SAIRÉ

Exposição do paraense Alexandre Baena chega à Casa da Fotografia em Belo Horizonte

Exposição de Alexandre Baena chega à Casa da Fotografia em Belo Horizonte

Exposição do paraense Alexandre Baena chega à Casa da Fotografia em Belo Horizonte

A exposição “Sairé – Celebração, Louvor e Disputa dos Botos”, do artista paraense Alexandre Baena, chega nesta terça-feira, 08, às 19h, no prestigiado espaço da CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, em Belo Horizonte, dentro do projeto de itinerância da exposição. São 14 telas que compõem uma narrativa da festa, trazendo elementos tanto da parte sagrada quanto da parte profana dessa manifestação cultural, que já acontece há mais de 300 anos, em Alter do Chão, distrito de Santarém, no oeste paraense.

A CâmeraSete é um importante espaço destinado a exposições fotográficas contemporâneas, estudos e fomento das artes visuais em Belo Horizonte. As telas do artista paraense que chegam até o espaço retratam o rito cultural-religioso e a famosa disputa dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa, o universo da festividade do Sairé, realizada todo ano na Vila de Alter do Chão, no município de Santarém, no oeste do Pará.

“Eu estou encantado com o que a gente está vendo aqui em Minas Gerais, porque a CâmeraSete realmente é um espaço belíssimo e vai ser um momento bem pontual para essa exposição. A CâmeraSete está inserida dentro do complexo do Palácio das Artes, que é um dos maiores complexos culturais da América Latina. A gente ter esse destaque para cá, no mês em que a gente celebra os povos originários, então, a sinergia é excelente”, explica Alexandre Baena, que é fotógrafo, cineasta e documentarista, e tem se empenhado em levar ao Brasil registros da cultura paraense, como a festividade da Marujada de Bragança e a devoção a São Benedito.

O artista diz que a ideia da exposição sobre o Sairé surgiu quando ele estava em Juruti, apresentando a exposição “Juruti – Festival das Tribos”, em circuito nacional em Brasília. “Eu fui convidado pelo deputado Enderson Pinto a fazer uma imersão no Sairé e nós levamos a proposta ao senador Jader Barbalho e então começaram as conversas. O senador Jader pontuou a importância do rito religioso dentro do contexto, que não é somente a disputa dos botos. E é a partir daí que a gente começou a montar essa narrativa de como seria a imersão na festa do Sairé”, relembra.

O senador Jader Barbalho tem uma participação extremamente ativa nesse panorama, destaca Alexandre Baena. “O senador é uma pessoa muito culta, é uma uma verdadeira biblioteca do estado do Pará. No processo de pesquisa, é incrível como ele tem algumas informações de cabeça. E, além de tudo, tem um norte de trabalhar a equidade, não só entre as disputas dos botos, mas colocar o rito e ser bem pontual quando diz que a base é o rito religioso. Então você tem que trabalhar a partir do rito e seguir. Essas pontuações que a gente acaba recebendo, são contribuições que ajudam até a nortear o trabalho. Não é só a valorização e a salvaguarda da cultura do Pará, é também a divulgação como um ponto turístico, porque ele [o senador] tem essa preocupação também do incremento do turismo na região. Então, isso em particular, foi algo que tanto ele quanto o deputado Enderson Pinto frisaram muito, que a divulgação tinha de ser feita em locais pontuais”, destaca.

A mostra elenca momentos bem pontuais do rito até o último dia de peregrinação do Sairé. “O início da narrativa é com o rito religioso, em que nós apresentamos as pessoas que de fato vivenciam os pontos centrais. Então, tem a figura do Divino, o Sairé, o capitão e o mastro. A gente vê a disputa dos botos e esses elementos do rito religioso apresentados no Sairódromo”, detalha Baena, citando alguns dos elementos de destaque nas celebrações.

“E quando a gente vai para aquele teatro a céu aberto, que reforça as narrativas que para eles não são folclore e nem lenda, a história narrada ali reforça a relação dos seres humanos com a mãe natureza, o respeito pelo meio ambiente, a relação que deve existir entre as pessoas e os animais, e toda essa necessidade de se preservar a sua casa e ter realmente a vida como base para tudo. Então, é uma narrativa que conta a lenda do Boto, que vai desde a transfiguração em humano para seduzir a cabocla, a morte do Boto e o ressurgimento dele através da cura dos pajés, a proteção, através dos encantados, das encantarias, e isso tudo apresentado como um grande teatro a céu aberto. E com estruturas, com cores, tudo muito vivo, tudo muito constante”, descreve Baena.

Essa construção é apresentada nas telas. São cinco telas do Sairé, o rito religioso; cinco telas do Boto Tucuxi; e cinco telas do boto Cor-de-Rosa. Uma das telas do rito religioso está em Brasília, disponível no acervo do Senado Federal. “A gente corre o Brasil com 14 telas, que são quatro do rito religioso e dez da disputa dos botos, mas mantendo a narrativa que conta justamente como funciona o Sairé. Ao fazer a curadoria, nós tínhamos imagens fantásticas apresentadas nas danças, e eu tinha que ir para um lado mais técnico para fazer um filtro e montar um roteiro dentro da expografia. Isso me ajudou a fazer esse filtro porque o Sairé é algo muito impactante”, considera.

A FESTA

O Sairé une tradições indígenas do povo Borari, costumes dos povos ribeirinhos e influências religiosas católicas. Na festa, ocorre a busca de mastros às margens do Rio Tapajós, conectando os seres humanos à natureza, ao sagrado e ao imaginário mítico amazônico. No aspecto religioso, o Sairé conta com missas, procissões, rituais e ladainhas. Já no lado cultural, se tem o Festival dos Botos, iniciado em 1998. Nesse caso, a disputa entre os botos Tucuxi (na cor azul) e o Cor de Rosa tem apresentações ao público e jurados. Tudo isso no Lago dos Botos, com a participação de bailarinos, músicos e representantes da comunidade, com componentes como a Cabocla Borari e a Rainha do Sairé.

Uma das novidades da edição da festa, que ocorre anualmente em setembro, é o retorno da grafia “Sairé”. De acordo com a Prefeitura Municipal de Santarém, a decisão foi tomada com base na Lei 14.997, de 2024, sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que reconhece como manifestação cultural brasileira, a Festa do Sairé, sendo que o Ministério da Cultura considera a escrita com “S”. A medida atende também a um pedido da organização da festa, de moradores da Vila de Alter e de representantes indígenas, que reconhecem o nome da festa como “Sairé”, assim como ela foi escrita nos registros mais antigos.

A palavra “Sairé”, com suas raízes em rituais indígenas, significa “salve a criança que há em você, salve a alegria que há em você”. Trata-se de um chamado à celebração e à preservação da identidade dos povos do Baixo Tapajós, o que está umbilicalmente relacionado à preservação da cultura e do bioma amazônico como um todo.