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Cristina Serra lançou "Nós, sobreviventes do ódio" em Belém

Cristina Serra quer reforçar nos leitores a importância de se sentir parte da democracia e lutar por ela. FOTO: RICARDO AMANAJÁS
Cristina Serra quer reforçar nos leitores a importância de se sentir parte da democracia e lutar por ela. FOTO: RICARDO AMANAJÁS

Aline Rodrigues/Diário do Pará

Uma reflexão em tempo real sobre os anos mais difíceis do Brasil contemporâneo é o que traz o livro “Nós, sobreviventes do ódio”, da jornalista e escritora paraense Cristina Serra. Ela reúne 224 crônicas sobre o Brasil, publicadas por ela entre os anos de 2020 a 2023, na “Folha de São Paulo”. A obra, que já está à venda, ganhou lançamento especial em Belém na noite de ontem, 14. Em entrevista ao DIÁRIO, Cristina detalhou que a seleção foi feita a partir de um critério: as colunas que refletissem esse momento vivido no País.

“Mas a partir de quatro temas específicos: os ataques do Bolsonaro à democracia, os ataques ao povo brasileiro durante a pandemia, os ataques aos direitos humanos e ao meio ambiente. Esses foram os assuntos sobre os quais eu mais escrevi, mas não são só eles. Eu escrevo sobre outras coisas, todas elas a partir de uma reflexão que eu fazia durante o momento que escrevi, sobre o que estava acontecendo no Brasil”, explicou a jornalista.

A escolha de Cristina por essas temáticas principais se deu por representarem muito bem o que foi o governo Bolsonaro. “Ele atacou as instituições e a democracia muito a partir desses assuntos, e sobretudo claro, quando eu falo de ataques ao povo brasileiro, é o que ele fez, o que deixou de fazer durante a pandemia. Quando não se empenhou em comprar vacina, quando não recomendou o uso de máscara, quando recomendou a cloroquina, e isso resulta nesse número absurdo e trágico de 700 mil brasileiros mortos na pandemia. Aliás, eu dedico o livro a esses brasileiros”, acrescentou a jornalista.

A ideia de selecionar as crônicas e transformá-las em um livro surgiu da sugestão de leitores que se sentiram representados. “Eu comecei a escrever em 2020 e entra um pouco em 2023 para falar da transição do governo Bolsonaro para o governo Lula. E porque aconteceu também o 8 de janeiro, era importante falar o que representou aquele atentado terrorista, até para falar do futuro do Brasil, que é a última coluna que está publicada no livro. Falando das preocupações, mas apontando também essa tarefa enorme de reconstrução que a gente tem do país”, comentou a autora.

Cristina Serra lançou seu livro de crônicas em Belém, com sessão de autógrafos no Palacete Faciola. Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará
DOCUMENTAÇÃO

“Nós, sobreviventes do ódio” tem como objetivo a documentação e memória, acrescenta. “Claro, o pior [governo] da nossa história contemporânea foi o período ditatorial, que mata, executa, violenta, estupra, prende, persegue as pessoas. Mas no período democrático, o governo Bolsonaro, que é o herdeiro da ditadura, dos porões, declaradamente defensor da tortura, foi o pior que poderia ter nos acontecido. Então, isso precisa ser documentado, lembrado, para que esses crimes não fiquem impunes. Bolsonaro precisa ser investigado, processado, de preferência condenado e preso. Eu espero que o livro dê uma contribuição nesse sentido”, pontuou ela.

E escrever as crônicas não foi tarefa fácil, diz Cristina. “Os impactos da pandemia são de caráter prolongado e foram prolongados e aprofundados no Brasil porque o Bolsonaro, com as suas ações e omissões, fez tudo para amplificar seus efeitos sobre a população. São impactos muito diversos e muito duradouros, tem pessoas ainda lidando com as sequelas da covid, são impactos emocionais, mentais e a gente vai ter que lidar com isso durante muito tempo e não precisava ter sido assim, se ele tivesse sido um presidente minimamente responsável e preocupado com o povo brasileiro”, disse Cristina, que emendou dizendo que não se poderia esperar uma conduta diferente de quem defende a tortura.

“Foi muito difícil, quando eu refletia sobre isso para escrever, foi muito doloroso, mas a gente tem que escrever, é o nosso trabalho como jornalista ou escritor, escrever, seja no jornal, num livro, porque é o exercício da memória, isso precisa ficar documentado”, reforçou Cristina. Para ela, o livro, se lido num conjunto, sobre todos os assuntos mencionados, faz o leitor refletir como a democracia é fundamental, como precisamos dela e precisamos defendê-la no cotidiano.

“Democracia não é uma abstração, não é um conceito, ela só faz sentido para as pessoas se elas se reconhecem na democracia, entendem os benefícios de viver numa sociedade democrática”, acrescentou. Na intenção de debater tais temas diretamente com seus leitores, Cristina realizou o primeiro lançamento de “Nós, sobreviventes do ódio” no Rio de Janeiro, o segundo em Belém, e segue para São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.

A jornalista paraense também realiza o lançamento em outras capitais brasileiras. Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará
LEIA

“Nós, sobreviventes do ódio – Crônicas de um país devastado”
Autora: Cristina Serra
Editora: Máquina de Livros
Preços: R$ 59 (impresso) e R$ 40 (e-book)
Páginas: 248