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Drácula revisitado: clássicos, adaptações e novas versões chegam aos cinemas

O clássico terror gótico rendeu diversas adaptações cinematográficas ao longo das décadas.

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Lá se vão 128 anos desde que o romancista e poeta irlandês Bram Stoker lançou “Drácula” (1897), sua obra mais renomada. O clássico terror gótico rendeu diversas adaptações cinematográficas ao longo das décadas. Algumas são oficiais, como “Drácula de Bram Stoker” (1992), de Francis Ford Coppola – outras, nem tanto.

Obra seminal do expressionismo alemão de 1922, “Nosferatu”, de F. W. Murnau, é uma clara versão da história, com nome dos personagens trocados por falta de direitos de adaptação. A produção, inclusive, foi processada por violações de direito pela família do autor, chegando a ter sua veiculação proibida após condenação por plágio.

O filme só pôde voltar a ser exibido a partir de 1937, após a morte de Florence Stoker, viúva do criador, e a entrada da obra em domínio público, nos Estados Unidos. Apesar das polêmicas, “Nosferatu” viu seu Conde Orlok ganhar vida para além do Drácula na história da sétima arte, rendendo outras versões populares em 1979, por Werner Herzog, e 2024, por Robert Eggers.

Seja na pele de atores icônicos como Béla Lugosi e Christopher Lee nos clássicos de horror da Universal, seja na voz de Adam Sandler na franquia animada “Hotel Transilvânia”, ou na forma do simpático fantoche Count Von Count, do programa de TV infantil “Vila Sésamo”, a verdade é que o mais famoso dos vampiros nunca saiu de moda.

Sua mais nova versão, em “Drácula – Uma história de amor eterno”, de Luc Besson, acaba de chegar aos cinemas brasileiros trazendo Caleb Landry Jones na pele do homem que renega Deus após a morte da amada e acaba herdando uma maldição eterna. Duas vezes vencedor do Oscar, Christoph Waltz, de “Bastardos inglórios” (2009), dá vida a um padre responsável por caçar Drácula, que viaja a Londres em busca da reencarnação da esposa, personagem de Zoë Bleu. – Reli a obra de Bram Stoker há poucos anos e ela bateu forte em mim.

Não lembrava o quão romântico era. É sobre um homem que espera por 400 anos para rever sua esposa. É uma história de amor. E foi isso que me fez fazer o filme – conta ao GLOBO o diretor francês, de 66 anos, conhecido por obras como “Lucy” (2014), “O quinto elemento” (1997), “O profissional” (1994) e “Imensidão azul” (1988). – Não sou um grande fã de histórias de terror ou vampiros. Meu propósito foi contar a história de amor e brincar um pouco com alguns elementos clássicos do personagem.

Sem referências no horror, apesar de admirador do filme de Coppola, Besson diz que não se inspira em outros realizadores para criar suas obras, mas revela uma inspiração bem inusitada no mundo pop. – Busco minha fonte na vida, na sociedade e até nos animais.

O objetivo de um artista é ser único, então não posso me inspirar no material já digerido por outro cineasta – diz o diretor. – Às vezes sinto que tenho 15 anos de idade porque sou um grande fã da Billie Eilish. Já vi shows dela em Nova York e em Paris. Ela está realmente falando algo sobre a sociedade e a juventude de hoje que é muito interessante para pais que tentam entender melhor seus filhos.

Amo todos os discos dela e escrevi todo o roteiro de “Drácula” ouvindo a música dela. Laura Cánepa, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unip-SP, destaca que o Drácula original já era um “catadão” de outros vampiros, o que “permite várias interpretações ao longo do século XX, porque as histórias vão se adaptando ao tempo delas”.

No livro de 1897, o Conde Drácula é desenvolvido para ser a personificação de fenômenos sociais que horrorizavam e eram execrados pela sociedade britânica da era vitoriana, da qual Stoker fazia parte. – O Drácula original serve como metáfora para o colonialismo reverso, que era o medo do Império Britânico de que fizessem com ele tudo o que ele fez com diferentes povos do mundo durante a colonização – afirma o pesquisador de literatura gótica e editor Cid Vale Ferreira. – É algo como “diga-me o que temes que eu te direi quem tu és”.

Esses traços metafóricos vão desde a tirania e a violência das quais o personagem fazia uso para conquistar seus objetivos até o desejo sexual desmedido. – Você tem o Drácula como alegoria para a influência estrangeira que é temida pelo britânico, a ideia de que esse estrangeiro vai trazer uma contaminação moral para o seu território e corromper a visão de mundo que você busca resguardar – acrescenta Ferreira – O Drácula simboliza um pouco tudo aquilo que não se poderia ser.