Três décadas de arte e cultura popular no centro histórico de Belém, em meio à atmosfera especial que toma conta da capital paraense todo mês de outubro. O Auto do Círio levou cerca de 400 participantes e um grande público, na noite desta sexta-feira (06), às ruas do bairro da Cidade Velha, na 29ª edição do evento – um projeto de extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA) realizado desde 1993.
O Auto de 2023 abordou o tema “Nossa Senhora de todas as vozes da Amazônia”, com o objetivo de refletir sobre a luta dos povos indígenas pela garantia de direitos e do bem viver em seus territórios.
O professor e historiador Ataíde Júnior, diretor de Harmonia do Auto do Círio, explicou que neste ano há valorização das comunidades e dos fazedores de cultura. Além dos artistas e músicos da UFPA, o Auto envolveu mestres de cultura, fazedores e fazedoras de carimbó, grupos de autos populares e cordões de pássaros para compor o cortejo, porque “a gente entende que a arte precisa ser democrática e fazer com que todos os artistas tenham um espaço. O Auto do Círio também é um espaço de celebração dessa arte”, ressaltou Ataíde Júnior.
Estações – O Auto iniciou com a Arrumação, na Praça do Carmo, marcada por shows de carimbó e de artistas locais, seguindo em direção à Catedral de Belém para a 2ª estação, denominada Exortação.
O advogado e estudante de Teatro Cláudio Estrela, 32 anos, participou pela primeira vez do evento e se emocionou ao homenagear Nossa Senhora de Nazaré por meio da arte. “O grupo se chama artistas-devotos, e dessa forma eu sou. As emoções que eu senti em todos os ensaios é diferente. Eu me emocionei; é uma coisa totalmente diferente”, descreveu.
O cortejo continuou em direção à terceira estação, a Coroação, no Solar do Barão de Guajará, sede do Instituto Histórico e Geográfico do Pará.
A atriz Andreia Rezende, 59 anos, participa desde a primeira edição. “Eu sempre gosto. É sempre um espetáculo lindo, contagiante. É a homenagem dos artistas, e eu acho importante as pessoas também conhecerem”, disse a atriz.
Em sua segunda participação no espetáculo popular, Socorro Gomes, 57 anos, inovou no figurino. Este ano, participou vestida de guardiã da natureza para pedir proteção e forças pela preservação ambiental.
Socorro produz o próprio figurino, desde o desenho até a confecção. Para ela, estar no Auto do Círio é uma realização. “É uma experiência muito, muito, muito gostosa. Quem participa uma vez não quer parar mais. Eu fui convidada por um amigo meu do teatro, e estou maravilhada”, ressaltou.
O percurso foi finalizado com a quarta estação, Ascensão do Manto, em frente ao Museu do Estado Pará (MEP). A celebração dos artistas-devotos teve ainda muita música com a Escola de Samba Xodó da Nega.
Tradição – O Auto do Círio é realizado na sexta-feira que antecede a grande procissão do Círio, na manhã de domingo, para homenagear Nossa Senhora de Nazaré por meio de várias linguagens artísticas.
A iniciativa foi criada pela professora Zélia Amador de Deus e a atriz Margareth Refkalefsky, para que os artistas-devotos homenageassem Nossa Senhora com o teatro de rua.