TEXTO: ALINE RODRIGUES
Hoje, 22 de agosto, é celebrado o Dia do Folclore Brasileiro, data criada com o intuito de alertar para a importância e valorização das manifestações folclóricas no país. Como o significado que a palavra carrega, em sua origem, é possível sintetizar o folclore como conjunto de “saberes do povo”. E os desafios, quando se fala em cultura popular – incluindo contos, lendas, danças, músicas, culinária, medicina popular, entre outros costumes – é achar o equilíbrio entre a manutenção das tradições transmitidas de geração em geração, e a percepção da cultura enquanto produto vivo e naturalmente mutante.
“Quando nós salvaguardarmos o folclore, estamos fortalecendo a nossa própria identidade popular paraense, através das tradições, crendices, mitos, lendas, costumes, sons, danças, entre outros. Heranças que foram deixadas pelos nossos antepassados e que hoje precisam ser manifestadas, valorizadas e, principalmente, repassadas para as próximas gerações”, defende o cantor e produtor musical Jhow Costa, da banda Carimbolando. Composta por músicos, dançarinos e arte-educadores, a banda desenvolve seu trabalho a partir da pesquisa do folclore brasileiro e paraense. E mantém um trabalho valorização da cultura popular, divulgando nossos ritmos, danças e identidades culturais.
O grupo Trilhas da Amazônia, que soma 21 anos de atividades, também segue firme desenvolvendo um trabalho de resgatar, preservar e divulgar a cultura popular da região amazônica através da música, dança, teatro e projeção folclórica.
“O grupo realiza um trabalho voltado para o contemporâneo. Somos um grupo de projeção folclórica, onde a gente envolve o nosso ritmo contagiante, que foi tombado como patrimônio cultural e material, que é o carimbó, a nossa base de repertório. Só que os blocos [do espetáculo] de carimbó são mesclados com as lendas amazônicas. No grupo, nós temos a Lenda do Boto, a Matinta Pereira, a Lenda do Açaí, e a Uiara. Então, mesmo o grupo sendo de projeção folclórica, dando essa pitada do moderno, do contemporâneo, nós não esquecemos a nossa raiz, que serve de identidade cultural indispensável para qualquer região”, explica Fábio de Almeida Ferreira, diretor do Trilhas da Amazônia.
O grupo já participou de vários festivais nacionais e internacionais. No início deste mês, foi um dos dois únicos representantes do Norte no Festival de Olímpia, em São Paulo, considerado o mais importante do Brasil na divulgação do folclore. E teve uma repercussão positiva, inclusive com uma campanha nas redes sociais para que estejam de volta no festival do ano que vem.
Segundo Fábio, o grupo, que atua em Icoaraci, tem fortes influências de grandes mestres da música, dança e artesanato. Uma dessas inspirações é o Mestre Veriquete, que morava no distrito. “Ele é o grande mestre dos grupos de Icoaraci, inclusive nós temos no nosso elenco netos do mestre Verequete dançando conosco, o Júlio e a Juliana, que trazem essa inspiração do avô, trocando um pouquinho de experiência em relação à nossa cultura popular”, acrescenta Fábio.
O diretor do Trilhas da Amazônia destaca ainda que o grupo realiza as suas atividades o ano inteiro, buscando envolver os jovens da comunidade. “Não é nada fácil envolvê-los num trabalho de resistência cultural. Sabemos que hoje as mídias acabam tomando muita atenção dos jovens, os outros ritmos que vêm do Sul e do Sudeste acabam tomando muito do espaço que deveria ser da nossa cultura popular. Mas seguimos e a nossa intenção é preservar sempre a nossa cultura, inserindo as atividades culturais nas escolas públicas de Icoaraci. Isso faz com que a nossa cultura seja perpetuada e nós temos muito zelo por essa salvaguarda do nosso patrimônio cultural imaterial”, destacou Fábio.