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Carimbó Bico de Arara participa do Festival de Folclore de Olímpia

Grupo de São Caetano de Odivelas representa o Pará no evento mais importante sobre folclore no país FOTO: IVANDRO FARIAS/DIVULGAÇÃO
Grupo de São Caetano de Odivelas representa o Pará no evento mais importante sobre folclore no país FOTO: IVANDRO FARIAS/DIVULGAÇÃO

Com mais de três décadas na tradição do carimbó pau e corda, o grupo Bico de Arara, criado na vila de São João dos Ramos, localizada no município de São Caetano de Odivelas, no Pará, se apresentará no 59º Festival de Folclore de Olímpia (Fefol), em São Paulo. Considerado o mais importante evento nacional relativo ao folclore, o festival ocorrerá no período de 05 a 13 de agosto e reunirá grupos folclóricos, parafolclóricos e artístico-culturais de todo o país.

O Bico de Arara permanecerá no festival durante os nove dias de festa. Para o produtor cultural do grupo, Ivandro Farias, integrar a programação é motivo de alegria sem igual. “O grupo Bico de Arara vai fazer 34 anos em novembro deste ano. E nesse tempo, atuou somente no município de São Caetano de Odivelas. Só a partir do ano passado que a gente passou a frequentar os grandes palcos de Belém, como o Apoena, Coisas de Negro e o Arraial de Todos os Santos, e através dessas participações foram surgindo novas possibilidades de apresentações”, conta.

Ivandro Farias explica que a participação em Olímpia foi garantida após a aprovação do grupo no edital do evento, que elegeu somente dois grupos do Norte, sendo um deles a Companhia de Danças Folclóricas Trilhas da Amazônia, que é de Belém.

“O Bico de Arara é um grupo de carimbó pau e corda, composto por dez pessoas. O diferencial do nosso grupo são as nossas características, pois utilizamos instrumentos que são pouco usados entre os grupos de carimbó. Usamos três curimbós (um tipo de tambor), enquanto outros grupos usam dois. O outro instrumento é o ‘ronco da onça’, popularmente conhecido como cuíca. Eles dois atuam na marcação, na energia e no volume. É um dos únicos grupos de carimbó que têm essa especificidade sonora no Pará”, explica Ivandro Farias.

Grupo faz “maratona” para participar do festival

O Carimbó Bico de Arara surgiu em 1989, quando ainda não havia fiação de energia elétrica na vila de São João dos Ramos. Não havia acesso nem a meios de comunicação como a televisão e o acesso à informação era muito precário. “Se as pessoas quisessem se divertir e dançar, tinham que produzir o seu próprio som. Assim nasceu o Carimbó Bico de Arara, nos bares e barracões da vila”, diz Ivandro.

Para chegar até o festival de Olímpia, será necessário um esforço tremendo da equipe, que sairá de São João dos Ramos na terça-feira, 1º de agosto. “A gente é um grupo do interior do interior do Pará. A nossa ilha é conhecida como ‘Ilha dos Sonhos’, então a gente está realizando um sonho de mostrar a nossa cultura tão longe. Sonhamos muito com essa oportunidade que estamos tendo, tanto de estar nos principais palcos de Belém quanto de ir para São Paulo. A gente atravessa dois rios, o Maruimpanema e o Mujuim, e mais 110 quilômetros só para chegar a Belém, e depois mais três dias de viagem de ônibus, que é uma verdadeira maratona. Tudo isso só expressa o amor que temos pelo carimbó. Vamos honrar muito bem o nosso estado e a Amazônia toda”, garante Ivandro.

Um registro audiovisual, além de homenagens aos bois de máscaras de São Caetano de Odivelas, estão na programação dos shows do grupo. “A nossa apresentação é dividida em quatro sets e em um deles fazemos homenagens aos bois de máscaras, que é a nossa maior identidade. Nesse momento, a gente se caracteriza como bois e homenageamos os mais conhecidos de São Caetano: o Tinga, o boi Vaca Velha e o Faceiro”, descreve Ivandro Farias, que faz parte ainda do grupo Vaca Velha.

Mestre Birá é o compositor das letras do Bico de Arara FOTO: IVANDRO FARIAS/DIVULGAÇÃO

Letras contam cotidiano dos pescadores

As composições do grupo versam sobre o cotidiano dos pescadores da ilha, conta o produtor. “O nosso mestre Birá é um pescador, que é um senhor de 70 anos e que abriu a porta para uma nova geração fazer parte do futuro. A primeira vez que ele foi a Belém, foi no Arraial de Todos os Santos, no ano passado. Ele tem mais de 100 composições e nunca tinha ido a Belém, e hoje estamos levando ele a São Paulo”, comemora Ivandro.

“O carimbó que praticamos hoje é o carimbó pesqueiro. Todos nós somos pescadores ou filhos deles. As canções que o mestre Birá compõem são nossa música de trabalho. Nas composições, ele canta o cotidiano pesqueiro, o camaroeiro, e fala da pesca”, explica o produtor. Entre elas, “Fã do camaroeiro” e “Bom dia, senhor e bom dia, senhora” são algumas das músicas autorais que o grupo levará para o festival.