O Arquivo Público do Estado do Pará abriga milhares de documentos oficiais de três momentos políticos do Brasil: colonial, imperial e republicano. Para tentar preservar os materiais, geralmente manuscritos em papel, a instituição possui um setor específico de restauração e conservação.
Entre as atividades em andamento, o Arquivo Público trabalha no restauro de mais de 700 códices (conjuntos de documentos manuscritos encadernados), dos quais 321 já foram concluídos.
João Lopes, historiador da instituição, destaca a importância do Arquivo Público para a pesquisa regional, nacional e internacional e a necessidade de preservação da memória.
Etapas da conservação
“Essa política de conservação remonta à década de 1980, quando o Arquivo começa a existir como instituição própria e não mais ligado à Biblioteca Pública”, afirma o historiador. Ele explicou que a conservação é feita por várias etapas, como a higienização e a troca do acondicionamento.
“Ao longo do tempo, isso foi se adequando, veio a microfilmagem e, com a evolução das tecnologias, hoje nós estamos trabalhando a questão da digitalização como uma forma de restaurar a informação, permitindo que os pesquisadores acessem uma informação que antes não era possível por conta do estado físico do documento”, pontua o técnico.
O setor de Restauração e Conservação é dotado de secadoras, prensas, lavatórios e outros instrumentos para o tratamento do papel. Maria de Fátima Veloso é bibliotecária e foi treinada pela Biblioteca Nacional e Associação Brasileira de Conservação e Restauro (ABER) para cuidar dos documentos históricos de forma minuciosa.
Trabalho rigoroso e detalhista
“Primeiro a gente desencaderna, passa um tipo de cola metilcelulose, que é lavável. Depois faz a limpeza com a trincha e vai fazendo pequenos reparos com um adesivo que já vem com aderência para depois acondicionar. Eu ajo como se fosse um quebra-cabeça, tentando colocar as peças, mas nem sempre é possível e fica incompleto”, explica Maria de Fátima.
Ainda de acordo com Maria de Fátima, as técnicas de restauro são definidas, de acordo com o estado e a relevância do documento. Algumas precisam de banhos com água deionizada morna, colocados em secadoras e depois passam por recomposição de PH com hidróxido de cálcio. A preservação também depende da forma como se guarda e manuseia, além da climatização dos ambientes.
Documentos muito quebradiços são colocados em duas folhas de poliéster cristal que permite o manuseio e evita a deterioração. Os blocos depois de preparados são colocados em caixas de acondicionamento em papel microondulado alcalino e seguem para um cofre. As informações são digitalizadas e disponibilizadas para consulta.
Presente e futuro
O cuidado com os documentos do passado também ocorre com os registros do presente com foco no futuro. A Política Arquivística Nacional considera, atualmente, o avanço dos suportes tecnológicos, que são substituídos a cada época.
“Hoje, por uma questão física, não se recolhe documentação, nem mesmo aqueles considerados como uma decisão histórica. Mas, tentamos dar todo o apoio teórico de preparação de mão de obra para que as próprias instituições possam guardar essa documentação, que deve ficar à disposição da sociedade”, enfatiza João Lopes.
O valor histórico da documentação é definido por aqueles que pesquisam e analisam a sociedade, como historiadores e antropólogos, por isso é importante que as instituições aprendam a preservar o seu acervo. “O Arquivo se dispõe a qualificar mão de obra para que a instituição governamental pense a preservação como uma política pública”, acrescenta João Lopes.