Artes visuais

Bienal das Amazônias terá exposição "flutuante"

Obra/barco ficará ancorada na Estação das Docas antes de seguir por rios da Amazônia em 2025.

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Embarcação/obra foi projetada pelo boliviano Freddy Mamani e vai navegar pelas ilhas de Belém, Marajó e Amazonas. FOTO: DIVULGAÇÃO
Embarcação/obra foi projetada pelo boliviano Freddy Mamani e vai navegar pelas ilhas de Belém, Marajó e Amazonas. FOTO: DIVULGAÇÃO

“O barco, enquanto obra de arte, carrega em si inúmeras possibilidades de criação e diálogo, tornando-se ao mesmo tempo um espaço simbólico e prático para encontros e trocas. Ele é mais do que um veículo. É uma plataforma flutuante que se conecta com as águas e as comunidades, reconhecendo-as como parte essencial da narrativa artística e cultural que desejamos construir”. Foi o que disse Keyna Eleison, sobre o projeto “Bienal das Amazônias Sobre as Águas”, que será realizado a partir do dia 10 de janeiro.

Keyna é curadora e diretora de Conteúdo e Pesquisa do Instituto Bienal das Amazônias. A embarcação/obra foi projetada pelo artista boliviano Freddy Mamani. Em resumo, o barco vai levar uma intervenção artística para municípios ribeirinhos em 2025. A ação evidencia o caráter formativo e educativo da Bienal das Amazônias.

A viagem será pelas ilhas de Belém, Marajó, até o Amazonas, terminando no dia 31 de maio de 2025.

Embarcação é metáfora da proposta descentralizadora da Bienal

Segundo a curadora, a Bienal das Amazônias sobre as Águas é um projeto novo, mas é um sonho que existe desde 2021. A embarcação foi pensada não apenas como um veículo, mas como uma metáfora viva. Especialmente, trata-se de uma possibilidade concreta de expansão do pensamento descentralizador que define a Bienal das Amazônias.

“Mais que isso: é uma expansão da prática. Porque pensar as águas é pensar movimento. É perceber que nada é fixo, que tudo flui e carrega consigo narrativas, memórias, geografias e espiritualidades. As águas amazônicas que nos atravessam e nos definem, nascem distantes, no coração das montanhas andinas. Lá, nos picos gelados e nas vertentes abruptas, estão as primeiras gotas que, unidas, se tornarão um dos maiores sistemas fluviais do mundo. Então, trazer um artista andino estabelece este conhecimento a partir de afetos”, acrescentou ela.

A partir do dia 11 de dezembro, o barco ficará aberto para visitação gratuita na Escadinha da Estação das Docas. Também será espaço para programações pedagógicas, às quartas e quintas-feiras, das 9h às 11h30. E ainda atividades artísticas, das 16h às 21h. As segundas e terças-feiras são reservadas para manutenção. O barco ficará em Belém até 22 de dezembro e então seguirá para sua itinerância.

Navegando sobre diferentes Amazônias

“A Bienal sobre as Águas torna-se, então, um espaço flutuante de pensamento, arte e diálogo. Navegar as águas é mais que um gesto físico; é uma prática de olhar para as margens e para o centro como partes inseparáveis de um mesmo todo. É permitir que a Bienal se mova como as águas, carregando ideias, artistas, histórias e afetos entre os territórios que ela atravessa”, falou a curadora. Ela destacou ainda que o projeto é um convite a perceber as águas em suas trajetórias — como nascem, para onde vão, o que encontram pelo caminho.

“É um convite para reconhecer que, assim como as águas amazônicas carregam a força e a ancestralidade andina, nós também somos feitos de trajetórias, de fluxos, de encontros”, diz.

Às sextas-feiras, o barco navegará para localidades próximas, como Outeiro, Cotijuba e Mosqueiro, ilhas da Região Metropolitana, e para os municípios de Abaetetuba, Barcarena e Moju. A viagem termina em Ponta de Pedras, no Marajó. Depois, o barco segue para o Amazonas.

“O barco vai visitar os locais para ser espaço de encontro. Vamos receber e divulgar mais as artes, manifestações culturais que já existem e são maravilhosas. Estamos levando desejos de conhecimento e troca”, disse Keyna Eleison.

“As culturas ribeirinhas, com suas potências extraordinárias, são alicerces não apenas da cultura local, mas também de uma identidade nacional. Elas guardam saberes, histórias e expressões que precisam ser celebrados e amplificados, reconhecendo sua força na construção de quem somos”, contou a curadora.

Barco da Bienal das Amazônias vai ancorar nas culturas ribeirinhas

A embarcação vai se transformar em palco para as artes e manifestações culturais locais em cada parada. Com isso, vai trazer também a produção artística e cultural das comunidades. Além do trabalho dos produtores locais ao longo de todo o percurso.

Para Keyna, será uma troca de saberes e afetos, um gesto de partilha que reforça o valor das culturas que florescem nas margens. Cada andar do barco tem uma dinâmica própria, projetada para acolher e promover diferentes formas de criação.

“Desde cinema, aulas e performances até exposições e dinâmicas artísticas e culturais, cada espaço é pensado para explorar as infinitas possibilidades da arte. E também para dar visibilidade às vozes e histórias que florescem nas margens. O barco, assim, torna-se um laboratório flutuante. É um espaço de encantamento e transformação, onde as águas guiam o caminho e a cultura se manifesta em toda a sua força e beleza”, contou Keyna.

Embarcação é adaptada com acessibilidade a todos os públicos

O projeto tem patrocínio do Nu e do Instituto Cultural Vale. A Bienal das Amazônias Sobre as Águas poderá ser visitada gratuitamente em qualquer uma das localidades em que o barco/obra aportar. A embarcação comporta 200 pessoas e foi completamente adaptada para garantir a acessibilidade a todos os públicos, contendo rampas, quartos e banheiros acessíveis. Além disso, o barco vai navegar com uma tripulação média de 20 pessoas capacitadas para dar todo tipo de suporte necessário.

“A Bienal sobre as Águas desafia a ideia de um centro fixo, com sua prática itinerante,. Ele sugere que o movimento é parte da criação. E que, como as águas, a arte também é fluxo, transformação, conexão. Neste sonho que se concretiza, navegamos juntos, conscientes de que o futuro das águas e o futuro da humanidade estão intrinsecamente ligados. Porque cuidar das águas é cuidar de nós mesmos”, finalizou a curadora.