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Cinema paraense ganha espaço em festivais pelo Brasil

Cena de "Em Cantos do Gurupi", já selecionado para seis festivais, incluindo o Olhar do Norte FOTO: DIVULGAÇÃO
Cena de "Em Cantos do Gurupi", já selecionado para seis festivais, incluindo o Olhar do Norte FOTO: DIVULGAÇÃO

“O Pará faz um cinema muito articulado, com linguagens muito diversas, acho que a gente tem um cinema de natureza, explorando ambientes, mas que também tem espaço para um cinema bastante contundente politicamente; e também um cinema que tenciona linguagem: um cinema criativo, inventivo”, analisa Diego Bauer, diretor artístico e curador do Festival de Cinema da Amazônia – Olhar do Norte, que ocorrerá de 22 a 25 de agosto, com as principais mostras no Teatro Amazonas, em Manaus.

A lista de selecionados do festival, anunciada na tarde de ontem, inclui quatro produções do Pará: “Bebé”, da cineasta Isadora Lis, e “Cabana”, de Adriana de Faria, que estão na Mostra Amazônia; além de “Em Cantos do Gurupi”, de Judite Nascimento e San Marcelo, e “Kumarú: Cura, Força e Resistência”, de João de Paula, que estão na Mostra Olhar Panorâmico.

Pelo mesmo festival, também já passaram cineastas paraenses como Fernando Segtowick. “Eu acho que o cinema do Pará também tem uma semelhança com o restante dos outros estados da Região Norte, que é uma forma criativa de driblar a falta de recursos financeiros para produzir. É um cinema que a gente está sempre muito interessado. Ano após ano, o Pará traz filmes muito bons”, elogia Bauer.

Produção audiovisual está crescendo no Pará

De fato, mesmo com seus entraves, a produção no estado tem se tornado cada vez mais intensa e chegado cada vez mais aos festivais de cinema de todo o país. Um bom exemplo é que San Marcelo, concorrendo no Olhar do Norte com “Em Cantos do Gurupi”, também está na lista de selecionados do 2º Olhar Periférico Festival de Cinema, com o curta-metragem “Benzedeira”, parceria com o diretor Pedro Olaia. O evento, que inicia hoje, 2, segue até sábado, 5, em São Paulo, reunindo filmes que apresentam as diversas periferias brasileiras.

“É um festival que está na segunda edição, mas tem uma potência absurda, pela perspectiva que traz de cinema. E a gente se inscreveu e foi selecionado para a mostra competitiva Todos os Olhares”, detalha San Marcelo.

“Benzedeira” conta a história de Maria do Bairro, benzedeira que vive em uma ilha na comunidade do Tamatateua, interior de Bragança. “A equipe do filme e eu sempre ficamos felizes por cada festival em que ‘Benzedeira’ é selecionado ou convidado, pois é mais um lugar que nosso cinema paraense, amazônida, explora, finca sua bandeira, mostra que é potente!”, diz o diretor.

O próprio “Em Cantos do Gurupi” é o filme produzido pela Sapucaia Filmes, produtora encabeçada por San Marcelo, que mais conseguiu rodar festivais, sendo o Olhar do Norte o sexto. “Acabou de passar no Espírito Santo, no festival de Santa Teresa, e hoje [ontem] recebemos a notícia que estaremos nesta mostra em Manaus”, comenta. O curta imerge nas memórias da infância de quatro personagens, as quais relembram cantigas de roda e as brincadeiras nos quintais e rios em São José do Gurupi, em Viseu, e acompanha a musicalidade despertada nos mais experientes da comunidade.

“Quero que um dia seja supercomum ver filmes paraenses em festivais, assim como são os filmes do Sul!”

“Quero que um dia seja supercomum ver filmes paraenses em festivais, assim como são os filmes do Sul! Participar deste festival [Olhar Periférico] é mais uma conquista para nós, e se levarmos alguma premiação, maravilha!!!”, diz San Marcelo.

“Cabana”, da diretora Adriana de Faria, trata da participação das mulheres na Cabanagem. FOTO: DUDA SANTANA/DIVULGAÇÃO

Troca entre profissionais fortalece cena nortista

O diretor do festival Olhar do Norte destaca um ponto importante dessa chegada do cinema paraense a outros estados, que é a troca entre os profissionais da área. E em especial, a troca entre os realizadores da região Norte. “Acaba sendo comum, por exemplo, a gente produzir algum trabalho e, em vez de convidar alguém aqui da Região Norte, acabar chamando alguém de outro lugar do Brasil. Sendo que já ficou muito claro que nós temos uma rede de profissionais, na Região da Amazônia Legal, de ótima qualidade. Muitas vezes a gente nem conhece, nunca teve oportunidade de assistir a algum curta do Acre, do Amapá, de Roraima, do Pará e outras localidades amazônicas”.

A ideia base do Olhar do Norte é estabelecer esse momento de encontro que eleva a autoestima das produções nortistas, desperta a criatividade e o ímpeto de produzir, a partir desse intercâmbio de estéticas, de pensamentos, de vertentes. “Também, claro, de profissionais que têm muito a acrescentar em projetos, por também já terem uma compreensão dos desafios da região amazônica. Penso que o festival é uma rede de contatos que, eu tenho certeza, nos próximos anos vai gerar frutos incríveis. Quanto mais gente de qualidade tiver meios para produzir, se conhecer e trocar ideia, mais obra de qualidade a gente vai produzir, com a nossa identidade, da maneira que a gente enxerga o mundo, a gente exportando o nosso trabalho para fora”, reforça Bauer.

Animação paraense participa de festival no Ceará

As trocas com outras regiões seguem crescendo. Um exemplo disso é a animação “Contos Mirabolantes – O Olho do Mapinguari”, dos paraenses Andrei Miralha e Petrônio Medeiros, anunciada entre os selecionados para a 2ª edição do Festival Samburá de Cinema e Cultura do Mar, realizada nos distritos de Pecém e Taíba, no Ceará, em setembro. Ao todo, 286 produções foram analisadas pela curadoria, até chegar aos 30 curtas-metragens que serão exibidos.

No filme, a personagem principal é uma menina de 7 anos que, cansada de ouvir seus pais contarem as mesmas historinhas antes de dormir, decide inventar um conto mirabolante. Nele, o terrível Mapinguari da Amazônia, um monstrão com uma enorme boca na barriga, perde seu único olho, e Maria Estrela, montada em Esperança (seu Boi Bumbá alado), parte em uma destemida busca para encontrar o olho e restaurar a paz na floresta.

“Contos Mirabolantes – O Olho do Mapinguari”, animação de Andrei Miralha e Petrônio Medeiros FOTO: DIVULGAÇÃO

Andrei Miralha conta que ficou muito feliz em levar esta história até o público do interior do Ceará. “Este festival destaca produções que trazem temáticas relacionadas com ecologia, cultura do mar e direitos humanos e será exibido ao ar livre, na Praia do Pecém, município de São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Essa é uma mostra competitiva e esperamos que o público se divirta com todas as produções selecionadas. Se o prêmio vier para nós, será lindo! Mas já ficamos imensamente felizes do ‘Olho do Mapinguari’ passar pelo Ceará e esperamos que brevemente passe por outros estados do Brasil”, já sonha o diretor. Com tantos filmes paraenses circulando pelo país, este é um sonho bastante provável de se realizar.