Cia. de Potoqueiros apresenta nova montagem da “Divina Comédia”

Aline Rodrigues

“O nosso objetivo é que as pessoas de fato pensem e repensem suas atitudes, a forma de agir em relação a algumas situações, a algumas pessoas e se as pessoas saírem tocadas um pouquinho, o espetáculo cumpre a sua função”, diz Breno Monteiro, diretor do espetáculo teatral “Nártex”, que será apresentado hoje, 21, às 19h, no Espaço das Artes de Belém.

O espetáculo é a última parte de uma trilogia teatral encenada pela Cia. Paraense de Potoqueiros, baseada na obra literária “Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Foi antecedido por “Lúgubre”, que tomou como base os primeiros 33 cantos da obra, que fazem referência ao Inferno, e “Catarse”, com os 33 cantos centrais, que falam sobre o Purgatório. Agora, os 33 cantos finais, que correspondem ao Paraíso, dão base para “Nártex”.

“Com isso a gente chega ao fim da obra de Dante, montando a nossa tríade divinal. E essa é a primeira vez que o espetáculo ‘Nártex’ está sendo apresentado ao público, porque foi montado durante a pandemia, com auxílio da Lei Aldir Blanc. Fizemos em formato de live, gravamos e publicamos o espetáculo. Então, agora está sendo apresentado ao vivo, com o público. Basicamente é a nossa estreia”, considera Breno.

“Nártex” era o nome do espaço da igreja onde ficavam as pessoas que não tinham autorização para adentrar o espaço: escravos, pecadores, impuros, mulheres, estrangeiros e os não cristãos. “Por isso que nós pegamos esse nome, porque o nosso Nártex é um local dos excluídos, das pessoas que talvez não tivessem acesso a um verdadeiro paraíso. O nosso Nártex traz esse questionamento: Quem de fato tem direito a esse paraíso? E que paraíso é esse?”, detalha Bruno.

Toda a trilogia montada pelo Potoqueiros vem primeiro fazendo perguntas. Quem tu és? Como tu reages frente a algumas situações? Quais vão ser as tuas decisões de vida? É isso que define para onde tu vais, a que local tu pertences e como tu queres viver: tu queres viver uma vida no Lúgubre? Tu queres passar uma eternidade no Catarse ou tu buscas um Nártex, um paraíso?

São questionamentos que, segundo o diretor, todos devem fazer para que possam viver uma vida melhor. “O Nártex não é diferente, ele simplesmente fala como funcionaria esse planeta, esse mundo, dependendo das escolhas que a gente fez. E quais pessoas teriam acesso a esse local, quais seriam autorizadas a entrar nesse paraíso. Só que tudo é um ciclo. A vida é um ciclo, então será que esse final da caminhada realmente é o final? Essas são as perguntas que a gente acaba trazendo no espetáculo”, acrescenta o diretor.

Nove atores estarão no palco para contar essa história ao público, num espetáculo cuja visualidade traz uma proximidade com a vida real. “A gente não acredita que esses espaços (o inferno, purgatório e o paraíso) são muito longe da gente. Podemos viver eles nesse plano terreno, porque não estamos falando nem do pós-vida, estamos falando da vida mesmo. Tem pessoas que decidem pelas suas escolhas, formas de agir, que vão viver em um verdadeiro inferno em vida. E tem pessoas que escolhem viver um paraíso”, diz Breno.