Wal Sarges
A peça “Tom na Fazenda” chega a Belém, com apresentações no palco do Teatro do Sesi, neste sábado, 4, e domingo, 5 de novembro, às 20h e às 19h, respectivamente. O elenco é composto de atores e atrizes renomados da televisão brasileira, tais como Denise Del Vecchio e Armando Babaioff, que vive o protagonista da peça.
O espetáculo é uma adaptação brasileira da peça “Tom à la Ferme”, do canadense Michel Marc Bouchard, com tradução e produção do próprio Armando Babaioff (a versão traduzida foi publicada no Brasil pela editora Cobogó).
Dirigido por Rodrigo Portella, conta a história de Tom (Babaioff), um jovem publicitário, elegante e bem-sucedido, que chega para o funeral de seu namorado que faleceu em um acidente. Na fazenda dos parentes do morto, Tom encontra uma família cheia de intrigas e mistérios, e se envolve em uma trama de mentiras criada pelo irmão truculento do falecido, interpretado por Gustavo Rodrigues.
A peça está em cartaz desde 2017, e já teve mais de 350 apresentações, inclusive internacionalmente, com sucesso de público (foi vista por mais de 65 mil pessoas) e crítica – o próprio Bouchard declarou publicamente que a montagem brasileira era a melhor já feita para seu texto. Os prêmios recebidos desde então – como os da Associação Paulista de Críticos de Arte-APCA e da Associação de Críticos de Teatro de Quebec, e o Prêmio Shell – referendam o trabalho.
A peça marcou presença nos principais festivais de teatro do mundo, como o Festival de Avignon, na França, e o FTA – Festival TransAmériques, em Montreal, no Canadá, e em março deste ano, a convite do Théâtre Paris-Villette, realizou uma temporada em Paris, com recorde de público, recebendo elogios dos veículos mais importantes da França, como o jornal “Le Monde”. Esta temporada, feita pelos palcos de oito cidades do Norte e Nordeste, marca a entrada da atriz Denise Del Vecchio no elenco, no papel até então interpretado por Soraya Ravenle. A atriz Camila Nhary completa a cena.
Armando Babaioff conversou com o Você a respeito da peça e deu detalhes sobre o conceito que ela propõe.
“‘Tom na Fazenda’ é resposta artística ao tempo que a gente está vivendo. Uma maneira que a gente escolheu de levar o texto de um canadense para um palco brasileiro que foi engolido e regurgitado dessa forma. É uma peça que não precisa de cenário e que acontece no teatro aberto, sem coxias, sem cortina e sem a rotunda. Isso mata um pouco da curiosidade do público de saber o que é o palco e o que acontece naquela caixa preta. A peça se passa nesse ambiente onde tudo pode acontecer. O público é convidado para imaginar esse conceito e, junto com o meu personagem, que entra descrevendo um cenário, ele consegue enxergar que está em uma cozinha de uma fazenda, com tapete, mesa, cadeira e um fogão. Isso é o poder do teatro”, descreve.
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Um lugar de conexão com o público é o que busca ainda o espetáculo.
“Além de contar uma história bastante delicada – que tem na homofobia e no patriarcado a sua origem -, a fazenda é a representação do patriarcado brasileiro nessa peça e promove uma identificação do público de imediato. Isso se soma também com a vontade da gente de apresentar a peça aí em Belém. E saber como é que vai ser a reação do público, a receptividade disso, onde é que isso bate, mostrando que este tema é caro para a sociedade, e aí é onde é importante que as pessoas saibam que a gente vive num país que mais violenta e mata pessoas da comunidade LGBTQIAPN+”, reforça Babaioff, apontado também a importância da parceria com o diretor Rodrigo Portella.
“Ele é o diretor que mais me dirigiu na vida. O Rodrigo Portella é o meu mestre. É a pessoa com quem eu mais aprendi a fazer teatro. É a pessoa que me ensina sempre e talvez seja a pessoa com quem eu tenha mais conexão nesse lugar da criação, além de um amigo muito f*da. Ele é um parceiro artístico incrível e a gente certamente vai trabalhar em outro projeto mais para frente, em algum momento, porque é a pessoa que traduz os meus sonhos para aquele universo. Então é parceria, ali é muito legal.”
