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Atriz e cineasta paraense no rumo do Festival de Cannes

Rayssa de Castro é paraense e vem produzindo no Rio de Janeiro FOTO: DIVULGAÇÃO
Rayssa de Castro é paraense e vem produzindo no Rio de Janeiro FOTO: DIVULGAÇÃO

Texto: Aline Rodrigues

Roteirista, produtora e cineasta, a paraense Rayssa de Castro – hoje radicada no Rio de Janeiro – deu seus primeiros passos na arte de interpretar quando participou de um curso de teatro aos oito anos, em um circo, e atuou em seu primeiro filme quando tinha apenas 14 anos. Hoje, além de atuar, ela escreve, produz e dirige os próprios projetos audiovisuais. Seu currículo ainda conta com algumas peças de teatro bem conhecidas, dentre elas o musical “La Bamba”, que ganhou os palcos cariocas e paulistanos, sob supervisão de Miguel Falabella.

Agora a expectativa da cineasta paraense é ganhar destaque no cinema com o longa-metragem “Rocinha, Toda História tem Dois Lados”, que está em fase de finalização e deve ser lançado em maio do ano que vem, no Festival de Cannes. O filme mostra uma tentativa de invasão da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, durante uma guerra travada por dois bandos rivais. Tudo contado pela perspectiva de Clarinha (Mariana Azevedo), uma menina de 11 anos, filha de um traficante com uma mulher trabalhadora. Ela não quer ter o mesmo destino dos pais, sonha ser atriz e sente muita discriminação por ser do morro.

Rayssa, além de dirigir o longa, também assina o roteiro. “O ‘Rocinha’ surgiu quando eu conheci as crianças da comunidade no teatro e elas pediram para trabalhar comigo. E foi o meu maior desafio! O que pretendo é humanizar a galera da comunidade. É provar que ali dentro não tem só bandido, drogas, bala perdida e invasão. Tem um povo trabalhador, guerreiro, que sonha com dias melhores e que só precisa de uma oportunidade”, diz Rayssa. Assim, o maior desafio do longa é fazer a sociedade entender que toda história tem dois lados, que família de bandido não tem só bandido. “Que uma pessoa, por ser negra, não quer dizer que seja
bandida”, acrescenta.

Longa quer mostrar outras facetas da favela

O filme tem um elenco 80% formado de moradores da favela, com uma história toda contada no olhar de uma criança e não tem foco no tráfico, como a favela geralmente é retratada. “A gente fala dos moradores, de um povo que te recebe de braços abertos. Rocinha é a maior favela da América Latina, é uma cidade dentro de uma cidade, e o povo precisa saber que ali tem pessoas com sonhos, que vivem reféns de um fogo cruzado entre polícia, bandido e facções. Eles são as maiores vítimas. E deixar bem claro que todos só precisam de uma oportunidade de sonhar, realizar e de acreditar que são capazes”, diz Rayssa.

Fazer o longa sendo uma mulher branca e que não mora na comunidade, teve também seu peso, mas a cineasta tratou de enfrentá-lo. “Ver ‘Rocinha’ pronto não é só uma realização pessoal, é um compromisso com toda a comunidade. Um agradecimento pessoal aos produtores locais João Carvalho, Hudsom Carvalho, Vitor Robert, Nelson, ao comércio, à associação de moradores, à UPP da Rocinha e do Vidigal, à biblioteca, ao Centro Esportivo da Rocinha e um grande elenco que fechou comigo até o final”.

Já bastante integrada à cena audiovisual do Rio de Janeiro, a paraense agradeceu ainda a alguns amigos famosos que colaboraram com o projeto, entre eles, Leandro Firmino, o eterno Zé Pequeno, de “Cidade de Deus”; Renato de Souza, o Marreco de “Cidade de Deus”; Peter Brandão, ator de “Impuros”, “Malhação” e “Sob Pressão”; Douglas Sampaio, ator que ganhou “A Fazenda”; o eterno Cabeção de “Malhação”, Sérgio Hondjakoff; e a atriz Claudia Melo. “Todo carinho e respeito com essa galera que comprou a ideia desde o início. ‘Rocinha’ é sim um longa-metragem independente, mas veio com qualidade e peso para brigar que nem gente grande”, destacou Rayssa.

Cineasta também produz série sobre mulheres e violência 

Paralelo à etapa de edição do longa-metragem, Rayssa também está em fase de filmagem da série “Sobrevivendo no Inferno”, uma produção assinada por ela e Claudia Melo, protagonista do projeto. Com 12 episódios, a série mostra a história de Luana, uma mulher de classe média que ao passar pela perda da mãe também vê o próprio pai violentar sexualmente a irmã dela e acaba cometendo um crime como vingança. Dentro do presídio, a protagonista enfrenta uma série de mudanças intensas, reviravoltas e lida com mulheres de diferentes personalidades. No elenco da série estão nomes como Sidney Sampaio, Ricky Tavares, Solange Vega (a Sol do BBB4) e o paraense Duda Moreira.