ARTE

Belém ganha museu a céu aberto com foco na COP30

Saiba mais sobre o projeto Circuito Arte não é Privilégio, que tem como objetivo criar museus a céu aberto em capitais brasileiras.

Jean do Gueto e Alan Furtado representam Belém na iniciativa que quer transformar periferias das capitais brasileiras a partir da arte.
Jean do Gueto e Alan Furtado representam Belém na iniciativa que quer transformar periferias das capitais brasileiras a partir da arte.

Os paraenses Jean do Gueto, articulador e liderança comunitária, e Alan Furtado, artista visual, designer gráfico e ilustrador, têm em comum o campo de atuação no bairro do Jurunas. O primeiro é fundador do projeto nacional Sebo do Gueto e do Gueto Hub – misto de biblioteca comunitária, galeria de arte, museu, coworking e café. Já o segundo, residente no Jurunas, pesquisa e explora a estética afrofuturista, vinculada à ancestralidade e à diáspora negra na Amazônia.

Os dois são articuladores culturais que representam Belém em um projeto que pretende transformar periferias e áreas centrais degradadas de 27 capitais brasileiras em verdadeiros museus a céu aberto.

Trata-se do Circuito Arte não é Privilégio, uma iniciativa do Céu – Museu de Arte a Céu Aberto, criado pelo “artivista” e produtor cultural paulista Kleber Pagu. Nesta primeira fase do projeto – fomentada pela Bolsa Funarte de Artes Visuais Marcantonio Vilaça 2023, e realizada entre os dias 19 e 23 de novembro – os articuladores culturais participarão de uma série de residências artísticas e imersões na Funarte e Casa Mário de Andrade, com a presença de importantes nomes do cenário cultural brasileiro como a filósofa e escritora Márcia Tiburi, Jean Wyllys, os artistas Moara Tupinambá, Felipe Morozini e Jey77, a bailarina e ativista cultural Fernanda Bueno, entre outros. Em seguida, serão realizadas visitas a instituições parceiras do Museu Céu em São Paulo, como Beco do Batman, Theatro Municipal, Praça das Artes, Museu Afro e Sesc.

COLABORATIVO

“O Pagu me convidou para ajudar na articulação de fazedores de cultura nessa área do Jurunas, em Belém, e indiquei o próprio Jean do Gueto Hub, e ele indicou o Alan como artista. O ‘Arte não é Privilégio’ deve ir para Belém em torno da época da COP. Terá vários artistas da própria região, do bairro do Jurunas, e vão trabalhar em cima de arte, como se fosse uma residência. Mas não vai ser só artes plásticas. Vão ser artistas de todos os segmentos: música, poesia, dança, performance, tudo em torno de trabalhar a autoestima, a visibilidade dos artistas, dos criativos, criadores, que vivem e convivem nas proximidades da comunidade do Jurunas”, falou Moara Tupinambá, que é curadora, designer, ilustradora, comunicadora e ativista dos direitos indígenas, paraense e residente em São Paulo.

A ideia da primeira etapa é propor uma troca de experiências entre os articuladores culturais para que eles possam conhecer a fundo seus territórios, com saberes e as múltiplas linguagens de arte urbana e diferentes modelos de gestão desenvolvidos em São Paulo, para depois pensar o melhor modelo a ser adotado em cada cidade.

SIMBÓLICO

“Vejo que existe ainda uma carência muito grande, em relação a investimento mesmo, nas artes em locais das periferias, em locais que são subalternizados, marginalizados. E na minha visão é muito simbólico acontecer lá no Jurunas, porque é um lugar que historicamente foi ocupado tanto por indígenas que vinham de outras regiões do Pará, ribeirinhos e pessoas remanescentes, descendentes de quilombos, escravizados. Essa população que infelizmente é mais ignorada pelo sistema da arte contemporânea”, falou Moara, destacando ainda que esses locais carregam memórias de igarapés, rios, lugares arborizados e que existe uma mobilização muito forte nesse bairro.

“Somente com o projeto do Gueto Hub e com esse articulador principal que é o Jean, por exemplo, de uma preocupação mesmo com ambiental, com essa memória dessas águas, memória do igarapé, desses rios. Aquele canal ali, por exemplo, não pode ser canal, é um igarapé, tem vida pulsante ali. Por mais que tenha sido tão poluído pela questão dessa desorganização, da construção das cidades. Hoje, voltamos buscando a arte como esse lugar de manifestação também desses locais, que não têm como se manifestar, no caso os rios, igarapés, as árvores”, acrescentou Moara Tupinambá.

Para ela, trazer os artistas locais para o projeto é de uma relevância muito grande para Belém. “Sempre vemos a arte no centro, e esquecem de colocar a arte nesses lugares afastados, e de dar importância a esses artistas, que não necessariamente precisam ser conhecidos, famosos, ou mais conhecidos em Belém. Podem ser os artistas também que estão ali e que de alguma forma estão invisibilizados, apagados, e não tiveram essa oportunidade de mostrar o seu talento, sua criatividade. Então, como é que vamos conectar tudo isso com a COP vai ser muito importante, porque vão ser outros olhares, outros artistas que não estão tendo tanta visibilidade como deveriam ter, sendo um lugar ocupado pelos descendentes desses povos originários”, finalizou Moara.