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CARNAVAL 2023: veja o enredo da escola que vai levar o Pará à Sapucaí!

O Marajó será exaltado na Sapucaí. Foto: Divulgação
O Marajó será exaltado na Sapucaí. Foto: Divulgação

Aline Rodrigues

“Cadê o boi? O mogangueiro. O mandingueiro de Oyá. Meu Tuiuti não tem medo de careta. Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará”, fala o trecho do samba-enredo da Paraíso do Tuiuti. A escola carioca vai levar para o seu desfile do grupo especial, nesta segunda-feira, 20, a história da chegada dos búfalos ao Pará.

“A gente narra a saga da chegada dos búfalos no Brasil. Eu acho que todo mundo já ouviu falar da Ilha do Marajó e todo mundo sabe que o símbolo da ilha é o búfalo. Mas acho que ninguém nunca parou para pensar ou para se perguntar como esses búfalos chegaram ao Brasil”, conta João Vitor Araújo, carnavalesco da escola, sobre o enredo desenvolvido por ele e pela carnavalesca Rosa Magalhães. “Na verdade, nem eu e ela sabíamos dessa história, e aí que começou a nossa aventura de querer desbravar e desvendar de onde eles vieram”, confessa o carnavalesco.

O enredo vai fazer uma viagem até a Índia, no século 19, país de origem desse animal, e mostrar que ele fazia parte do comércio das especiarias, junto com a comercialização de tecido e temperos. “Um carregamento de búfalos e temperos que saiu da Índia, à caminho da Guiana Francesa, sofreu um acidente no caminho e – reza a lenda – esse navio colidiu com uma pedra, numa noite de tempestade e naufragou. A tripulação humana obviamente não sobreviveu e os bichos conseguiram nadar até a costa da Ilha do Marajó”.

O carnavalesco, que pesquisou a fundo sobre o tema, explica ainda, que a musculatura avantajada do animal teria sido o fator determinante para a sua sobrevivência, e então se adaptou ao clima e vive até hoje na Ilha do Marajó, que possui uma das maiores manadas de búfalos do mundo.

“Aí começa a nossa saga. Falando das belezas da ilha, da arte marajoara, que é uma das artes mais apreciadas por todo mundo. Acho que mesmo quem não tem um vaso, uma ânfora, certamente deve ter visto ou tido contato com essa arte decorativa que é muito famosa no mundo inteiro”, aponta João Vitor.

Depois de mostrar os grafismos marajoaras, a escola traz para a avenida o folclore da região.

A escola desfila no palco mundial do samba na segunda-feira. Foto: Divulgação

“A gente traz como protagonista dessa parte folclórica o grande Mestre Damasceno, um artista múltiplo que vive no Marajó, que é dos compositores mais famosos e mais importantes de toda a região Norte, responsável pela criação do Búfalo-Bumbá, uma readaptação do Auto do Boi. E a partir daí, a gente mostra essa festividade, essa manifestação, fala do carimbó e de todas outras delícias, de música e de tudo mais que aquela ilha tem para oferecer”, adiantou o carnavalesco.

“É uma grande representatividade”

Mestre Damasceno será uma das atrações da escola. Foto: Guto Nunes/divulgação

Mestre Damasceno virá no último carro da escola, que representa o Búfalo-Bumbá, a manifestação cultural criada pelo artista. “A gente está ansioso, esperando só essa hora para pisar naquele tapete. Para nós, é muita felicidade e muita sorte. A gente está feliz com isso! Já pensou, a gente naquela Marquês de Sapucaí, sendo homenageado por uma escola do grupo especial? Para nós, marajoaras e paraenses, é uma grande representatividade”, comentou o mestre, muito animado.

Repentista, cantador de carimbó, compositor de sambas, fazedor de rimas, poeta, pescador e artesão, Damasceno Gregório dos Santos, um dos grandes mestres da tradição oral brasileira, tem mais de 400 composições, entre toadas de boi-bumbá, carimbós, xotes, chulas, sambas e até bregas. Pai de nove filhos, afro-indígena, cego desde os 19 anos, sua trajetória de vida é marcada pela superação.

“A gente chega até esse momento e agradece muito a Deus, primeiramente a Deus, por ajudar a nos colocar lá e agradece as pessoas que estão ao nosso redor, se não fosse esse povo que incentiva a gente, a gente não chegava onde chegou”, enaltece o mestre. Quem também estará na avenida representando o Pará são os músicos do grupo Nativos Marajoaras, que acompanham Mestre Damasceno.

Um deles é o percussionista Agnaldo Vasconcelos, que estará na avenida com muito orgulho representando o povo marajoara. “Estamos muito felizes e contentes pelo reconhecimento do mestre e pelo convite que a escola fez para ele ser homenageado lá. É uma honra muito grande e uma felicidade imensa em poder representar todo esse nosso Estado na maior festa popular do mundo, que é o Carnaval do Rio de Janeiro”, falou o músico.

A comitiva que partiu neste sábado, 18, rumo ao Rio de Janeiro, é formada por 15 pessoas, sendo Mestre Damasceno e os Nativos Marajoaras e sete técnicos, entre produção, assessoria de imprensa, fotógrafo, cinegrafista e uma assessora de acessibilidade. A viagem foi realizada com o apoio do Governo do Estado do Pará, através da Secretaria de Cultura e da Secretaria de Turismo.

