A ministra da Cultura Margareth Menezes participou, nesta quinta-feira (11), da cerimônia de assinatura dos primeiros contratos do Rouanet Norte. A cerimônia aconteceu na sede do Banco da Amazônia, em Belém, com a presença do titular da Secretaria de Economia Criativa e Fomento Cultural (Sefic) do Ministério da Cultura (MinC), Henilton Parente de Menezes, e de vários artistas, incluindo três dos que tiveram seus projetos contemplados com o programa do Governo Federal.
O edital do programa Rouanet Norte selecionou 125 projetos e destinou R$ 24 milhões em patrocínio para iniciativas culturais nos sete estados da região, por meio de incentivo fiscal. Dos 125 projetos, a distribuição por estados ficou em: 33 do Pará, 20 do Tocantins, 15 do Amazonas, 15 de Rondônia, 14 do Amapá, 14 do Acre e 14 de Roraima. Os recursos são provenientes de quatro financiadores da Lei de Incentivo à Cultura: Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, que contribuirão com R$ 6 milhões cada. As ações selecionadas começam neste mês de julho e vão até o final do primeiro semestre de 2025.
Durante a coletiva, a ministra Margareth Menezes explicou que foi feito um levantamento da Lei Rouanet para incluir a diversidade do país. “A Lei Rouanet era muito concentrada no sudeste, especialmente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. E nesse histórico que foi levantado, a região Norte foi a menos contemplada, além da região nordeste, centro-oeste e sul”, esclarece.
Segundo a ministra, é preciso fazer a nacionalização dos recursos da cultura para que ela alcance cada vez mais artistas. “Que fique claro que nós não estamos fazendo a descentralização do fomento, nós estamos fazendo a nacionalização, oportunizando que todos os estados tenham acesso a essa lei, que injeta diretamente uma possibilidade de desenvolvimento da economia”, acrescenta.
“O Brasil tem uma representatividade reconhecida no mundo inteiro como um dos países que mais influenciam outros países com a sua cultura, isso é fato, isso não é uma história que estamos inventando. Acho que todos nós sabemos do aspecto da força do Brasil como um país respeitado, principalmente pela cultura e pela arte, mas também precisamos tirar a contrapartida econômica disso. Ao longo desse processo todo, nós temos uma economia que transforma vidas, eu sou um exemplo de vida transformada pela cultura e pela arte, assim como milhões que trabalham nesse setor. Com essa visão, estamos implementando essa política de nacionalização”, completou.
“Na região norte toda são 125 projetos, que serão contemplados com um teto de R$ 200 mil cada. Isso oportuniza um circuito de acesso de acontecimentos culturais a partir desse projeto da lei Rouanet Norte”, finaliza a ministra.
O secretário Henilton Parente de Menezes, responsável pela gestão da Lei Rouanet no MinC, ainda pontuou que antes do investimento que vai ser feito neste semestre, o Ministério da Cultura promoveu a qualificação de 2,5 mil agentes culturais dos sete estados da região Norte, para que essas pessoas pudessem ter acesso a esse tipo de recursos. “Somente com esse treinamento no ano passado, a região norte aumentou em 200% o investimento nos sete estados, e olhem que ainda não entrou o recurso desse programa. Em breve, nós vamos ter um outro investimento também de uma grande estatal, que é a Petrobrás”, adiantou.
CENTRO CULTURAL
Na ocasião, também foi assinado o protocolo de intenção para a implantação do primeiro Centro Cultural do Banco da Amazônia, que deve ser inaugurado em julho de 2025, em Belém, onde fica a matriz da instituição financeira. Ele vai ocupar três andares: o térreo, a sobreloja e o primeiro andar. Nestes serão instalados galerias, espaço de oficina de música, de artes plásticas, biblioteca e cafeteria. A intenção futura é que haja microcentros nas diversas capitais da região Norte para realizar a itinerância das exposições que chegam à Belém. Ampliando espaços de exposição da produção cultural paraense e também seu diálogo com a população e os artistas dos demais estados.
CONTEMPLADOS
Entre os três projetos escolhidos para representar os contratados com o Rouanet Norte, está: “Esse Rio é Minha Rua”, do grupo Palhaços Trovadores, o “Rodando com Carimbó”, proposto por Joanna Denholm, e o projeto “Tó Teixeira: Mergulho na Vida e Obra”, proposto pela Kamara Kó.
A produtora Joanna Denholm, representante do “Rodando o Carimbó”, que fará circulação por 10 municípios paraenses, explica que o projeto consiste em utilizar o carimbó, patrimônio imaterial do estado, como instrumento para conversar com as comunidades que fazem cultura popular, “para saber como elas estão sobrevivendo”, diz ela. “A gente leva, no começo, uma agenda de sustentabilidade cultural para ajudar essas comunidades. E no final, a gente faz um relatório falando como é que essas comunidades estão mantendo suas culturas populares, e tudo isso vai ficar disponibilizado gratuitamente na internet para que possam, a partir daí, serem realizadas outras políticas para ajudar esses fazedores de cultura”.
A produtora destacou a importância de investimentos voltados especificamente para a produção artístico-cultural na região Norte do país. “A gente está aqui representando vários projetos. Hoje, o governo federal olha para a gente como Norte, como um local de detentores de cultura e também como um local que precisa ser olhado com olhar diferente. A gente tem necessidades específicas e a gente tem uma cultura muito rica. Então poder ser contemplado através de outras entidades é muito maravilhoso para a gente”, diz Joanna.
Já o fundador e diretor do grupo Palhaços Trovadores diz que é um momento de grande celebração para o grupo, que completa 26 anos de resistência. “É uma trajetória muito dura e de muito trabalho. Hoje temos uma sede, que é a Casa dos Palhaços, isso facilita muito o nosso trabalho. Somos um dos poucos que fazem teatro de grupo na cidade, especificamente com a linguagem de palhaço ou do Clown. E nós somos um grupo que trabalha, há 26 anos, quase com um elenco fixo, que é muito difícil aqui também porque os artistas de Belém, na sua maioria, não vivem só do seu trabalho artístico, infelizmente”, disse.
O ator acredita que a Rouanet Norte vai ajudar de muitas formas: “primeiro, faz com que a gente circule com nosso trabalho e entre em áreas que geralmente o teatro não vai”, considera. “O nosso projeto prioriza essas áreas, como cidades pequenas e ilhas. E também ajudará na manutenção das atividades que desenvolvemos no nosso espaço [a Casa dos Palhaços]”, conclui.
O fotógrafo Miguel Chikaoka, representando a Kamara Kó, contemplada com o projeto sobre o violonista, compositor e arranjador Tó Teixeira, completou: “Essa é uma grande vitória não só do nosso projeto em si, acho importante sublinhar que as regiões mais afastadas dos grandes centros econômicos acabam sendo prejudicadas na distribuição daquilo que cabe à população, do direito de conquistar esses lugares, então deve-se ainda dar mais apoio às populações tradicionais, de territórios indígenas e quilombola, para elaborarem projetos e serem contemplados também”.
Por Trayce Mello