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"Besouro Azul" chega aos cinemas com Bruna Marquezine

“Besouro Azul” chega aos cinemas com Bruna Marquezine “Besouro Azul” chega aos cinemas com Bruna Marquezine “Besouro Azul” chega aos cinemas com Bruna Marquezine “Besouro Azul” chega aos cinemas com Bruna Marquezine
O ator norte-americano de origem mexicana e cubana Xolo Maridueña vive Jaime Reyes, que se transforma no Besouro Azul FOTO: DIVULGAÇÃO
O ator norte-americano de origem mexicana e cubana Xolo Maridueña vive Jaime Reyes, que se transforma no Besouro Azul FOTO: DIVULGAÇÃO

CRÍTICA

Pedro Strazza

FOLHAPRESS

Os filmes de super-herói andam tão saturados da própria fórmula que agora o público se acostumou a assisti-los pelo detalhe. O caso de “Besouro Azul” é emblemático: aos brasileiros, a produção já surge como um veículo para Bruna Marquezine, que faz sua estreia em Hollywood. Os americanos, por sua vez, veem o filme de Ángel Manuel Soto como um produto para a representação latina na indústria.

Os gringos são o verdadeiro alvo da produção, mas no fim isso não importa. De tão homogêneo, o filme dá a todos migalhas, seja nas referências a “Chapolin Colorado” ou na presença da atriz brasileira na tela. Uma ironia cruel, se pensar que diversidade, um valor que pede pelo específico, agora virou mera etiqueta simbólica com o público.

Mas esse raciocínio é um pouco injusto com as poucas boas intenções de “Besouro Azul”. O filme evita ser desonesto, e até na premissa se encena como ingênuo. O longa é a típica história de origem, um caminho que hoje soa sincero no caminhão de sequências e eventos megalomaníacos do gênero.

A ingenuidade, aliás, define o protagonista Jaime Reyes, vivido por Xolo Maridueña, com boas intenções. Recém-formado na faculdade de direito, ele retorna à casa dos pais cheio de planos, mas encontra um cenário desastroso. O negócio da família fechou, o pai se recupera de um infarto e o governo está prestes a tomar o lar.

Para tentar reverter o cenário financeiro, Jaime logo encontra um trabalho de faxineiro, o que o leva para a mansão de Victoria Kord, a magnata armamentista vivida por Susan Sarandon. A empresária o demite, e sua sobrinha Jenny, papel de Marquezine, promete um emprego ao garoto na corporação.

Mas o azar de Jaime é crônico. Ao chegar no prédio da empresa, alguns dias depois, ele logo é enxotado por Jenny. A sobrinha roubou um estranho artefato das instalações da tia e, em apuros, confia ao garoto a proteção do objeto. Em casa, Jaime ativa o aparato sem querer, e este se revela um alienígena chamado Khaji-Da. O bicho escolhe o jovem como hospedeiro e o transforma no poderoso Besouro Azul – o que o faz alvo número um de Kord, que quer usar a tecnologia para criar um exército.

Filme marca a estreia de Bruna Marquezine em Hollywood FOTO: DIVULGAÇÃO

A trama do filme é a mais tradicional possível, portanto, e tem como único diferencial o fato de o protagonista ser de uma família de imigrantes mexicanos. Os Reyes inclusive vivem na periferia da cidade, onde reclamam dos efeitos da gentrificação e da falta de oportunidades.

Quando isso é abordado, sente-se o interesse do longa em contemplar os problemas sociais. Até mesmo a vilã Victoria é parte disso. Lá pelas tantas, descobrimos que ela é má porque o avô de Jenny, ao morrer, escolheu o irmão dela para assumir o negócio. Um caso fatal de machismo, como diz Jaime ao ouvir a história.

Esse comentário, além de constrangedor, define o quanto “Besouro Azul” está disposto a permanecer formulaico. Os temas sérios estão mais para objetos de cena, ocupando espaço para igualar alguma expectativa superficial de representatividade. A lógica é parecida com os acenos mais pop, que vão de “Chapolin” ao filme “Cronos”, de Guillermo del Toro, por questão de afinidade nacional.

Filme não foge ao clichê da representatividade

A direção econômica de Manuel Soto, nesse sentido, alimenta a fragmentação. “Besouro Azul” não é histérico como o desastre em movimento de “Flash”, mas termina tão espalhado quanto.

Bom exemplo é a família Reyes. Sua história flerta com o trágico, mas seus membros, boa parte do tempo, servem de alívios cômicos estereotipados. Como a avó, que se revela uma filha da revolução para despertar risadas no público.

Essa trama não conversa com a vilã de Susan Sarandon, que na atuação parece trabalhar em um filme à parte. Seu trabalho lembra os exemplares do “hagsploitation”, subgênero do horror em que atrizes veteranas se prestam ao papel de loucas desvairadas. Ou seja, o longa de novo mostra um desconforto com os mais velhos.

E Marquezine? A atriz brasileira trabalha em um espaço esquisito em sua primeira incursão por Hollywood. Por um lado, sua personagem tem amplo espaço, servindo de interesse romântico e motor da história. Por outro, a montagem em vários momentos a desfavorece, cortando cenas em que sua atuação está prestes a se impor – na primeira delas, lá na mansão da tia, a briga com Sarandon é picotada para o lado da mais jovem.

A situação sugere a falta de confiança, mas no fim é um bom resumo da obra. No interesse de diversificar, “Besouro Azul” quer mesmo é ser genérico.