No próximo dia 17 de agosto, o Brasil celebra o Dia Nacional do Patrimônio Cultural, data criada em homenagem a Rodrigo Melo Franco de Andrade, fundador do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Mais do que igrejas, casarões e monumentos, o conceito de patrimônio vem se ampliando e hoje inclui também saberes, festas, modos de vida e expressões culturais que sobrevivem na memória e na prática de comunidades.
Entre os exemplos mais vivos dessa riqueza está o Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, conhecido como mamulengo. Reconhecido pelo IPHAN como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2015 e incluído pela Unesco no Inventário Internacional das Expressões de Teatro de Bonecos, a tradição mistura crítica social, encantamento e resistência.
O mamulengo não é apenas um espetáculo, mas um sistema cultural transmitido por mestres bonequeiros, artistas populares que esculpem, costuram, cantam, improvisam e encenam. “O mamulengo é a voz do povo por trás de um pano”, define o cineasta e agente cultural LeoMon. Segundo ele, as narrativas abordam temas universais como desigualdade, fé, ancestralidade, violência e alegria, sempre com humor e crítica.
Patrimônio vivo
A preservação de tradições como o mamulengo depende não só de reconhecimento simbólico, mas também de políticas públicas estruturantes que garantam formação, pesquisa, apoio financeiro e condições dignas para os mestres transmitirem seus saberes.
Criado em 1937, o IPHAN passou a proteger também o patrimônio imaterial a partir da Constituição de 1988 e da criação do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, em 2000. Hoje, já são 57 bens registrados, incluindo o samba de roda do Recôncavo Baiano, o ofício das baianas de acarajé e o jongo do Sudeste.
O cinema como aliado
Entre os projetos que ajudam a dar visibilidade à tradição está o filme “A Maldição do Mamulengo”, dirigido por LeoMon e Alice Lira, com apoio da Lei Paulo Gustavo no Distrito Federal. A produção reúne mestres como Calú, Zé de Bibi e Tonho de Pombos, e percorre o DF, Goiás e Pernambuco, criando narrativas em diálogo direto com os brincantes.
Mais do que um registro, o longa é um retrato da potência de um cinema descentralizado, feito em parceria com mestres populares e protagonizado por vozes negras, periféricas, femininas e LGBTQIAPN+.
Compromisso coletivo
Celebrar o Dia do Patrimônio Cultural é também assumir um compromisso com o presente e o futuro. “Proteger o mamulengo é proteger seus mestres. Eles carregam conhecimentos que ensinam sobre pertencimento, ancestralidade e coletividade”, reforçam os realizadores.
Assim, a data reforça que o patrimônio brasileiro não está apenas em monumentos de pedra, mas na voz, no gesto e na memória viva de seus povos.