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Como entrar no clima de Natal com gatos em casa

Foto: Wagner Almeida
Foto: Wagner Almeida

TEXTO: MARTA CARDOSO

O “modo Natal” pode até ter demorado a chegar para alguns por causa da Copa do Mundo. Mas, como manda a tradição, dezembro é época de encher a casa de guirlandas, luzes piscantes e, claro, a árvore de Natal. Porém, na casa de tutores de gatos, a tradição mesmo é encarar perrengues protagonizados pelos felinos.

As redes sociais estão cheias de vídeos engraçados – mas com doses de tensão – que registram decorações natalinas falhando miseravelmente. Um dos mais populares flagrou o momento em que um bichano é soterrado pela árvore após briga com o fio do pisca-pisca.

Em outro registro, os tutores estavam convencidos de que tinha sido uma boa ideia pendurar a árvore no teto. Mas a estratégia virou apenas um incentivo para que o pet mostrasse que sabe saltar muito bem. O perfil de humor “Sou Eu na Vida” fez até uma compilação de memes, definindo a relação dos gatos com árvores de Natal como a “batalha mais aguardada do ano”.

A chegada do Natal, na casa de Simone Danin, é um momento de muita fé… de que a decoração sobreviva aos felinos. E por lá são muitos, muitos mesmo – 42 no momento (pois ela prometeu para si mesma que não adotaria mais nenhum).

Ela se define como “gateira”, engajada na proteção dos bichanos e tutora dedicada. Para colocar ordem na casa, ela permite que apenas três gatos acessem a sala. Os contemplados são: Vênus, Frajola e Piu-Piu (que na verdade é Grace, mas ganhou o apelido por gostar muito do amigo com nome de desenho).

O trio de felinos, todos adotados, ganharam o privilégio após fases de adaptação. A árvore de Natal foi montada na última quarta-feira, mas Simone já estava preocupada, especialmente com a reação de Piu-Piu, que chegou há quatro meses.

A julgar pelo comportamento dos pets com as plantas da casa, o otimismo ficou abalado. Após cavarem os vasos para fazer o “número 2”, ela trocou as plantas por versões artificiais. Nem isso diminuiu o interesse dos gatos.

Resilientes, ela e o marido já fizeram de tudo nos últimos anos para não abrir mão da tradição de decorar a casa. Uma das últimas empreitadas foi pedir para o marido furar a parede para uma gambiarra de prender a árvore para evitar tombamento. Falhou. Também tentou deixar a árvore bem encostada no canto da sala. Nada.

Como o amor pelos gatos é muito forte, ela diz que não quer mais sofrer. “Eu acho que eles são crianças. Tenho que entender. Eu coloco um monte de coisas na árvore. Como não vão mexer? Eu sou louca”, rende-se.

“Eu acho que eles são crianças. Tenho que entender. Eu coloco um monte de coisas na árvore. Como não vão mexer? Eu sou louca”

 

Apesar do sufoco, ela coleciona momentos engraçados nesses dez anos de adoções, como na vez em que adotou uma fêmea com todos os filhotes. Os pequenos se espalharam pela árvore e viraram enfeites vivos. De manhã, a mãe felina ficava miando para que eles descessem, mas não teve jeito. A gata acabou escalando a árvore para acabar com a peraltice.

Aliás, essa foi uma árvore que passou apenas três dias montada na sala. Naquele ano, em nome do Natal, Simone resolveu montá-la novamente, só que na garagem da casa. Só não contava com um detalhe: uma gata novata que circulava pela área telada e que “adorou” a árvore. “Eu ficava maluca”, lembra.

Natal cheio de esperança e boa vontade

Este ano, com esperanças renovadas, Simone Danin decidiu investir na decoração. “Vou montar, respirar e ver no que vai dar”, disse na véspera. Ela ressaltou que Frajola e Vênus são muito educados: “Eu acho. Nunca viram uma árvore de Natal”, ponderou na sequência.

