“Carimbolata” é o primeiro álbum solo do músico Kleber Benigno, percussionista do Trio Manari, que está disponível desde meia-noite deste domingo, 1º, em todas as plataformas digitais. Paturi, como é conhecido pelos amigos, traz em seu novo trabalho a sonoridade amazônica, a partir dos tambores do Norte do Brasil, em oito faixas instrumentais, algumas que ele assina sozinho e outras em parceria.
Foram dez anos de produção do disco, numa carreira que soma quase 30 anos, parte desses com o Trio Manari, ao lado dos músicos Márcio Jardim e Nazaco Gomes.. O grupo é referência na música brasileira, no campo da pesquisa e da execução percussiva com características amazônicas.
Em todo esse tempo, ele vem se dividindo entre o palco e a atuação como educador musical. Para Kleber, o álbum representa uma realização pessoal. “Eu digo que sou um artista acadêmico (risos) e agora apresento o meu primeiro álbum porque já gravei e toquei com diversas pessoas e artistas, tanto em grupo quanto individual, que pensei que estava na hora de fazer um trabalho meu, com a ideia que eu queria fazer. Há muito tempo eu me cobrava para fazer um trabalho assim. Ele é leve, é um trabalho em que estou me realizando pessoalmente. Agora estou me presenteando, no dia do meu aniversário com o meu próprio disco”, comemora.
TRAJETÓRIA
Paturi iniciou sua carreira nos anos 1990, com o grupo Mosaico de Ravena, inicialmente como roadie e depois como percussionista. Na época, ele estudava percussão erudita no Conservatório Carlos Gomes, e já conhecia Nazaco Gomes, mas foi lá que encontrou com Márcio Jardim para em pouco tempo dar início a uma pesquisa que resultaria na formação do Trio Manari, no ano 2000. De lá para cá são mais de 20 anos e muitas parcerias.
Suas influências estão presentes em seu novo trabalho, assim como as afetuosas relações com o seu grupo. “São muitas parcerias, quase 25 anos só com o Trio Manari, fomentando a cultura do Norte do Brasil. E aqui, o Nazaco Gomes faz os vocais. As composições são minhas, que assino ainda a direção musical e as percussões, e algumas com Edgar Matos. A sonoridade traz o ritmo dos tambores do Norte amazônico. Ele possui tanto o tempero da cultura paraense e amapaense quanto uma pitada da cultura caribenha, da qual, nós temos muita influência na Amazônia”.
Cada uma das oito faixas é muito peculiar, ele diz. “Foram momentos muito diferentes, com dias alegres e outros nem tanto. São músicas instrumentais. Mas eu gosto de uma música chamada ‘Iara Luz’, onde eu vislumbro uma sereia num igarapé, saindo da água, inspirado na lenda amazônica, que eu fiz essa melodia junto com Edgar Matos”.
CARIMBOLATA
Professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), lotado na Escola de Música da mesma (EMUFPA), ele conta que pensou no nome e o conceito do disco quando atuava na Escola Bosque. “Eu trabalhava na Escola Bosque, que é uma instituição que fala muito de sustentabilidade e fazia instrumentos com latas, garrafões, folhas secas e sementes da própria escola. Daí tive a ideia de fazer este trabalho misturando instrumentos tradicionais da cultura do Norte do Brasil com instrumentos feitos com materiais reutilizáveis”.
O músico comenta a exériência do disco solo. “É um processo mais difícil porque toda a parte imaginativa e criativa é feita em solitude. A gente tem de mergulhar fundo no pensamento para chegar àquilo que pensa do projeto, lapidar e dar o tom que se quer. Esse álbum é uma maneira de eu me expressar. Claro que eu gosto e toco de tudo, da música popular à erudita. Música é música, ou você gosta ou não gosta, e para mim, fazer um trabalho na minha solidão é mais desafiador do que se estiver com o Trio Manari, que é um processo diferente. Foram quase dez anos para fazer este trabalho. Tive que me trancar no estúdio, me dedicar somente a isso porque antes eu começava, parava e fazia outros projetos”, diz ele, lembrando que essa pausa para seu projeto surgiu no período de pandemia.