Circulação da peça gera debates diferentes com cada público
Circular com “Tom na Fazenda” é um motivo de grande felicidade, define Babaioff. “Para mim é uma realização. Eu acho que de alguma maneira isso passa para o público também. A peça tem essa ideia de ocupar um lugar que é um palco de um teatro, onde você se teletransporta de um lado para o outro. Isso é muito mágico. É ainda se deixar atravessar por alguma coisa. É gratificante demais ter esse contato, a troca, e poder levar uma peça de teatro que é uma representante do teatro brasileiro lá fora, e fazer isso rodar o Brasil, porque é cada vez mais raro”.
Enquanto produtor, foram muitos desafios, conta Babaioff. “A gente tentou levar a peça para outras capitais do Norte do Brasil, mas a gente teve muita dificuldade de encontrar teatros. Isso é muito interessante ser falado, porque, de alguma maneira, viajando com o ‘Tom na Fazenda’, eu tive o cuidado de levantar quais eram os principais teatros das cidades, e assim foi em São Luís do Maranhão, no Arturo Azevedo, assim foi em João Pessoa, no Teatro Santa Rosa.
Com isso, é possível observar de perto a necessidade de cada lugar, a política cultural e como aquilo afeta a gente diretamente”, analisa. No entanto, o saldo é positivo e o projeto existe há seis anos graças à bilheteria.
Belém é uma das capitais em que o ator e produtor diz que tinha mais interesse em trazer o espetáculo.
“Acho uma das capitais mais autênticas do Brasil. Acho Belém um outro Brasil, é um outro país. Vejo Belém assim como eu vejo o Recife, o Rio de Janeiro e São Paulo, que são capitais bastante distintas. É um lugar que eu já fui algumas vezes a trabalho com o teatro, e fazendo outras coisas, e tenho muita vontade de voltar e curtir pessoalmente. Desta vez, vou ficar até mais alguns dias para curtir porque acho muito legal a cena e a cultura artística de Belém”, diz Babaioff, que é de Recife, mas cresceu no Rio de Janeiro.
Ao longo desses seis anos em cartaz, também foram muitos encontros diferenciados e histórias, como os aplausos mais longos que o elenco recebeu, em Ribeirão Preto (SP). “A gente apresentou a peça num teatro lotado, com 700 lugares. ‘Tom na Fazenda’ foi apresentado num lugar de fazenda, e sentimos que o público se identificou de imediato com aqueles personagens. Acredito que as pessoas conseguiram enxergar seu pai, sua mãe, seu irmão e que as pessoas que estavam diante daqueles personagens eram os mesmos que participavam do seu dia a dia, isso foi muito louco de viver”, destaca.
Já em Montreal, ele conta que entendeu que a peça era violenta. “No final do espetáculo, a primeira coisa que o público falava é que estava muito chocado porque a peça era muito violenta. No Brasil, apesar de ter escutado isso algumas vezes, nunca foi algo tão gritante ou tão enfático. Talvez porque a violência no Brasil é muito naturalizada. Chamar alguém de ‘veado’ aqui, por exemplo, não é palavrão, mas lá fora é considerado um ataque homofóbico”, compara.
FORMATIVA
Ao longo de seis anos da turnê, além da apresentação do espetáculo, são feitas ações formativas em cada cidade que o recebe, destaca Armando Babaioff. “Tento trocar ideias com esses jovens para provocá-los a entender que eles também podem fazer a mudança nas suas cidades. É difícil, é árduo, mas não é impossível empreender fazendo teatro, que é o meu caso com essa peça”. Em Belém, ele realiza um bate-papo com alunos do curso de Teatro, da Etdufpa.
PRESTIGIE
Peça “Tom na Fazenda”
Com Armando Babaioff, Gustavo Rodrigues, Denise Del Vecchio e Camila Nhary
Direção: Rodrigo Portella
Classificação indicativa: 18 anos
Quando: Sábado, 04, às 20h, e domingo, 05, às 19h.
Onde: Teatro do Sesi (Av. Alm. Barroso, 2540 – Marco)
Quanto: R$110 (inteira) / R$55 (meia)
Venda de Ingressos:
bileto.sympla.com.br/event/ 87186/d/217760/s/1468845
Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro. Trabalhadores da indústria e dependentes pagam meia-entrada apresentando a carteira do Sesi. Clientes Vivo Valoriza têm 50% de desconto na compra de até um par de ingressos.
Funcionamento da bilheteria: Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, a partir das 14h.
Mais informações:
(91) 3366-0971/0972