Edyr Augusto e Dona Onete são homenageados na Feira do Livro

Edyr Augusto e Dona Onete são homenageados na Feira do Livro

A rainha do “carimbó chamegado”, a cantora Dona Onete, é uma das homenageadas da 25ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que abre neste sábado, 27, de volta ao Hangar Centro de Convenções e Feiras, na primeira edição após a pandemia. A poesia de Onete é que dá vazão às histórias que desencadeiam suas músicas e, agora, também conduz as narrativas de uma coleção literária intitulada “Contos de Dona Onete”, que ela lança durante a feira, no próximo dia 3 de setembro, dentro do painel “Vozes da Inovação”.

Antes disso, na abertura do evento, neste sábado, 27, às 20h, o show é dela, na Arena Externa da Feira, dedicada à programação musical. E a expectativa é que ela adiante algo do seu quarto álbum, “Bagaceira”, em produção.

“Ler deixa a mente maravilhosa”

Natural de Cachoeira do Arari, no Marajó, Ionete Gama tem dois filhos, cinco netos e 4 bisnetos. E sempre teve uma vida ligada à cultura. Foi professora de História durante 25 anos, secretária de Cultura na cidade de Igarapé-Miri, e participou de importantes grupos folclóricos, como o Raízes do Cafezal. Mas foi já na maturidade, cantando com o Coletivo Rádio Cipó que abriu caminhos para brilhar noutros palcos. Em carreira solo, conquistou o Brasil e o mundo. E aos 83 anos, continua escrevendo e fazendo música, fazendo sua voz ecoar a diferentes gerações com histórias de resistência feminina. Receber a homenagem em um evento que une literatura e música, é muito significativo, diz ela. “Para mim é muito importante, especialmente por ter sido professora. Significa muito porque mostra que a gente tem ainda muita coisa para falar e contribuir. É uma oportunidade para eu mostrar mais alguma coisa. Outra coisa é que é uma homenagem em vida, que para mim tem um valor enorme”, destaca.

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Dona Onete destaca sua participação enquanto cantora. “Fico feliz em participar, principalmente, com um show na abertura da Feira. Vou dar autógrafos e falar sobre os livros de historinhas que a minha neta [e pedagoga Josivana de Castro Rodrigues] está escrevendo, que são textos originados a partir de histórias que eu conto e ela escreve. Ela escreveu historinhas que eu contava em sala de aula para os meus alunos que cursavam até a 5ª série”.

Ela diz que a coleção “Contos de Dona Onete” está muito bonita. “A minha neta me mostrou um pouquinho do que ela já tem desses três livros. As narrativas mostram que até no reino animal tem coisas erradas. Por exemplo, tem a iraúna, que é um bichinho que coloca os ovos dela no ninho da dona japiim, então contei para a Josi e ela ficou encantada com essa história. No reino animal, não tem juiz, delegado, promotor e nem advogado para tirar a iraúna posseira do ninho do japiim no galho da mangueira. A Josi ficou tão feliz com isso que disse que ia escrever um livro a partir dessa história. Está tão bonitinho, vocês precisam ler. A narrativa foca numa linguagem própria para criança”, descreve ela sobre os três livros.

Não é o primeiro lançamento editorial envolvendo a artista. No ano de 2013, ela lançou a biografia “Menina Onete – Travessias & Travessuras”, escrita e editada pelo antropólogo Antônio Maria de Souza Santos e pela neta Josivana Rodrigues.

“O seu Antônio escreveu aquele livro em uma época que nem se ouvia falar ainda de Dona Onete. Ele me procurou para escrever a história e isso foi muito importante porque ajudou as pessoas a conhecerem sobre o Boto e outras lendas populares que hoje em dia têm sido propagadas em novelas, inclusive”, observa a cantora.

LEITURA

A cantora ressalta a importância de ler tudo o que encontrar, mesmo em páginas inusitadas. “Ler é muito importante. Desde pequena, eu lia muito. Achava pedacinhos de jornal no chão e lia. Não comprávamos muitos livros e nem jornais, então, muitas coisas que eu sei, são de coisas que lia aleatoriamente e absorvia aquilo para mim”, lembra.

Ela faz questão de reforçar que as pessoas não precisam de coisas grandes, mas na simplicidade, é possível observar a leitura e dela, reter o que for importante. “É muito bom a gente ler tudo onde puder, porque a mente fica maravilhosa. Quem sabe dali não sai um grande escritor, um compositor. Eu fui para o lado da composição e já tinha essa voz que Deus me deu. Mas quem sabe um escritor está ali, após sua observação ou de catar letras onde passar. Estava vendo uma reportagem recente que mostra crianças lendo deitadas em redes na escola e fiquei muito feliz de ver aquilo, achei lindo. Abra uma rede no seu quintal para o seu filho. Vamos ler, crianças”, convida Onete, está fechando um ciclo de shows para se concentrar no quarto disco, após a Feira.

“Já estou selecionando as músicas, com muito carinho, escolhendo algo que possa agradar as minhas crianças e meu idosos, que são públicos que me acompanham, o que acabei descobrindo somente agora. Esse próximo CD se chamará ‘Bagaceira’, uma festa de interior. Quem é do interior, sabe o que isso significa, é onde eu vou entrar valendo”, entrega Onete.