DIÁRIO DE CANNES

Cineastas exilados resistem no Palais du festival

Um dos maiores cineastas do mundo e que se recusa a ser silenciado por um régime autoritarisme, Jafar Panahi volta à Cannes

Jafar Panahi volta à Cannes com Un Simple Accident após 15 anos afastado ou melhor, impedido de comparecer mesmo tendo filmes selecionados para o festival
Jafar Panahi volta à Cannes com Un Simple Accident após 15 anos afastado ou melhor, impedido de comparecer mesmo tendo filmes selecionados para o festival

Por Lorenna Montenegro

Direto de Cannes, França 

Estamos oficialmente na reta final da edição 2025 do Festival de Cannes, a quatro dias da cerimônia de premiação, com o movimento no mercado – localizado no subsolo do Palais – diminuindo consideravelmente enquanto famosos e desconhecidos desfilam pelo tapete vermelho antes das sessões de gala dos filmes da competição especial ou em estreia mesmo fora da competição, na croisette.

Muitas pessoas se aprontam, de smoking ou vestido de festa, pegam um pedaço de papel ou uma plaquinha e escrevem “one ticket please” ou « a billet si tout plait » e focal em frente ao Palais du festival, na esperança de conseguir um ingresso para entrar, « marcher » pelo tapete vermelho e consequente ver um filme dentro do grande Teatro Lumière. 

Um dos maiores cineastas do mundo e que se recusa a ser silenciado por um régime autoritarisme, Jafar Panahi volta à Cannes com Un Simple Accident após 15 anos afastado ou melhor, impedido de comparecer mesmo tendo filmes selecionados para o festival. Preso desde 2022, solto em 2023 após fazer um regime de fome, o realizador iraniano havia sido condenado pelo governo dos Aiatolás em 2010, por fazer propaganda contra o regime do seu país, e com esse novo filme que concorre à Palma de Ouro, direciona o seu olhar hipercrítico a República Islâmica do Irã a partir de uma comédia de erros.

Já o diretor sueco de ascendência egípcia Tarik Saleh, no thriller Eagles of the Republic optou por ter um dublê atuando como o atual presidente do Egito, Abdel Fatah Al Sisi, além de usar imagens de arquivo do verdadeiro na trama explosiva e política sobre o astro do cinema George El-Nabawi, que cai em desgraça da noite para o dia e passa a ser perseguido pelo governo ditatorial (assim como Saleh na vida real).

Arab Nasser e Tarzan Nassi, diretores de Once Upon a Time In Gaza são gêmeos, palestinos e aproveitam a plataforma do festival de Cannes para dar voz à Palestina, a história do povo palestino e a história de luta na Faixa de Gaza. Selecionados no Un Certain Regard, os cineastas são habitués de Cannes desde 2013, quando fizeram história ao terem o curta Condom Lead selecionado, sendo o primeiro filme palestino a entrar no festival de Cannes.

Hoje radicados entre a Jordânia e Portugal, eles deslocam a história no filme em competição neste ano para 2007, quando o grupo paramilitar Hamas assumiu o controle de parte da Faixa de Gaza, até os dias de hoje, quando fazem referência ao território como ‘era uma vez’, porque Israel destruiu Gaza de norte a sul e massacrou tudo e todos ali.