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Edgar Augusto comanda a última, the last, ultimíssima "Feira do Som" hoje pela rádio e TV Cultura

A "Feira do Som" se despede das ondas da Rádio Cultura após 50 anos de transmissão, sob o comando do locutor Edgar Augusto. Foto: Wagner Santana/Diário do Pará.
A "Feira do Som" se despede das ondas da Rádio Cultura após 50 anos de transmissão, sob o comando do locutor Edgar Augusto. Foto: Wagner Santana/Diário do Pará.

TEXTO: Wal Sarges e Aline Monteiro

As novidades da música e da cultura são o fio condutor do programa de rádio “Feira do Som”, que completou a extraordinária marca de 50 anos no ar, e agora se despede da grade de programação da rádio Cultura FM, onde vem sendo companhia diária dos seus ouvintes empedernidos, como diria seu criador, produtor e apresentador, Edgar Augusto, há mais de 40 anos. Como presente de Natal antecipado, a última edição da “Feira”, especialíssima, vai ao ar nesta sexta-feira, ao meio-dia, ao mesmo tempo na Rádio, TV e Portal Cultura.

Desta vez o programa não será ao vivo. Seria difícil, talvez, conduzir desta forma a despedida povoada de amigos, depoimentos e participações especiais. Gravada no último dia 12, a edição final chegará ao público repleta de emoção e de uma atmosfera de gratidão, com nomes que fazem parte da cultura popular paraense e que também fizeram parte da história da atração. Passaram por lá, entre outros nomes, a cantora e compositora Nazaré Pereira, Alfredo Reis, Inesita e Elder Effe, Adilson Alcântara e grupo Tripa.

MEMÓRIA AFETIVA DOS PARAENSES

O vespertino está na memória afetiva dos paraenses e durante todo esse tempo foi muito presente na vida cultural de Belém, especialmente – não à toa foi elevado a Patrimônio Imaterial da cidade. Teve um efeito muito maior do que imaginou seu idealizador. “O programa significa um prolongamento do papel que eu procurei exercer esses anos todos. A ‘Feira do Som’ não fez somente o lançamento de discos, livros, exposições de arte, como entrevistou pessoas. Ainda levou artistas para que se apresentassem ao vivo na rádio e na tevê. Me acostumei a fazer isso porque achei que estivesse cumprindo um papel exatamente na hora que ninguém ligava muito para isso. Quando faço um programa assim, lembro-me de seu início”, disse o jornalista, radialista e crítico musical Edgar Augusto, em meio à última gravação.

Do público, vem o reconhecimento, que acaba servindo de troca, analisa o apresentador. “Quando vejo que as pessoas admiram o programa, sinto que cumpri meu papel. Agradeço à vida por isso, porque tem muita gente que reclama de fazer as coisas e não obter reconhecimento, não ganhar agradecimento e nem tapinha nas costas. Eu me acostumei a receber tudo isso, as pessoas que eu ajudo são gratas. Talvez elas não saibam que se ajudando estão me ajudando também. Além de me mostrar que eu sou útil, me ensinam que meu papel vale a pena”, diz Edgar.

“FEIRA” CONTINUA NAS PÁGINAS DO DIÁRIO

Não que a despedida não traga alguma melancolia… “Dói um pouquinho deixar o programa, vou ter que me acostumar a não fazer mais aquilo da maneira que eu fazia antes. É preciso mudar, chega uma certa hora, tal qual em uma encruzilhada, você segue adiante ou recua. Eu decidi recuar para ganhar outra coisa diferente mais adiante. Quero continuar rejuvenescendo. Eu acreditei na primeira versão da ‘Feira do Som’ e agora quero acreditar na segunda versão, propondo alguma coisa diferente, mas seguindo a mesma filosofia dele”, analisa o locutor. A “Feira do Som” segue nas páginas do DIÁRIO, publicada no caderno Você às terças, quintas e domingos. Também deve ganhar novas mídias, que Edgar começa a experimentar na companhia do filho Eder Augusto. A “Feira” continuará no Instagram, e deve ganhar em breve um podcast pela Rede Cultura – a partir de janeiro  haverá a gravação de pilotos, avisa Edgar.

O que é certo é que a música continuará conduzindo os caminhos. “Minha vida é música. O que eu mais gosto de fazer é ouvir música, trabalhar com ela, que é fundamental na vida. É aquilo que sempre digo: ‘nesses 50 anos de casa, saio feliz da vida porque ia trabalhar com o que mais gostava. Sempre quis isso e agora vou continuar fazendo o que eu gosto, mas de outra maneira”, antecipa o apresentador. “Quem gosta de mim, me aguarde que não vou ficar parado em casa. Vou continuar trabalhando e aparecer de qualquer maneira. Tomara que eu dê e a mesma sorte”, avisa aos fãs.

