A obra da artista Elieni Tenório abre a agenda de exposições na Galeria Graça Landeira em 2023. Celebrando o Dia Internacional da Mulher, “À sombra do meu eu” abre à visitação esta noite com um diversificado conjunto de obras inéditas da artista, pontuado por outros trabalhos importantes de sua trajetória. Em mais de 20 anos de atuação, Elieni se constituiu como uma das mais singulares artistas dentro do conjunto da arte contemporânea no Pará, com uma obra versátil do ponto de vista da linguagem e dos suportes e materiais, mas que carrega sempre um ponto de vista da identidade feminina, também em suas múltiplas facetas.
“À sombra do meu eu” teve curadoria dos pesquisadores Jorge Eiró, Mariano Klautau Filho e Yasmin Gomes, numa iniciativa do Museu de Arte da Unama e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Linguagens e Cultura da instituição. De acordo com o que explicam os curadores no texto de apresentação da mostra, as obras escolhidas buscam, em especial, uma certa abstração para, sensualmente, aproximar-se de um corpo performativo, objeto central do trabalho. São pinturas sobre tecido e vinil, objetos e peças que se misturam sobre o corpo dos manequins, mesclando o aspecto tridimensional aos tons vivos e traços das narrativas populares presentes nas obras mais antigas de Elieni. Juntas, funcionam como uma instalação, que acompanha, de certa forma, a poética visual da artista, sempre ligada aos signos do feminino.
“O meu universo é o feminino. Desde criança eu pintava, e aí, claro, fui amadurecendo meu trabalho artístico. Quando era criança, gostava muito de costurar, e com o passar do tempo, eu trouxe isso e passei a trabalhar essa crônica do dia a dia nas minhas obras”, explica Elieni, que sempre optava por abrir mostras no mês de março, o mês das mulheres, para homenageá-las.
Amapaense de Mazagão, mas que sempre viveu e produziu em Belém, Elieni trouxe para a exposição obras de uma das vertentes mais marcantes da sua produção, em que ela trabalha o espaço pictórico como espaço teatral. Elieni capta cenas com protagonistas que remetem às “pin-ups” dos anos 1940, atualizadas sob a atmosfera dos trópicos. São mulheres que surgem, entre espelhos e véus, nos espaços íntimos da casa. Essas “divas” inventadas pela artista surgem ao mesmo tempo envoltas em uma fragilidade e fortalecidas pela dimensão sexual subjetivada nas suas pinturas e objetos.
As obras inéditas presentes na nova exposição surgiram durante o isolamento provocado pela pandemia de covid-19. As máscaras que se tornaram parte do vestuário da época para evitar a propagação do vírus também surgem nas figuras representadas por Elieni. Mas neste caso, ela foge da dramaticidade da pandemia e potencializa o jogo de sedução e fetiche que empodera os corpos. As obras também marcam um retorno de Elieni às cores fortes das primeiras obras, depois de uma longa fase criativa focada nos beges e tons diversos de pele.
“Passei muitos anos trabalhando o figurativo, mas sempre a mulher em primeiro lugar. Quando me perguntavam quem é essa mulher, eu dizia que sou eu. Falava da minha vida, do passado, da minha trajetória. Ao longo dos anos, fui limpando e o trabalho foi saindo do figurativo e passando para o abstrato, e o que é legal é que sempre foi acompanhado por curadores, críticos, que iam percebendo e comentando o que tinha ali. Com o tempo, fui percebendo essa crônica do dia a dia no meu trabalho e ele foi ganhando repercussão”, diz Elieni, que já expôs em outros estados brasileiros e na Alemanha, na Holanda, em Portugal, na França e na Bolívia.
*com Aline Rodrigues
VISITE
“À sombra do meu eu” – Exposição de Elieni Tenório
Abertura: Hoje, 8, às 19h
Visitação: 9 de março a 14 de abril, de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h.
Onde: Galeria Graça Landeira (Av. Alcindo Cacela, 287 – Pedreira)
Quanto: Gratuito