Um projeto que combina arte e ativismo ambiental incorpora elementos da cultura popular e religiosa no Auto do Círio 2025. O lançamento do tema e do cartaz do evento ocorre neste domingo, 14, às 10h, com um ato cultural no Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará (UFPA), localizado na Praça da República, em Belém.
Na programação, será apresentado o manto, idealizado por Jean Negrão, e o cartaz de autoria do artista plástico Henri Brandão, além de um cortejo e performance artística de Lucas Cerejo. Estão previstas ainda neste mês filmagens que culminarão em um minidoc sobre esta procissão profana que acontece há mais de três décadas durante a quadra nazarena, sempre na noite da sexta-feira que antecede a Trasladação.
Desenvolvido como um programa de extensão da UFPA, o Auto do Círio é considerado patrimônio imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan. Há 32 anos move multidões pelas ruas do centro histórico de Belém e desperta emoções, por meio de cantos, teatro, dança, com a homenagem dos artistas-devotos à Nossa Senhora de Nazaré.
Este ano, o cortejo tem como tema “Nossa Senhora de Nazaré, iluminai as lutas dos Povos da floresta”, e faz um link com os quatro mistérios do terço mariano, trazendo a devoção a Maria, além da discussão sobre as mudanças climáticas.
“O projeto busca promover uma reflexão sobre a crise climática e soluções sustentáveis. A ideia surgiu em 2023, impulsionada pela nossa preocupação com a sustentabilidade e a contradição de falar em ecologia enquanto se gera lixo”, diz Inês Ribeiro, diretora geral e artística do Auto do Círio.
No cortejo, cada mistério é representado por setores diferentes. É o que explica Inês, que coordena o evento desde 2023. “Cada mistério – gozoso, glorioso, doloroso e luminoso – representará um setor do Auto do Círio. Combinando com os mistérios, a gente vai trazer questões climáticas. Por exemplo, o primeiro mistério gozoso trará destaques artísticos de Nossa Senhora do Ó, a padroeira de Mosqueiro. Esse setor vai falar da fé e, em contraponto, teremos o ângulo do Apocalipse e a fome, que representam a falta de alimento, uma consequência da contaminação dos rios e queimadas, fazendo uma reflexão de perda”.
A coordenadora avisa: o cortejo contará com muita luz, figurinos leves, conectando esse visual com a procissão luminosa. Inês Ribeiro conta que após muitas pesquisas, chegou às festas de aparelhagem e à iluminação delas, num link com o mistério luminoso. “A Gaby Amarantos é a embaixadora do Auto do Círio e é quem faz show ao final do cortejo. Ela representa a arte da periferia, no estilo brega. Gaby vem como uma luz para a Amazônia, gerando reflexão sobre a nossa região e sobre o planeta. Essa luz tem várias metáforas. Na arte, ela simboliza a iluminação do próprio cortejo, em luz neon, que lembra muito da arte da periferia”, descreve.
OFICINAS
O espetáculo acontece a partir de oficinas de cenografia, figurino com LED, além do teatro de rua e orquestra de rua. Para participar das oficinas, os interessados já podem se inscrever a partir desta segunda-feira, 15, até o dia 22 de setembro, por meio de um link disponível na página oficial do evento no Instagram (@autodocirio) Algumas oficinas são oferecidas apenas para alunos da Escola de Teatro e Dança da UFPA, e outras, para a comunidade em geral.
MINI DOC
A edição deste ano tem a parceria internacional com o grupo ambientalista Alianza, que atua na Colômbia e no Chile, e que dá apoio na construção da cenografia e do figurino.
A parceria visa criar um minidocumentário para a América Latina, que mostrará o processo de construção de materiais de cenas e figurinos, utilizando elementos da Amazônia, como palha, paneiros, talas e outros objetos sustentáveis.
“Estão incluídas filmagens no próximo dia 19, além de 15 dias de ensaios nas ruas, de 22 de setembro a 10 de outubro. A programação abrange a realização de um “Autinho”, no aniversário do Auto do Círio, no dia 3 de outubro. Também serão feitos ensaios gerais, nos dias 8 e 9 de outubro, e finalmente, o Auto do Círio, no dia 10 de outubro”, detalha a diretora geral do projeto.