MUITOS COMPANHEIROS DE JORNADA

Companheira de jornada na bancada do programa nos últimos 14 anos, a produtora Alessandra Caleja vê a história da “Feira” misturada à sua própria aprendizagem. “Passei no programa praticamente o tempo que tenho na Rede Cultura, 15 anos neste mês. Ao longo desse período, estive à frente das perguntas do programa, fazendo contato com artistas e ouvintes. Foi um período de muita aprendizagem e ensinamentos”, diz ela, que vê as edições especiais do cinquentenário, realizadas ao longo deste ano como uma bela despedida. “A saída de Edgar foi anunciada durante todo o ano, então já era esperada. Ninguém queria que ele e o programa saísse do ar, pela carga de informações que ele possui, mas são novos ciclos e aprendizagem. Os especiais de 50 anos do programa deram um tom de despedida e foi lindo fazer essas gravações ao lado dos profissionais e artistas que ajudaram a construir a história da ‘Feira do Som’”, enaltece.

Dez anos atrás, o cantor e compositor Lucas Padilha, hoje vocalista do projeto Meio Amargo, trabalhava na produção de programas da Rádio Cultura. Foi convidado para dividir a apresentação da “Feira do Som” com Edgar Augusto para dar as novidades da cena musical, trazendo o ponto de vista de sua juventude. A experiência fortaleceu os laços e a percepção, para Lucas, da importância do programa para a cena cultural. “Eu fico feliz de ver o Edgar encerrando a ‘Feira do Som’ dessa forma. Acredito que ela encerra no auge, em grande estilo. Vejo o Edgar realizado, feliz com isso, e isso me deixa feliz e tranquilo também porque percebo que ele faz isso de uma forma muito natural”, disse Lucas, nos bastidores da última gravação.

“O programa tem esse caráter de formação, de educação musical, mas tem um caráter muito interessante para mim, que é de incluir o ouvinte naquela diversão do Edgar, que é a de ouvir discos e músicas.”

LUCAS PADILHA, MÚSICO

 

“A minha relação com o programa começou enquanto ouvinte. O programa tem esse caráter de formação, de educação musical, mas tem um caráter muito interessante para mim, que é de incluir o ouvinte naquela diversão do Edgar, que é a de ouvir discos e músicas. Depois que passei a trabalhar com ele, tive a oportunidade de brincar um pouco também, de contar um pouco das minhas vivências, mesmo sendo um cara muito mais novo. Aprendi muita coisa com ele. Mas acho que ele queria alguém mais novo naquela época para trazer um frescor nos comentários e nas opiniões, na visão de mundo”, lembra Lucas Padilha.

IMPULSO PARA ARTISTAS PARAENSES

Composto pelos músicos Luiz Pardal, Paulinho Assunção e Jacinto Khawage, o grupo Tripa Paraense esteve entre os convidados especiais do programa que vai ao ar hoje. Luiz Pardal não conteve a emoção ao falar da contribuição que a “Feira do Som” teve na sua carreira. “O Edgar é um baluarte, uma lenda viva aqui em Belém. Ele é uma das pessoas mais importantes da nossa cultura porque traz essa motivação da gente continuar fazendo arte, música de qualidade. Em meu nome e do Tripa, o nosso mais sincero agradecimento”, agradeceu o músico.

“Edgar, tu representas um estandarte pra gente, pra nossa cultura. Nós, paraenses, somos muito gratos pelo teu trabalho”, completa Paulinho Assunção.

 

“O Edgar é um baluarte, uma lenda viva aqui em Belém. Ele é uma das pessoas mais importantes da nossa cultura porque traz essa motivação da gente continuar fazendo arte, música de qualidade.”

LUIZ PARDAL, MÚSICO

Para o intérprete Olivar Barreto, a “Feira do Som” é uma forma dos próprios paraenses reconhecerem os artistas da nossa região. “No Pará temos uma produção vigorosa e constante, com muita gente surgindo o tempo todo. No meu caso, lembro-me quando o Edgar fez uma análise sobre o meu trabalho na coluna dele, no DIÁRIO. Eu já o admirava desde aquela época, mas quando ele fez esse texto sobre um show que eu fiz em homenagem ao Noel Rosa, em 1996, isso mudou completamente o meu trabalho. Alguém reconheceu meu trabalho e era o Edgar Augusto”, descreve o artista.

“Tenho uma admiração enorme pela ‘Feira’ porque não é em todo lugar do Brasil que tem um programa que apresente o artista e que possa dissecar completamente o trabalho dele para o público. Isso é importante pra gente, porque é um desafio para nós, como músicos paraenses, fazer com que o nosso trabalho seja reconhecido. São 50 anos de ‘Feira do Som’ e desses, em mais de 20, eu participo da cena musical. Só me resta agradecer por toda a dedicação de Edgar e por ter sido convidado para estar aqui na edição especial do programa”, disse Olivar.

Parceiro nesta fase final da “Feira”, o jornalista e locutor Arthur Castro, que sempre foi ouvinte do programa, se diz grato pela oportunidade. “Este ano foi especial para mim porque fui convidado pelo Edgar para apresentar com ele o programa, o que foi totalmente inesperado. É um aprendizado imenso não só sobre música, mas também pela pessoa que ele é, pela sua generosidade, que é alguém que tem muito tempo de estrada, mas o Edgar é muito simples. Conviver com ele foi um imenso aprendizado”, elogia Arthur, que deve comandar o horário deixado pela “Feira do Som” na grade, em uma nova atração, ainda em formatação. “É uma honra continuar de alguma forma com esse espírito da ‘Feira do Som’, que é o de ter fome de novidade, de lançar os artistas de Belém do Pará, da MPB, e seria maravilhoso poder levar adiante essa essência”.