Entretenimento

Biblioteca Arthur Vianna comemora 153 anos

Leitores como a professora Sergiana Cunha desejam que mais pessoas conheçam a sensação de estar na maior biblioteca do Estado. Foto: Celso Rodrigues
Leitores como a professora Sergiana Cunha desejam que mais pessoas conheçam a sensação de estar na maior biblioteca do Estado. Foto: Celso Rodrigues

Wal Sarges

Espaço ligado ao saber literário e à riqueza historiográfica do Pará, a Biblioteca Pública Arthur Vianna (BPAV), conhecida popularmente como Centur, completa 153 anos no próximo dia 25 de março. Dividida entre o segundo e o terceiro andar do prédio-sede da Fundação Cultural do Pará (FCP), a biblioteca possui um dos maiores acervos de região, composto por cerca de 800 mil volumes. Abrange diversos ambientes: o espaço Braille, a Fonoteca Satyro de Mello, a Gibiteca, a Brinquedoteca, o Auditório Aloysio Chaves e a sala de restauro.

A BPAV coordena ainda outras bibliotecas públicas: a Francisco Paulo Mendes, na Casa da Linguagem; a Vicente Sales, na Casa das Artes; a Carmen Souza, no Núcleo de Oficinas Curro Velho; além das bibliotecas localizadas nas Usinas da Paz.

Lugar de memória de um povo e de sua história, a biblioteca oferece um espaço amplo para a pesquisa de livros físicos e de obras virtuais, que podem ser acessadas de qualquer lugar do mundo. A presença dos 30 computadores com internet gratuita mostra que o analógico e o digital dialogam, possibilitando ao usuário uma visão de um ambiente que se atualiza e vive conforme o seu tempo.

É o que diz a coordenadora da biblioteca, Socorro Baia, que trabalha no local há 40 anos. “A biblioteca se modernizou muito, trazendo uma nova perspectiva de biblioteca viva, moderna e aberta, porque antes ela era muito setorizada, com um monte de salas. Depois da reforma em 2018, ela apresenta uma paginação mais voltada para o público mesmo, atraindo pessoas que por algum motivo não gostavam de vir. A tecnologia veio agregar e suprir a necessidade do público no âmbito digital. O infocentro foi montado no espaço após essa reforma, além disso, as pessoas também foram capacitadas para essa nova visão de biblioteca”, diz ela.

Quanto à pesquisa virtual, a coordenadora conta que boa parte do acervo de obras raras já foi digitalizado, possibilitando o acesso aos catálogos no meio digital. “Temos um espaço onde são armazenados os jornais do Pará que só existem aqui, que é uma das nossas finalidades, a de preservar o que é do nosso estado. Por mês, a gente contabiliza cerca de 100 mil acessos no hotsite desse acervo, que contempla ainda legislações, relatórios, periódicos, entre outros”, enumera Socorro Baia.

O usuário pode até acessar o acervo de obras raras da própria casa. “A pessoa entra no nosso sistema e faz a sua pesquisa de onde estiver. Hoje a concepção sobre biblioteca é dar mais autonomia ao usuário. Apesar de a gente ter vários setores, o salão é o setor mais geral, onde as pessoas se cadastram, emprestam livros, depois podem levar para casa, ler e devolver”, detalha a coordenadora.

Ela conta que tem aquelas pessoas que passam o dia todo estudando no local. Outras já se despediram do local depois de conseguir uma colocação em algum concurso público. “Depois eles vêm agradecer a gente. Muitas pessoas passam no Enem e outros concursos. É um local que muita gente busca para focar mesmo no estudo. Tem um setor para deficientes visuais também, que muitos estudantes de doutorado e mestrado contam com o nosso apoio e a ajuda dos instrumentos de tecnologia que a gente possui também”, relata a bibliotecária.

FIDELIDADE

A professora Sergiana Cunha, 28, é uma dessas pessoas que além de devorar os livros, é apaixonada pela biblioteca. “Eu venho aqui quase todos os dias. Eu acredito que seja um espaço maravilhoso e bem aconchegante. Todas as pessoas deveriam conhecer, venho desde que eu era criança, pela facilidade que nós não tínhamos da internet e tínhamos que realmente vir atrás de livros. E a minha fascinação por livro começou desde aí. Acho que não à toa sou professora. Consigo também estudar, preparar os planos de aula, ler bastante, aliviar um pouco a mente do trabalho e sou super bem recebida pelas pessoas que trabalham aqui e já trouxe meus alunos aqui também”, conta ela, que leciona conteúdo da educação infantil até o Pré-Enem.

A gigante centenária segue apaixonando leitores e contando histórias em Belém
Foto Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Sergiana opina que a biblioteca é um espaço que, hoje em dia, poucas pessoas conhecem, mas todas deveriam. “Hoje a gente consegue utilizar os computadores daqui ou o nosso próprio com internet de graça. Antes, a gente encontrava os livros básicos para fazer pesquisa de escola, mas hoje o acervo está bem melhor. Pelo aniversário da biblioteca, poderia dizer que este é um lugar que deveria ser mais valorizado e mais conhecido pelas pessoas, até mais divulgado para que ele pudesse mostrar a beleza que tem e pudesse despertar nas pessoas a beleza que o livro e uma biblioteca pública te trazem, porque tu não precisas pagar para estar aqui, só precisa chegar e apreciar”, enaltece a professora.

A fidelidade do público também pode estar nesse acesso a algo que pode não ser tão fácil encontrar, como é o caso da seção Braille, um espaço que comporta cabines para usuários de cadeira de rodas e outras que possuem computadores próprios para pessoas de baixa visão ou deficientes visuais. “O espaço é uma extensão da biblioteca adequado para este público. Ele funciona com dois professores, além de mim e da estagiária Maria Clara, que fazemos diversos atendimentos. O local conta com acervo de periódicos, gibis, livros em braile e acervos audiovisuais com áudiodescrição”, diz a bibliotecária Lucilene Vulcão.

Mas entre as seções mais visitadas, aquela que se destaca mesmo é a Brinquedoteca, capaz de atrair pessoas das mais variadas faixas etárias. O espaço, segundo a estagiária da biblioteca, Natália Brito, é livre e aberto ao público, sem necessidade de cadastro prévio. Já a gibiteca, que é mais ligada à literatura e programações temáticas, há necessidade de cadastro.

A auxiliar de produção Maria Eduarda Peniche, 20, e os estudantes João Paulo, 19, e Vitória Larissa, 20, formam um grupo de amigos que se reuniu para visitar o espaço. Sem frequência definida, quando surge aquela vontade de passear na biblioteca, Maria Eduarda chama os amigos ou vai sozinha. “Tem um joguinho que eu e o João passamos a jogar recentemente. Mas a gente gosta de xadrez, dama e outros jogos de tabuleiro. Quando estou sozinha, eu jogo o Resta Um”, diz a jovem que adora a brinquedoteca.