Fafá de Belém também estará desfilando na escola, segundo confirmação da assessoria de imprensa da escola de samba. Segundo entrevista do carnavalesco João Vitor ao site “Carnavalescos”, a ideia do enredo surgiu do presidente da escola, Renato Thor. “Ele deu esse ponto de partida para a gente por ser apaixonado por Belém e pelo Pará em geral. Queria que a gente contasse alguma coisa relacionada ao Estado. Ele acha que é um estado muito rico de cultura e formações”.

Ele revelou ter questionado o fato da Imperatriz já ter feito homenagem ao Estado e a Viradouro também – “de forma muito bem feita”. “Foi quando a gente decidiu partir para a Ilha de Marajó e não fazer aquele tradicional enredo que todo mundo está acostumado, sobre a colonização, sobre a formação etc. Nós decidimos ir a partir da figura do búfalo, o nosso ‘Mogangueiro da Cara Preta’, que se tornou o protagonista dessa história toda”, explicou João Vitor.

SERVIÇO

FICHA TÉCNICA DA ESCOLA

Fundação 05/04/1952
Cores: Amarelo ouro e azul pavão
Presidente: Renato Thor
Enredo 2023: “Mogangueiro da cara preta”
Carnavalescos: Rosa Magalhães e João Vítor Araújo
Diretor de Carnaval: André Gonçalves
Intérprete: Wander Pires
Mestre de Bateria: Marcão
Rainha de Bateria: Mayara Lima
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane
Comissão de Frente: Lucas Maciel e Karina Dias
Quando e que horas vai desfilar: Segunda-feira, 20h, entrando na avenida às 22h.

DECORE A LETRA E CANTE

Samba-Enredo 2023 – O Mogangueiro da Cara Preta

G.R.E.S Paraíso do Tuiuti

Solta o bicho!

É lá, é lá, é lá
É lá, é lá, é lá
É lá, é lá, é lá
É lá, é lá, é lá

Cadê o boi? O mogangueiro
O mandingueiro de Oyá
Meu Tuiuti não tem medo de careta
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará

Cadê o boi? O mogangueiro
O mandingueiro de Oyá
Meu Tuiuti não tem medo de careta
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará

Num mar de tempestade e ventania
Foi trazendo especiarias que o barco naufragou
Noz-moscada, cravo, iguarias
No caminho para as Índias, a história eternizou

O marinheiro se perdeu na madrugada
O mogangueiro correu para o igarapé
A curuminha entoou uma toada
Enquanto abria-se a flor do mururé
E nesse encontro entre o rio e o oceano
A grande ilha que cultiva o carimbó
Dizem que bichos ainda falam com humanos
Há muitos anos, na Ilha de Marajó

Ê, batuqueiro, no samba de roda, curimbó
Quero ver você cantar como canta o curió
Okê, caboclo, onde vai a piracema?
Rio acima segue o voo de uma juriti pepena
Ê, batuqueiro, no samba de roda, curimbó
Quero ver você cantar como canta o curió
Okê, caboclo, onde vai a piracema?
Rio acima segue o voo de uma juriti pepena

Há mão que modela a vida no bairro Marajoara
E o búfalo que pisa esse chão do parauara
Chama o Mestre Damasceno pra entoar esta canção
Das cantigas da vovó, do tempo da escravidão

É lá, é lá, é lá
Canoeiro vive só, morena
É lá, é lá, é lá
Mas precisa de um xodó
É lá, é lá, é lá
Canoeiro vive só, morena
É lá, é lá, é lá
Mas precisa de um xodó

Cadê o boi? O mogangueiro
O mandingueiro de Oyá
Meu Tuiuti não tem medo de careta
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará

Cadê o boi? O mogangueiro
O mandingueiro de Oyá
Meu Tuiuti não tem medo de careta
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará

Num mar de tempestade e ventania
Foi trazendo especiarias que o barco naufragou
Noz-moscada, cravo, iguarias
No caminho para as Índias, a história eternizou

O marinheiro se perdeu na madrugada
O mogangueiro correu para o igarapé
A curuminha entoou uma toada
Enquanto abria-se a flor do mururé
E nesse encontro entre o rio e o oceano
A grande ilha que cultiva o carimbó
Dizem que bichos ainda falam com humanos
Há muitos anos, na Ilha de Marajó

Ê, batuqueiro, no samba de roda, curimbó
Quero ver você cantar como canta o curió
Okê, caboclo, onde vai a piracema?
Rio acima segue o voo de uma juriti pepena
Ê, batuqueiro, no samba de roda, curimbó
Quero ver você cantar como canta o curió
Okê, caboclo, onde vai a piracema?
Rio acima segue o voo de uma juriti pepena

Há mão que modela a vida no bairro Marajoara
E o búfalo que pisa esse chão do parauara
Chama o Mestre Damasceno pra entoar esta canção
Das cantigas da vovó, do tempo da escravidão

É lá, é lá, é lá
Canoeiro vive só, morena
É lá, é lá, é lá
Mas precisa de um xodó
É lá, é lá, é lá
Canoeiro vive só, morena
É lá, é lá, é lá
Mas precisa de um xodó

Cadê o boi? O mogangueiro
O mandingueiro de Oyá
Meu Tuiuti não tem medo de careta
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará

Cadê o boi? O mogangueiro
O mandingueiro de Oyá
Meu Tuiuti não tem medo de careta
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará
Traz o Boi da Cara Preta do estado do Pará

É Paraíso do Tuiuti, tem que respeitar
Solta o bicho!