A vida, a Paixão e a morte de Jesus Cristo são contadas em espetáculos apresentados por grupos teatrais diversos espalhados pelo mundo. Em Belém, esta é uma tradição que já existe há mais de meio século no bairro da Condor, por exemplo, com a representação da Paixão de Cristo no Santuário São Judas Tadeu. As apresentações ocorrem durante a Semana Santa, em dias e horários distintos. Nesta Sexta-feira Santa, 18, a apresentação do espetáculo ocorre por volta das 20h, começando no salão paroquial e depois percorrendo as ruas do bairro com a realização da via sacra.
São 57 anos de uma encenação que emociona as pessoas a cada ano. Quem está na parte cênica do espetáculo, também sente todo o calor do público. “O nosso papel é entender que a religiosidade, o compromisso e a nossa mensagem que será transmitida tem no centro a imagem de Jesus Cristo, que morreu para nos salvar. A gente faz períodos de espiritualidade no decorrer do processo para que isso não se perca da nossa maior finalidade, que é anunciar a Boa-Nova de Jesus”, diz o coordenador e diretor da peça, Flávio Lima.
Ele conta ainda que, no início, os materiais eram simples e que o grupo sempre contou com o trabalho de todos. “Quando entrei no grupo, ele tinha 23 anos, os cenários eram de ripas e de serraria, que era a maneira que a gente tinha condições de iniciar. A gente ia atrás dos papelões, pintava com tinta e cal. Além disso, sempre contamos com a ajuda de pessoas do bairro para desenhar os cenários. A peça sempre foi apresentada do mesmo jeito, sendo na terça e na quarta no salão paroquial e na Sexta-feira Santa, além da apresentação, tem a crucificação feita na rua”, detalha o diretor.
O trabalho é inteiramente coletivo, reunindo um total de 40 pessoas para a sua realização, comenta Flávio. “A gente que organiza o cenário, o figurino, a parte da sonoplastia e o texto também, que é editado pelo grupo. Enfim, tudo é organizado por nós, com a ajuda de comerciantes do bairro. Mesmo sem patrocínio, a gente sempre conseguiu apresentar um trabalho à altura da história do espetáculo, porque a gente pensa nos detalhes do cenário e dos personagens. Após a pandemia, sentimos que as pessoas se dispersaram um pouco, então, todos fazem vários processos dentro do trabalho. Estamos buscando o resgate da identidade do grupo, mas independente disso, são pessoas muito fortes”.
Paixão de Cristo em Belém e Ananindeua
Em outro bairro de Belém, em Canudos, o Grupo Experimental de Teatro Aldeato, na Paróquia São José de Queluz, também tem história, com mais de quatro décadas de encenação da Paixão de Cristo. Neste ano, o espetáculo apresenta o tema “Paixão de Belém – Paixão pela vida”, em sintonia com o tema da Campanha da Fraternidade 2025 – Ecologia Integral. A tradicional narrativa da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo ganha novas camadas de significado ao se entrelaçar com os clamores da Terra e as dores da Amazônia.
Tradição que envolve a comunidade
“Há 42 anos que eu já venho com esse espetáculo, onde estou desde o início, alternando funções de produção, atuação e direção. Vejo uma importância muito grande em minha vida porque a gente não consegue ficar sem fazer, sem produzir ou sem encenar a Paixão de Cristo aqui em Canudos. Primeiro porque a gente faz um trabalho social, que é ao mesmo tempo, religioso e cultural. Ele engaja jovens, adolescentes, adultos e pessoas idosas”, destaca o diretor da peça, Aluísio Freitas.
É um espetáculo que já faz parte da vida das pessoas do bairro todo o ano, reflete o diretor. “As pessoas, por sua vez, aderem ao processo, e a gente vai construindo as cenas, mesmo com todas as dificuldades e afazeres. No final, apresentamos um espetáculo lindo, que emociona demais o público”, ressalta Aluísio Freitas sobre o trabalho da Paróquia de Queluz.
No outro extremo, no conjunto Júlia Seffer, em Ananindeua, o grupo teatral Shalom, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, também traz a tradição em seu espetáculo que retrata cenas da vida, Paixão, morte e ressurreição de Jesus. A realização da primeira peça foi em 1996, quando percorreu as ruas do local. “Para mim é uma grande honra, uma alegria e uma missão contar e recontar, através da arte, todos os anos, a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré. O Grupo Teatral Shalom tem uma característica singular, que é a de não repetir o mesmo roteiro todos os anos. Em média, a nossa peça tem entre 9 e 12 cenas. Tem cenas que são pilares, como a Paixão, a condenação ou a Santa Ceia, mas tem outras que mudam, como a do batismo, a do Horto das Oliveiras ou a da tentação”, explica a diretora da peça, Elaine Santana.
Além disso, ela conta que, entre as trocas de cena, dois apresentadores contam uma história em paralelo, que também muda a cada ano. E esta edição é especial. “Estamos fazendo uma homenagem aos 30 anos do espetáculo da Via Sacra, por isso, o tema proposto é ‘Que todos sejam um, para que o mundo creia’. Isso nos faz refletir sobre a unidade, que é um sinal para a evangelização, para que o mundo creia na mensagem de Jesus, que ele é nosso salvador e veio a este mundo para nos salvar através de sua cruz. E a sua ressurreição significa a abertura das portas do céu para uma nova vida”, enfatiza Elaine Santana.
Elaine diz que fica muito feliz de ajudar na evangelização da igreja através da arte. “Todos nós temos a possibilidade da vida eterna em Cristo. Essa é a nossa fé e o nosso testemunho, então, através da arte, a gente empresta o nosso corpo, a nossa voz, a nossa criatividade para ter uma forma de evangelização. Eu fico muito feliz de estar há 30 anos no grupo, desde a sua fundação. A Igreja, ao longo desses dois mil anos, conta a história de Jesus. A palavra e o testemunho, por meio de pregações, leituras, missas e catequeses que são feitas ao longo dos séculos, chegam primeiro aos ouvidos e são formas de anúncio. Porém a arte e o teatro também são formas disso e alcançam o coração da juventude. E esse é o nosso objetivo”, frisa Elaine Santana.
Programação
Apresentações da Paixão de Cristo 2025
Santuário São Judas- Condor
Quando: Hoje, a partir das 19h30
Onde: Santuário São Judas Tadeu (Av. Alcindo Cacela, 4195 – Condor – Belém), no salão paroquial, com via sacra nas ruas.
Quanto: Entrada gratuita.
Paixão de Belém, Paixão pela Vida
Quando: Hoje, às 18h30.
Onde: Paróquia São José de Queluz (Av. Cipriano Santos, 311 – Canudos, Belém)
Quanto: Entrada franca.
Via Sacra -30 anos
Quando: Hoje, às 19h30.
Onde: Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Conjunto Júlia Seffer – entrada pela Rua Dez, s/n – Águas Lindas – Ananindeua)
Quanto: Entrada gratuita.