A capital paraense recebeu, na última sexta-feira, 30 de maio, o título de capital mundial do brega, honraria concedida durante a 123ª reunião do Conselho Executivo da ONU Turismo, em Segóvia, Espanha, que destaca a riqueza cultural da cidade. A honraria entregue ao ministro Celso Sabino, atual presidente do Conselho Executivo da ONU Turismo, pelo secretário-geral da entidade, Zurab Pololikashvili, repercutiu entre os artistas paraenses que fazem do brega seu caminho de trabalho artístico. Entre elas, a cantora Valéria Paiva, vocalista da banda Fruto Sensual, para quem o reconhecimento chega num momento importante onde o brega vem rompendo fronteiras e ganhando mais espaço.
“Esse reconhecimento chega num momento maravilhoso, nosso brega está furando a bolha, se expandindo, rompendo fronteiras. Eu que já levanto essa bandeira do brega há quase 30 anos, imagina os que vieram antes de mim… acho muito importante, porque no início sofremos, sim, muito preconceito, muita discriminação. Mas enfim conseguimos mais uma vez furar essa bolha, levar o brega para todas as classes sociais, em todas as suas vertentes. Foi aqui no Pará que a gente popularizou todas as vertentes do brega, tecnomelody, tecnobrega. E o brega que também faz parte da nossa cultura e também fomenta a economia”, opina Valéria.
A cantora destacou que hoje em dia é difícil ver um lugar – uma casa de shows ou local de eventos – que não toca o ritmo. E diz que as pessoas aceitam e curtem a música, independente da classe social.
“O Fruto Sensual foi a primeira banda a colocar uma aparelhagem dentro de uma Assembleia Paraense, e isso, até então, era impensável”, diz Valéria, lembrando que por muito tempo o brega foi julgado como cultura de menor valor cultural. “Então, para todos os artistas, com certeza, hoje é a vez de se comemorar mais esse título, porque é merecido”, destacou ela.
Para a artista, é importante que esse título também traga mais olhares para a riqueza e diversidade cultural da região. “Nossa região é tão rica em tudo, cultural, gastronômica, em tantas outras coisas. Então, que traga mais esse olhar de carinho para nossa região e para os nossos artistas também, que estão aqui, que ficam aqui, fomentando a nossa economia de segunda a segunda”, disse ela.
Reconhecimento e Luta no Movimento Brega
Para Hellen Patrícia, vocalista da banda Xeiro Verde, a notícia foi uma grata surpresa. Mas ela não considera apenas como um título, e sim como o reconhecimento de uma luta de décadas de artistas esquecidos que sofreram com o preconceito por se denominarem artistas e cantores do brega.
“Mauro Cotta, Tedd Max, Juca Medalha, Luiz Guilherme, Jorge Benner, Francys Dalva e tantos outros defendiam essa bandeira lá atrás, no primeiro estouro do brega no [casa de shows] Xodó. O brega é um movimento cultural que gera renda, empregos diretos e indiretos. O brega é dança e figurino”, exaltou Hellen.
Para a cantora, defender essa bandeira nunca foi fácil, porque no meio do caminho há muitas barreiras. Até hoje.
“Defendo essa bandeira, e não é fácil, nunca foi. Hoje temos diversos artistas, que, assim como eu, defendem essa bandeira, mas que ainda encontram muitas barreiras. Espero que com esse título se tenha mais investimentos no ritmo, como a criação do Museu do Brega, festivais que contem a história do ritmo, que mostre esses artistas pioneiros, unindo aos mais atuais. Só se faz um futuro conhecendo seu passado. E viva Belém, a capital mundial do brega!”, comemorou a cantora.
Visibilidade e Investimentos no Ritmo
Outro nome de sucesso no movimento brega, Wanderley Andrade acredita que Belém tem seus méritos no que diz respeito ao estouro do brega. E muito pelo trabalho dos artistas – ele próprio se diz um retrato disso, dedicado, nos últimos 35 anos, a defender o ritmo. “Colocando a minha cara a tapa e muitos artistas ignorando, inclusive pessoas envolvidas dentro do contexto cultural. Brega é pejorativo no sentido da palavra, mas o que nós cantamos não”, disse ele.
Ele também destacou, que esse reconhecimento é graças a todos os esforços de pessoas como ele, Edilson Moreno, Tedd Max e Tonny Brasil, que fizeram esse retrato que faz de Belém a Capital Mundial do Brega.
“Orgulho do Pará, orgulho dos nossos compositores, mas acho que os novos governos poderiam dar um pouco mais de visibilidade para os artistas do brega. Precisamos de um olhar político mais carinhoso, atencioso”, finalizou ele.