunos da Unifesspa no polo Canaã dos Carajás, Núbia Suriane, de Marabá, e Ícaro Matos, de Parauapebas.

Também há nomes como Afonso Camargo, uma referência paras os artistas de Parauapebas, lembra Marcone Moreira, e o projeto de cerâmica sediado em Parauapebas chamado Mulheres de Barro. Há ainda artistas convidados como o próprio Marcone, maranhense de nascimento que se fixou e iniciou sua produção em Marabá, e que há alguns anos retornou à cidade após um período transitando por outros lugares; como Armando Queiroz, atualmente morando na região de Carajás; e Eder Oliveira, cuja obra, hoje reconhecida para além as fronteiras brasileiras, evoca a identidade do homem amazônico, com forte teor de crítica social.

A intenção, diz Marcone, era mesmo impactar outros artistas com essa obra. “Percebo que principalmente na região de Parauabepas há muito uma persistência no desenho, que às vezes tem uma qualidade técnica bastante expressiva, alguns chegam ao realismo. Mas a técnica pela técnica, na arte contemporânea, não se sustenta. Como o Eder parte de uma técnica clássica do desenho – tem inclusive, na mostra, uma série de estudos em desenho junto com a pintura -, achei interessante convidá-lo, para mostrar como não é só um meio, mas como você agrega conceito, como esse trabalho pode ser potente, independente da linguagem”, destaca o curador.

Para Marcone, todo o processo da exposição, desde o mapeamento dos artistas até as ações feitas com o público desde que ela foi aberta, em 27 de fevereiro, vem sendo bastante rico. “Os professores da Unifesspa já se reuniram para fazer aulas e visitas guiadas, produzindo debates dentro da exposição. Muitos desses artistas estão expondo pela primeira vez. Há, por exemplo, alguns que vieram do Núcleo de Iniciação Cultural mantido pela prefeitura de Canaã dos Carajás, que reúne crianças e jovens, em aulas de desenho, pintura e escultura, tem esse recorte desses garotos. E outros frutos virão naturalmente”, avalia Marcone.

Entre eles, acredita Marcone, é construir um pensamento mais consciente das realidades regionais, a partir da arte. “É importante pensar essa relação com o meio para exercer o pensamento sobre o que está ao nosso redor, e não aceitar o clichê que é colocado de fora para dentro”, destaca o curador.

Projeto propõe a valorização das identidades regionais

Todo o projeto é realizado com o apoio do Instituto Cultural Vale, a partir da Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, com o propósito de valorizar a produção de artistas visuais locais. Por isso, além da mostra, serão realizados um curso de formação em Empreendedorismo Cultural para artistas e uma palestra sobre Artes Visuais e Sustentabilidade.

“A exposição ‘Carajás Visuais’ e as atividades formativas que a acompanham são iniciativas de valorização da produção artística existente no sudeste paraense, onde os artistas expressam seus talentos por meio da multiplicidade de olhares e diálogo com o patrimônio natural e cultural da região. O processo de curadoria e a participação de alunos e docentes do curso de Artes Visuais da Unifesspa mostra que o fazer artístico nesse trecho da Amazônia segue o seu caminho”, afirma o diretor da Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, Randy Rodrigues.

A valorização de artistas locais e das identidades regionais também marca outra exposição aberta em fevereiro em outro polo ligado ao Instituto Cultural Vale, o Centro Cultural Vale Maranhão, em São Luís. É lá que a mostra “Renunciar/Mobi” destaca um recorte inédito da obra do fotógrafo maranhense Mobi, a partir de um acervo de cinco mil imagens.

“Mobi é um dos grandes fotógrafos brasileiros dentro de uma linguagem muito contemporânea. Ele fotografou São Luís e outros lugares do Maranhão dos anos 1960 até os anos 2000 e a partir de uma ótica muito peculiar que é a partir da experiência real que ele teve dentro da sua classe que era a classe popular, dos pobres e desfavorecidos dentro de uma vivência boêmia da cidade, com os artistas, uma vivência profunda da rua e do espaço público, de tudo que acontecia nela. Então, a linha conceitual da curadoria é indicada pelas próprias fotografias dele, que é obra muito concisa. Ele retrata a cidade a condição de inadequação da cidade. Ele retratou a relação das pessoas têm dentro dessa inadequação”, explica Gabriel Gutierrez, diretor do CCVM, e curador da mostra.

Para Gutierrez, a partir de Mobi é possível ver uma outra Amazônia nesse espaço do Maranhão. “De fato há uma linha da produção cultural que é fruto dessa impressão do clima, das intempéries, da umidade, dessa mata abundante que de fato imprime, com muito relevo, uma cultura amazônica muito harmoniosa. A gente encontra ecos assim com os povos indígenas daqui do Maranhão. Eu diria que são muitas Amazônias, mas Mobi retrata uma Amazônia específica, essa do Maranhão, que é uma Amazônia meio Nordeste meio transição, mas que carrega esse emblema de quase um etos amazônico, vamos dizer assim!”

VISITE

“Carajás Visuais:Novos Olhares”
Quando: Até 30 de abril
Onde: Casa da Cultura de Canaã dos Carajás
Quanto: Gratuito
Informações: casadaculturacanaa.com.br e pelas redes sociais @casadaculturacanaa.