Aline Rodrigues
Uma trajetória marcada por superações, perseverança e dedicação. Assim foi a caminhada do coreógrafo, dançarino e professor Rolon Ho e da sua parceira de dança, a atriz Priscila Fantin, no quadro Dança dos Famosos, do “Domingão com Huck” (Globo). Os dois chegaram a ganhar nota 8,3 do jurado Zebrinha em uma das apresentações, ficaram em último na classificação e passaram por duas repescagens. Mas viraram o jogo e, na semifinal, ficaram em primeiro lugar na classificação. Já no último domingo, 2, foram os grandes campeões da competição, levando para casa não só o título, mas um carro zero quilômetro cada um.
“Se a gente parar para observar, é a trajetória que o brasileiro tem, seus altos e baixos da vida, do dia a dia de um perrengue, mata um leão por dia, ergue a cabeça, segue em frente e tudo isso com muita alegria de estar fazendo aquilo. As dificuldades existem, mas saber ter tranquilidade neste momento é superimportante para deixar as coisas mais leves. Passa mil coisas na cabeça: você está em último, você está numa repescagem e você tem possibilidade de sair. Você fica ali apreensivo, mas esse não é o ponto-chave do teu sentimento naquele momento, é a alegria, levar isso como uma coisa mais leve e conseguir chegar onde a gente queria, chegar à grande final”, falou Rolon, que se tornou um representante do Pará na competição.
“Ainda estou meio aéreo, meio entendendo tudo o que está acontecendo. Parece um sonho que eu ainda não acordei. Eu entrei muito tranquilo, tinha consciência de que precisava estar muito tranquilo para conseguir chegar ao objetivo que queria”, comentou no dia seguinte à vitória.
BREGA
Em uma das repescagens, a dupla dançou o brega, ritmo acelerado, então teve os seus desafios na respiração, mas Rolon Ho, cuja alma é inteiramente paraense, celebra o desafio com gostinho de lar. “Essa edição foi tão incrível. Foi um marco! Pela primeira vez, o brega esteve na Dança dos Famosos, visto como dança em rede nacional. E foi onde a gente conseguiu maior audiência no programa do ‘Domingão’. Então, eu acredito muito que foi completa esta edição, a realização de um sonho mesmo”, falou.
O momento decisivo na competição, para ele, foi no desafio da dança contemporânea, pois como professor ele não tinha tanto domínio do ritmo, e sabia que aquele momento era decisivo para chegar na final.
Com estratégia e gana para vencer
“Eu já sabia qual eram os estilos que viriam [depois], o samba e o tango. E eu cheguei a comentar com a Priscila assim: ‘olha Pri, se a gente passar do contemporâneo, é muito difícil a gente não ganhar, porque são dois estilos, tango e o samba, principalmente, que é o decisivo, e eu sou especialista. Então, fica tudo mais fácil para a montagem coreográfica e o tango também. As técnicas são parecidas do samba, com um bolero que eu domino. Quando a gente conseguiu passar do contemporâneo para o samba, eu acreditei muito que seria nosso [o título]”, contou Rolon.
Conhecer os dois estilos deu a tranquilidade necessária para o professor entrar na final confiante, o que com certeza fez toda a diferença no resultado. “Entender os dois estilos me fez ter essa tranquilidade que precisava para uma dança final. Estou muito feliz, muito realizado por tudo que está acontecendo, teve muita emoção, um choro que estava preso, pelas dificuldades do programa, distância da família, de tudo. Mas na hora da dança, foi a dança mais tranquila de todo o programa”, acrescentou ele.
PARCERIA
Aplaudidos de pé durante as apresentações da grande final, Priscila Fantin e Rolon Ho mostraram que mereciam o troféu. Logo no começo da competição, a atriz recebeu o diagnóstico de uma doença rara, que provoca a inflamação do intestino. E mesmo com as dificuldades, ela seguiu na competição até conquistar a vitória.
“O mais importante é ter uma pessoa que queira vencer, que tenha essa pretensão, porque muitas das vezes alguns famosos entram na competição, mas o objetivo deles é participar, ser mais ‘reality’ e tudo bem se ganhar ou não. A Priscila gosta de competições e o objetivo dela era ganhar, e eu fiquei muito feliz. O que ela queria, eu queria também. Vencer essa competição é a realização de um sonho para mim”.
Rolon Ho conta que a conexão foi imediata. “A gente se conectou muito nesse ponto da vitória, da garra, luta e da perseverança, mas fora isso, ela é uma pessoa incrível, humilde, simples, muito honesta, muito certa nas suas escolhas, decisões e pensamentos. E ao mesmo tempo uma pessoa meiga, muito delicada, emotiva, mas também guerreira, forte, lutadora. Isso tudo nos fortaleceu para chegar nessa grande final e sermos campeões. Foi maravilhoso tê-la como parceira, acho que já estava escrito por Deus”, contou.
Após o anúncio dos campeões, a atriz agradeceu o marido Bruno Lopes e o apoio da família, sem esquecer o parceiro de dança, quando não economizou nos elogios. “Muito obrigada, você é genial, você é incrível no seu ofício. Você merece muito toda a repercussão, você carrega o seu Estado com tanta doçura. Beijo para o Pará, que esteve com a gente o tempo todo. Você é mestre!”, declarou a atriz durante o programa.
