ARTE

Cia da Ideia questiona transitoriedade em novo espetáculo

Chega a Belém a turnê do espetáculo “O corpo que eu habito”, que ocorre em duas apresentações, nesta sexta, 30, e sábado, 31 de agosto, às 20h, no Teatro do Sesi.

“O corpo que eu habito” une dança, teatro, música e performance, partindo das experiências dos intérpretes no palco.

FOTO: Rodrigo Zeferino75/DIVULGAÇÃO
“O corpo que eu habito” une dança, teatro, música e performance, partindo das experiências dos intérpretes no palco. FOTO: Rodrigo Zeferino75/DIVULGAÇÃO

Chega a Belém a turnê do espetáculo “O corpo que eu habito”, que ocorre em duas apresentações, nesta sexta, 30, e sábado, 31 de agosto, às 20h, no Teatro do Sesi. Além da capital paraense, a produção percorrerá outras cidades do Brasil neste circuito: São Luís (MA), Vitória (ES) e Rio de Janeiro (RJ).

O espetáculo é uma iniciativa da Cia da Ideia, do Rio de Janeiro, e traz ao palco dança, teatro, música e performance. “‘O corpo que eu habito’ aborda a condição do ser humano na atualidade, partindo do universo íntimo de cada intérprete, mas a partir do momento em que a gente começa a falar sobre a intimidade e como cada intérprete está no mundo, a gente fala de temas comuns a todas as pessoas”, explica um dos diretores da Cia da Ideia, Alessandro Brandão.

Ele concedeu entrevista já em Belém, onde antes da estreia do espetáculo ministrava a oficina “O corpo que habitamos”, fazendo trocas diversas entre pessoas comuns e artistas. “A oficina tem como intuito principal criar uma célula cênica que vai ser agregada ao nosso trabalho. Então, em cada cidade que a gente passa, a gente recebe artistas e pessoas do lugar que entram em cena com a gente. É muito importante essa troca com a cidade, porque com isso o trabalho acaba sendo único. O que a gente fez em Corumbá (MS) é diferente do que a gente fez em Ipatinga (MG) e vai ser muito diferente do que será aqui em Belém e do que será nos lugares em diante”, afirma o diretor.

“Nas oficinas, a gente descobre potências com pessoas que nunca tiveram contato com a dança, assim como temos pessoas que dançam muito e outras que nunca pensaram em fazer qualquer coisa na arte, além de participantes surdos. Essa diversidade traz muita matéria humana e combustível para usar no espetáculo. É um processo tão intenso que as pessoas que muitas vezes não se conhecem no primeiro encontro, parecem ter se conhecido desde a infância quando termina a oficina. As pessoas são muito atravessadas umas pelas outras. A minha experiência é sempre maravilhosa com o material humano que a gente encontra”, complementa Alessandro Brandão.

O projeto conta com patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura / Lei Rouanet (MinC) e apoio do Sesi Pará para sua realização em Belém. A concepção do espetáculo ocorreu antes da pandemia, em 2019, a partir de um diálogo provocado pela também diretora da Cia da Ideia, Suely Guerra. “Ela se deparou com as dificuldades do corpo dela naquela altura, em 2019. Ela me ligou uma vez de madrugada e falou sobre como o nosso corpo se modifica ao longo da vida e como a gente vive o mundo todos os dias, trazendo reflexões sobre esse corpo que eu habito hoje em dia. Na minha vontade, eu gostaria de fazer muitas coisas que meu corpo já não pode mais fazer. Na vida de um bailarino, de um artista, por exemplo, a gente se depara com as nossas mudanças corporais, que às vezes, o tempo nos traz muito forte. Muda muito ainda o nosso corpo de uma década para outra, um corpo de 20 é diferente do corpo dos 50”, reitera o diretor.

A partir dessas questões, eles começaram a desenvolver uma metodologia para falar sobre isso. No meio desse processo, surgiu a pandemia e tiveram que pensar em formas de trabalhar por vídeo, com o isolamento, quando cada bailarino trabalhou de casa, do seu próprio espaço.

“Falar dessa modificação dos corpos, da época da concepção do espetáculo, em 2019, depois em 2021, quando passamos por diversas mudanças significativas de tempo e espaço é tratar sobre a corporeidade no mundo, que muda sempre. E isso tem particularidades, talvez por isso, o espetáculo tenha algo da performance, porque ela é viva, ocorre de acordo com a fricção do trabalho artístico e da realidade, e ainda é um trabalho de exposição, porque como o nosso objeto de pesquisa é o corpo, a gente está o tempo inteiro levando em consideração, como o corpo de cada intérprete se movimenta”, comenta Alessandro Brandão, acrescentando que no elenco, tem pessoas que nunca dançaram, outras que sim; bailarinos e músicos profissionais.