Por segurança, a tutora não permite que os gatos fiquem no ambiente da árvore durante a madrugada. “Fico com medo deles se ferirem”. Apesar das peripécias, se tivesse de fazer a escolha – Natal ou gatos – ela nem pensa duas vezes: “fico com eles”, afirma. Até o registro das fotos desta reportagem, a paz imperava na arena natalina. Simone comemorou o fato do trio ter se comportado bem durante os cliques.

Já na casa da ilustradora Tayná Cardel, o clima é de tranquilidade com Fabio Assunção (o gato!). Ela garante que o bichano não cria caso com a árvore modesta de meio metro, ornada sem objetos que quebram facilmente.

Fabio Assunção, o gato da ilustradora Tayná Cardel, aceitou até gorrinho para fazer fotos para os cartões de Natal FOTO: ACERVO PESSOALAlém disso, ela escolheu itens sem glitter, com receio de que caísse nos olhos dele. “É minha única preocupação com a decoração”, ressalta. A ilustradora diz que nunca teve problemas no Natal graças ao bom comportamento de Fabio. Mesmo assim, “eu sempre deixo ele brincar com algumas coisas para que participe e não estranhe nada”, conta. Ainda que a árvore fosse grande, Tayná diz que não seria problema se ele mexesse um pouco.

“Eu monto com ele vendo, para já se acostumar com a novidade do mês. Só quando filhote que ele gostava de sacudir as bolas de Natal que ficam mais na ponta. Mas hoje em dia ele já não liga (ele tem três anos agora). Eu sempre separo uma das bolas pra ele brincar enquanto monto o resto”, revela. Difícil mesmo é fazer ele ficar muito tempo com o gorrinho de Papai Noel. Por isso, Tayná veste o animal apenas por alguns minutos para a tradicional foto de Natal felina.

COMO LIDAR

A médica veterinária Victória Alves destaca que os gatos são animais muito inteligentes e curiosos. Eles apresentam o instinto de escalar, subir nas coisas. Além disso, gostam de coisas que balançam. Não é à toa que a montagem da árvore de Natal acaba sendo um grande evento também para os bichanos. “Além de ser alta, ela é cheia de coisas que chamam a atenção dos gatos”, explica.

E se os olhinhos brilhando são inevitáveis, é sempre bom ter cuidados. A profissional recomenda que o ideal é deixar a árvore o mais alto possível. Ou ainda, tentar engatar a estrutura na parede. Outra dica é deixar a base pesada o suficiente para não tombar com as investidas dos gatos.

Os tutores também devem ficar atentos aos enfeites. É preciso ter cuidado com o uso de linhas finas, cordas e objetos que possam causar engasgos. A atenção também deve estar nas instalações que possam causar choques elétricos.

Victória chama atenção para os objetos de acrílico, que podem rachar e criar pedaços cortantes. Ela dá exemplo de bolas natalinas com fotos dentro, que quebram facilmente. O ideal é trocar as bolas mais pesadas pelas leves, que pulam ao cair no chão. Neve artificial, segundo a médica veterinária, é outro perigo. Ela refere-se a uma substância em gel que tufa em contato com a água. O produto é tóxico e pode facilmente ser ingerido pelos animais da casa.

VALE A PENA?

“Meu Deus!”, foi a reação de Victória ao assistir um dos vídeos virais de gatos x árvore. Ela explica que o tombamento pode ferir o animal.

Para manter a tradição de decorar a casa, mesmo com bichos de estimação, “às vezes, a melhor coisa é ir começando aos poucos para o animal ir se acostumando”, diz.

Ela lembra que os tutores de cachorros não estão livres de perrengues. O cuidado maior deve ser com os filhotes, que estão na fase da curiosidade e podem comer os enfeites, por exemplo. “Depois de certa idade, eles não têm mais esse interesse. Já com os gatos, é o tempo todo”, afirma.

Ponderando todos os contras, a profissional diz que é possível, sim, ter uma casa decorada na presença dos mascotes. “Tudo é questão de adaptação, de ir testando aos poucos para que dê certo”, conforta.