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Discosaoleo relança em vinil o clássico “Tuyabaé Cuaá” de Walter Freitas

Álbum do paraense Walter Freitas é elogiado por sua linguagem única e completou 35 anos de lançamento em 2023. FOTO: alberto bitar/divulgação
Álbum do paraense Walter Freitas é elogiado por sua linguagem única e completou 35 anos de lançamento em 2023. FOTO: alberto bitar/divulgação

Em 1988, o paraense Walter Freitas lançou o disco “Tuyabaé Cuaá”, pelo selo Outros Brasis. O álbum havia sido gravado um ano antes após um longo período de estudos e experimentações, com Freitas em busca de alcançar a sonoridade original que o trabalho trouxe. Considerado raridade, esse marco na música paraense acaba de ganhar nova prensagem em vinil de 180 gramas, considerado de alta qualidade, pelo selo Discosaoleo.

O lançamento, que marca o início das comemorações de dez anos do selo, será feito neste sábado, 23, às 11h30, com uma edição especial do “Risco no Disco”, bate-papo musical promovido pelo selo em sua loja, e que contará com a presença do próprio músico e compositor, tendo como convidados para uma audição comentada o radialista e produtor musical Beto Fares e o jornalista e escritor Edson Coelho.

Ao longo dos anos, as oito faixas de “Tuyabaé Cuaá” tiveram um impacto substancial sobre a crítica especializada. Por ocasião da edição em CD, em 1998, Edson Coelho foi um dos que comentaram o lançamento: “‘Tuyabaé Cuaá’, paradoxalmente, é o novo que já nasceu destinado a ser clássico. Walter apropriou-se ‘fisicamente’ de uma linguagem – a popular, principal formadora de uma cultura – e potencializou-a”.

Após esta reprensagem em vinil, Fares destacou que, num momento em que orquestras inteiras podem ser sampleadas, trabalhos orgânicos de grandes mestres da música seguem cumprindo o objetivo da emoção: “‘Tuyabaé Cuaá’ carregada de desempenho artesanal que mostra, nota por nota, hábitos, costumes e transformações da região Norte do Brasil. É uma joia do cancioneiro popular garantida para as novas gerações nesse oportuno relançamento”.

No cenário artístico dos anos 1980, em Belém, o músico se aproximou do grupo Sol do Meio-Dia. FOTO: ALBERTO BITAR/DIVULGAÇÃO
SONORIDADE

Nascido no bairro da Sacramenta, foi lá que Walter Freitas absorveu muitas de suas referências e onde realizou o intenso período de experimentação que originou as composições de “Tuyabaé Cuaá”. Músico autodidata, ele comenta que seu bairro era um celeiro de informações que precisava obter para “chegar aos resultados que queria, que eu buscava para consignar uma decisão que eu tomei, de construir uma sonoridade que fosse, nos termos que eu utilizava na época, somente minha”.

Depois de dois anos em São Paulo, aos 18 anos ele iniciou uma fase essencial de sua dedicação à música e à composição, num exercício que gerou a linguagem particular do artista. “Eu fui percebendo que eu estava fazendo coisas no violão, nas letras, na minha forma de cantar, que eram diferenciadas”.

No cenário artístico dos anos 1980, em Belém, o músico se aproximou do grupo Sol do Meio-Dia e, posteriormente, de Nilson Chaves, com quem, ao lado de Almirzinho Gabriel e Genésio Tocantins, realizou uma série de concertos fundamentais para que chegasse ao lançamento de seu primeiro disco. Foi quando conheceu Marcos Quinan, que o convidou a ser um dos primeiros artistas a gravar pelo selo Outros Brasis. Destes contatos, surgiu o planejamento para as gravações de “Tuyabaé Cuaá”, realizadas no Rio de Janeiro, em 1987.

A escolha das faixas veio na esteira da decisão de Walter Freitas de criar sua própria marca: “Eram as canções que eu tocava, que eu ouvia, que eu lia a letra, que tinham exatamente aquilo que eu buscava, ou seja, elas ao serem executadas me davam como resposta essa certeza: tu estás cantando uma coisa que ninguém fez antes”, rememora.

O álbum foi lançado no dia 25 de junho de 1988 e, de cara, não teve uma grande aceitação, mas o tempo se encarregou de mostrar o poder próprio e inegável do disco de tocar os ouvintes ao longo de gerações. “Não tem milhões de pessoas curtindo, ouvindo, acessando, mas ele vai muito fundo em quem ouve, em quem gosta”, diz o compositor.

Segundo o audiófilo Leo Bitar, criador da Discosaoleo, o lançamento é um presente para quem gosta de música e para quem gosta de LP. FOTO: ALBERTO BITAR/DIVULGAÇÃO
RELÍQUIAS

Em seu relançamento pelo selo Discosaoleo, o disco vem com uma reprensagem em vinil 180 gramas preto, com capa dupla, ilustração inédita de Mindiyara Uakti (filho de Walter), pôster com foto de Alberto Bitar e colagem de jornais antigos, em trezentas cópias limitadas e numeradas.

Segundo o audiófilo Leo Bitar, criador da Discosaoleo, o lançamento é um presente para quem gosta de música e para quem gosta de LP. “Faz tempo que penso em relançar esse disco muito querido que tenho na minha coleção, é uma obra-prima da música local, um dos grandes discos independentes da música brasileira, que é tão delicado, tão especial, e que merece essa comemoração dos 35 anos”, diz.

*Com assessoria

AUDIÇÃO COMENTADA

Risco no Disco – Lançamento de “Tuyabaé Cuaá”, de Walter Freitas
Participação do artista + Beto Fares e Edson Coelho
Quando: Hoje, 23, às 11h30.
Onde: Discosaoleo (Trav. Campos Sales, 628 – Campina)
Quanto: Entrada gratuita.
Venda e informações: Facebook e Instagram @discosaoleo