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Cartas de uma boneca viajante: Um musical inspirado no escritor Franz Kafka

André Dias e Lilian Valeska completam o elenco como Kafka e sua esposa FOTO: FLAVIA CANAVARRO/divulgação
André Dias e Lilian Valeska completam o elenco como Kafka e sua esposa FOTO: FLAVIA CANAVARRO/divulgação

Aline Rodrigues

Uma garotinha chora desesperadamente a perda de sua boneca. É consolada por um homem que, para acalmá-la, encarna a figura de um carteiro de bonecas. O carteiro é ninguém menos do que Franz Kafka! Ele redige cartas como se fossem escritas pela boneca Brígida, que viaja por todo o mundo, relatando suas aventuras à menina Elsi. A partir dessa história verídica, contada pela companheira de Kafka, Dora Dymant, o premiado escritor espanhol Jordi Sierra i Fabra recria os fatos numa obra encantadora, que foi a inspiração para o espetáculo “Kafka e a Boneca Viajante”, que será apresentado no Theatro da Paz, nos dias 17, 18 e 19 de maio.

“O espetáculo é essa história lindíssima e inusitada do encontro de uma menina que perdeu sua boneca e do grande escritor Franz Kafka. Então, muitas pessoas podem pensar que é uma obra do Kafka, não, é uma história que nos chegou a respeito do Kafka, desse encontro. É uma história muito poética e que foi transformada num musical, com músicas brasileiras, um repertório bonito e de uma maneira muito leve”, falou o diretor do musical, João Fonseca.

O musical, com dramaturgia de Rafael Primot, traz na bagagem duas indicações ao Prêmio Shell e sete ao prêmio da Associação dos Produtores de Teatro – APTR. “A transposição foi feita pelo Rafael Primot, ele que pegou e se inspirou no livro e transpôs para o palco. É uma adaptação muito feliz. Ele ampliou vários horizontes que estavam apenas apontados no livro e trouxe referências da obra de Kafka. Então, durante toda a peça a gente tem pequenas referências de livros, personagens, situações da vida do Kafka e [o roteiro] centrou a história nessa relação entre a menina e o Kafka”, disse João.

ELENCO

O espetáculo já foi visto por 20 mil pessoas, em nove capitais. “Já estivemos em Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, São Luís e a nossa expectativa, óbvio, é a melhor possível, de se apresentar neste teatro belíssimo, que é um patrimônio da cultura brasileira. Infelizmente, não vou poder estar em Belém, adoraria e acho que a gente está esperando que o público curta muito, compareça, se divirta e vibre muito com esse espetáculo que realmente é um espetáculo muito emocionante”, disse o diretor.

A peça recria um episódio que teria levado o autor modernista a voltar a escrever, já no fim da vida. A bela história já foi contada em livros, contos e peças, mas até hoje não há provas de que realmente aconteceu – as cartas e a dona da boneca jamais foram encontradas.

No elenco estão Alessandra Maestrini, André Dias, Carol Garcia e Lilian Valeska. “É um espetáculo muito especial para mim, considero um dos meus melhores trabalhos e contei com uma equipe incrível, com o trabalho do diretor musical Tony Lucchesi, que é primoroso, e quatro atores que são talentosíssimos, que foram muito importantes em todo o processo da construção da peça. A interpretação da Alessandra Maestrini, como a boneca; André Dias como Kafka; Carol Garcia como a menina e a Lilian Valeska como a mulher do Kafka são interpretações muito bonitas, muito sensíveis e que trazem ainda uma riqueza, além das vozes excepcionais desses atores”, comentou o diretor.

TRILHA SONORA

A trilha é um caso à parte e se impõe como elemento dramatúrgico. No repertório, interpretado pelo elenco, estão músicas de artistas como Caetano Veloso, Cartola e Rita Lee, e até uma composição inédita assinada por João Fonseca e o diretor musical Tony Lucchesi, que também assina os arranjos.

“A trilha foi pensada por mim, pelo Tony Lucchesi e pelo Rafael Primot, que fez a adaptação. Rafael fez apontamentos de músicas e aí eu e o Tony fomos propondo coisas, mexendo, adaptando de acordo com a necessidade do espetáculo. Sempre priorizando a música brasileira, o cancioneiro brasileiro, dentro do possível, porque a boneca percorre vários lugares do mundo, então tem momentos que são músicas que são referências desses países. De maneira geral são músicas que contam um pouco da história e, como num musical tradicional, fazem a história caminhar”, contou João Fonseca.

Para a atriz Alessandra Maestrini, participar da montagem tem sido uma festa. “Interpretar a Brígida com seu corpo de pano e sua alma livre, num espetáculo criado para adultos e pelo qual as crianças também se apaixonam – ou seja, um espetáculo para toda a família, e integrando um elenco tão talentoso -, tem sido uma festa das mais preciosas e deliciosamente transformadora!”, falou a atriz, que para criar os movimentos da boneca contou com a supervisão de Márcia Rubim.

Sobre isto, ela comenta que a permite brincar fisicamente com bastante espaço para a criatividade e dá ao público a chance de conhecer melhor esta faceta em sua composição das personagens. “Aqui, por conta tanto do lado lúdico do universo infantil quanto da profundidade do universo Kafkiano, é possível expressar e perceber a partitura corporal com mais clareza e amplitude”, acrescentou a atriz, que contou ainda, que o público gargalha, suspira, canta junto e lava a alma de chorar.

“Ouvimos muito na saída: ‘Estou saindo do teatro muito mais leve do que entrei! Muito obrigada! Eu precisava disso!’ e ‘É o espetáculo mais lindo que já vi!’”, contou Alessandra.

A cenografia do espetáculo é de Nello Marrese, que reforça o simbolismo da passagem do tempo, seja do fim da vida do escritor, da transformação da menina em mulher e da viagem da boneca. Cubos, alguns móveis, um móbile, selos, além de um fundo neutro para valorizar o desenho de luz criado por Paulo César Medeiros, compõem a cena. O figurino de João Pimenta – indicado ao Prêmio Shell de 2023 – remete à época em que Kafka viveu seus últimos anos, na década de 1920.

“Estamos animalistíssimos para nos apresentar em Belém: uma cidade linda, com um dos teatros mais lindos já vistos. É uma grande celebração para todos nós, incluindo Lili Ruth, nossa camareira que é de Belém e que faz uma participação luxuosa na peça”, disse Maestrini.