EXPOSIÇÃO

Circuito Maré Lançante transforma Jurunas em museu vivo da Amazônia urbana

Exposição itinerante do Museu D’Água promove escuta ativa, resgata memórias e coloca a periferia de Belém no centro do debate sobre justiça climática

Exposição itinerante do Museu D’Água promove escuta ativa, resgata memórias e coloca a periferia de Belém no centro do debate sobre justiça climática
Exposição itinerante do Museu D’Água promove escuta ativa, resgata memórias e coloca a periferia de Belém no centro do debate sobre justiça climática

Belém e Pará - O bairro do Jurunas, na periferia de Belém, se transforma neste mês em um verdadeiro museu a céu aberto. É o Circuito Maré Lançante, nova exposição itinerante e interativa do Museu D’Água, que durante quatro semanas ocupará ruas, casas e espaços comunitários com histórias, memórias e reflexões sobre a Amazônia urbana.

A proposta da mostra vai além da contemplação: é um convite à escuta ativa e ao diálogo sobre pertencimento, meio ambiente e justiça climática. O circuito tem início nesta sexta-feira (25), com uma vernissage de abertura no espaço Gueto Hub, marco oficial da programação.

Moradores como protagonistas

A exposição é construída a partir das histórias de quem vive no Jurunas. Cada ponto do circuito revela um “cantinho da memória”, formado por objetos, imagens, depoimentos e elementos do cotidiano dos moradores — de fotografias antigas a bolas de futebol, fantasias e até jornais guardados há décadas.

“Essa exposição é uma forma de garantir que os moradores não apenas conheçam melhor a história do bairro, mas também se reconheçam nela. É sobre lembrar que o Jurunas é feito de gente, de histórias, de luta e de beleza”, afirma a historiadora Ruth Ferreira, moradora do bairro e uma das curadoras do projeto.

Exposição feita com e para o bairro

A curadoria é assinada por Tamires Pinheiro, museóloga e também moradora do Jurunas. Segundo ela, a escolha do bairro é tanto geográfica quanto política. “O Museu D’Água nasceu com o propósito de salvaguardar e dar visibilidade à memória viva do Jurunas. É um bairro historicamente marcado por resistências e saberes que muitas vezes foram invisibilizados”, diz.

Todos os integrantes da equipe são jovens do bairro, capacitados em mediação cultural e comunicação comunitária. Eles participaram da coleta dos relatos e objetos, por meio de visitas, entrevistas e escutas realizadas de porta em porta.

Tecnologia a serviço da memória

Um dos destaques da exposição é o uso de telefones antigos: ao levantar o fone, o visitante escuta áudios gravados pelos próprios moradores, como se estivesse conversando diretamente com eles. Totens com fotos e minibiografias ajudam a aproximar ainda mais o público das trajetórias compartilhadas.

As histórias reunidas abordam temas diversos — desde espiritualidade afro-amazônica e festas populares até racismo ambiental, cheias do Rio Guamá, remoções forçadas, comunicação comunitária e luta por moradia.

Justiça climática contada por quem vive os impactos

O Circuito Maré Lançante também atua como plataforma de conscientização sobre justiça climática, tratando de questões como alagamentos, degradação ambiental e ausência de saneamento básico — sempre a partir das vivências da população local.

“A crise climática não é só ambiental. Ela é social, afetiva e desigual. Ao ouvir as pessoas que vivem esses impactos diariamente, construímos uma memória coletiva que denuncia e propõe, que emociona e mobiliza”, destaca Ruth Ferreira.

Programação e participação

A abertura oficial da exposição ocorre nesta quinta-feira (25), a partir das 17h, no Gueto Hub, localizado na Travessa Quintino Bocaiúva, nº 3729. Antes disso, no dia 24, a equipe do Museu D’Água realiza uma mobilização interna com os voluntários para finalizar os preparativos.

Após a abertura, o circuito seguirá por diversos espaços do Jurunas, como escolas, praças e pontos simbólicos. A agenda completa será divulgada no Instagram do Museu D’Água: @museudagua. A participação é gratuita e aberta ao público.

“Não é necessário inscrição. Basta chegar com disposição para ouvir, partilhar e reconhecer o Jurunas como um território de potência e história viva”, reforça Ruth.

Sobre o Museu D’Água

O Museu D’Água é um projeto comunitário que busca preservar a memória cultural, histórica e artística do chamado “Distrito D’Água” — território periférico de Belém às margens do Rio Guamá. Com exposições, oficinas, entrevistas e ações educativas, o museu atua na valorização da identidade local.

O acervo inclui a coleção fotográfica “Olhos D’Água”, formada por imagens doadas por moradores, além de uma coleção de arte contemporânea com foco em memória e cultura das periferias brasileiras.

O Circuito Maré Lançante é uma realização do Museu D’Água com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS)

SERVIÇO

Circuito Maré Lançante
Abertura: Quinta-feira, 25 de julho
A partir das 17h
Local: Gueto Hub – Trav. Quintino Bocaiúva, 3729 (entre Av. Roberto Camelier e Tv. Honório José dos Santos)
Instagram: @museudagua