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Companhia Deborah Colker faz última apresentação de "Cura" no Theatro da Paz

Espetáculo une fé e ciência e fala sobre fragilidades e potências humanas FOTO: LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO
Espetáculo une fé e ciência e fala sobre fragilidades e potências humanas FOTO: LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO

Na vida, é preciso ter fé. Foi com plena certeza que a coreógrafa e bailarina Deborah Colker disse isso ao encarar a plateia do Theatro da Paz lotada de profissionais da dança e jovens estudantes vinculados a projetos sociais, na última sexta-feira, 14, e destacar as linhas gerais do espetáculo “Cura”, antes da companhia de dança que leva seu nome entrar no palco para uma apresentação especial para convidados. Não uma fé explicitamente religiosa, embora “Cura” também fale sobre isso. Pode ser a fé na ciência, na alegria. Em nós.

É esse sentido daquilo que há de mais humano, expresso em suas dualidades, fragilidade e força, que está exposto nas seis coreografias que compõem “Cura”, em última apresentação no Theatro da Paz neste domingo, 16, às 18h (ingressos de R$ 40 a R$ 150 pelo Ticket Fácil ou na bilheteria do teatro), traçando um percurso pelos sofrimentos do corpo, da doença, da imperfeição, até chegar à sublimação do reencontro com a essência de nós, a alegria, de um corpo que precisa dançar. Com tudo isso e mais. Apesar de.

Aos seus pares e aspirantes ainda ao mundo da dança – alguns muito jovens – Deborah explicou didaticamente os passos de construção de “Cura”, partindo da experiência pessoal com o neto Theo, que nasceu com uma condição genética rara, a epidermólise bolhosa, para ir bem além, debruçando-se sobre a mitologia iorubá, as pesquisas científicas sobre a terapia gênica, excertos dos salmos do rei Davi, a vida do físico Stephen Hawking, que desafiou os prognósticos para sua vida, para apontar a cura ao que não tem cura. “Eu descobri que sempre tem um jeito. Porque a gente tem muitos planos, o físico, o emocional, intelectual, espiritual, e muitos outros. Então, fiz essa ponte entre a fé e a ciência. Porque tem que ter fé. Fé tem a ver com resistência, com insistência. Adoro essa palavra ‘teimosia’. Ah, não tem jeito? Tem, sim”, disse uma Deborah que mesmo fora de cena dança, com os pés, com os braços, com a voz.

FOTO: LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO

PÚBLICO SE ENCANTOU COM APRESENTAÇÃO

Kerolaine Savana, 23, graduanda em Dança na UFPA, estava na plateia e assistiu pela primeira vez à “Cura”. Ficou encantada com o uso das estruturas criadas pelo cenógrafo Gringo Cardia. “Quando a gente fala de dança contemporânea, são pouco usados os elementos cênicos, e a forma como foram usados hoje, as plataformas, é uma maravilha. Não tenho outra palavra para descrever”, diz ela, que destaca a perspectiva diferente para o espectador que também se dedica ao estudo da dança. “Quando a gente já tem uma base de como são os bastidores de uma performance, fica muito mais encantado, porque sabe que é um trabalho árduo”.

“Traz uma mensagem não só de esperança, mas também de quebrar algumas barreiras de pensamento, e o trabalho coreográfico é maravilhoso”.

A professora e coreógrafa Rose Meiguins, da Escola de Dança e Companhia Arte e Movimentos, sabe bem disso. Ela, que assistiu pela segunda vez à performance da companhia de Deborah Colker em Belém (a companhia se apresentou por aqui em 2021), diz que é “um espetáculo inesquecível”. “Traz uma mensagem não só de esperança, mas também de quebrar algumas barreiras de pensamento, e o trabalho coreográfico é maravilhoso. Uma experiência que você começa a assistir, participar, e quando termina, você tem a sensação de que não conseguiu desgrudar o olho.”

“Cura”, apresentado pelo Instituto Cultural Vale via Lei Federal de Incentivo à Cultura, inicia com a história de Obaluaê – ao mesmo tempo orixá da cura e da doença – e de um corpo que busca se libertar das feridas e ser aceito. Reflete sobre o que é belo e o que é feio, sobre rótulos, dança a imobilidade, as angústias, as impossibilidades, expõe o corpo que encontra seus próprios limites, que se desagrega, se desorganiza, mas também ultrapassa obstáculos, os desconstrói, bloco a bloco.

Em “Cura”, como na vida, há muitos tempos. Há o tempo do grito. E há também o tempo do silêncio que range dentro da gente, como as cadeiras na plateia. O tempo da súplica. Até nos reencontrarmos em nós mesmos, de volta ao começo. Na alegria e no riso. Porque na vida, é preciso ter fé. E é preciso dançar.

*Aline Monteiro é editora do caderno Você

 

“Cura” –  Cia. Deborah Colker

Quando: Hoje, às 18h. (Tolerância de 10 minutos. Após, não será permitido o acesso)

Onde: Theatro da Paz (Rua da Paz, s/n, Praça da República)

Quanto: R$ 40 (proscênio PCD), R$50 (paraíso), R$80 (galeria e camarote 2ª ordem), R$120 (frisa e camarote 2ª ordem) e R$150 (varanda e plateia), com vendas on-line (ticketfacil.com.br) e na bilheteria do teatro.