REPERCUSSÃO
Mas não é somente a atriz que sente orgulho do professor. Cilene Cortinhas, aluna de Rolon Ho há 12 anos, na Cia. Cabanos, também é fã e admiradora. “Além do carinho pela pessoa que é, o amor que tem pelos filhos, um profissional sem igual, já choramos nas derrotas também, mas estarei sempre o aplaudindo quando for merecedor”, falou ela, que teve a oportunidade de estar na plateia no dia do funk, quando o professor participou pela primeira vez do quadro, conduzindo a funkeira Jojo Todynho, em 2022.
“Ele sempre teve este sonho. Quando foi no ano da Jojo, ele ficou entre os seis melhores e já foi uma vitória merecedora. Mesmo sem troféu, festejamos muito, pois sabia a dificuldade financeira e pessoal dele, estar longe da escola e dos filhos faz muita diferença na hora de uma competição”, disse ela, entregando em seguida que nessa segunda jornada na Dança dos Famosos, muita gente não sabe, mas foi mais difícil para ele ir.
“Mas ele disse: ‘Desta vez, vou para ser campeão!’. Para quem não o conhece, com certeza pensou: ‘que pretensão!’, mas tem quem já ouviu estas palavras e presenciou, pois já foi campeão num evento de samba de Gafieira Brasil, no Rio de Janeiro. E vencendo cada obstáculo, foi em busca do sonho”, confidenciou ela.
Rolon Ho, mesmo sabendo que iria ter todas as mesmas dificuldades, longe de tudo e de todos, teve o apoio de uma equipe aqui em Belém. “Ele, ontem mesmo, após o programa, fez chamada de vídeo para cada um dizendo que estava muito feliz, o coração dele estava feliz e só tinha gratidão a todos!”, contou ela.
Rolon Ho tornou-se referência na Dança
A vitória de Rolon deve reverberar para a dança como um todo, principalmente aqui no Pará, servindo de incentivo para outros profissionais da dança e, quem sabe, novos dançarinos.
“Representa um marco para os profissionais do Estado do Pará, quebra barreiras e paradigmas que aos poucos estão sendo superados. Ou seja, o Norte e o Pará também produzem profissionais com excelência. A vitória do Rolon é um incentivo para qualquer profissional que almeja crescer na dança, mostra que é possível estar em âmbito nacional e internacional”, falou o professor Evandro Sales, presidente da Associação Paraense da Dança de Salão, que já foi presidida por Rolon.
Evandro estava nos estúdios da Globo acompanhando a final de perto, à convite de Rolon Ho. “Foi uma experiência única, entrar na Globo e torcer pelo Rolon e a Priscila”, disse Evandro, que ao acompanhar o amigo não conteve a emoção de vê-lo vencer a competição. “Chorei demais, pois presenciei muita coisa, eu comecei a minha trajetória com o Rolon. Ele sendo meu mestre, absorvi muitos ensinamentos e olhares que ele tem. É muito bom a gente vibrar e torcer, de coração, por um colega de profissão”, acrescentou.
Rolon representou tão bem o Estado, que tramita na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), um pedido para que ele receba o título de Cidadão do Pará, no próximo semestre. O dançarino nasceu em Caiena, capital da Guiana Francesa, e ainda bebê foi trazido para o Pará, tendo sido a casa que sempre reconheceu como sua e agora terá a oportunidade de oficializar.
AGENDA
Mas Rolon ainda não vai poder matar a saudade de casa, dos amigos, família e da sua companheira. Ele seguiu do Rio de Janeiro direto para Florianópolis, em Santa Catarina, onde vai participar do “Baila Costão”, maior evento de dança do salão do Brasil. Lá, vai passar uma semana dando aula, voltando apenas no próximo domingo, 9, para Belém.
“Eu estou reservando de dez a quinze dias para ficar com a família, matar a saudade, e em agosto, setembro e outubro a gente já tem workshop. Vamos para Manaus, Macapá, Gramado e outras cidades. Agora é planejar um segundo semestre produtivo. E também a Cia. Cabanos é algo que não para na minha vida, é a minha escola, onde a gente recebe as pessoas para ensinar a dança de salão, o brega, o samba, o bolero…”, contou.
Mas os fãs, admiradores, alunos e o povo paraense sem dúvida estão esperando por Rolon Ho, pois ele representou lindamente a dança e elevou o Estado do Pará em rede nacional. Os amigos, familiares e alunos se mobilizaram para recebê-lo com festa. “No ano da Jojo, o recebemos no aeroporto de madrugada, ele não sabia de nada, fizemos a maior gritaria e foi uma surpresa mesmo. Este ano ele já sabe que iremos recebê-lo”, comentou Cilene, que não segurou a emoção ao ver o professor sendo campeão.
“Ver aquela emoção dele na tevê, mostrando o seu sonho na mão (troféu) e dizendo que é pelo nosso Estado, não tem como não chorar e gritar muito. Ele é merecedor de cada conquista! E pelo pouco que o conheço (risos), podem esperar, ele já está pensando no próximo sonho”, finalizou Cilene.