Wal Sarges/Diário do Pará
“Uma antologia às avessas”. É assim que o jornalista Tito Barata, filho de Ruy Barata, define a obra do pai, “Antilogia e Outras Linhas”, cuja reedição será lançada nesta quinta-feira, 30, a partir das 18h30, no Espaço de Conexões Na Figueredo, em Belém, com o selo da Amo! Editora. Um “happy hour literário” com música ao vivo, e jam session com a participação de Antônio Benatar, Celso Vaughan e vários instrumentistas paraenses.
Esta, segundo Tito, é uma versão ligeiramente ampliada e totalmente revista de “Antilogia”, livro emblemático da obra de Ruy Barata, no qual o poeta, compositor e professor trabalhou no último ano antes de falecer, em 1990. “É uma antologia às avessas porque ela não segue uma ordem cronológica. É na realidade uma oposição de ideias, como a própria palavra significa, em termos filosóficos: antilogia é oposição de ideias que não interrompe a formulação de novas ideias”, explica Tito Barata.
Depois do lançamento em 2000, a edição de mil livros esgotou-se rapidamente. Agora, exatamente 23 anos depois, a Amo! Editora, capitaneada por Andréa Pinheiro, propôs a Tito Barata que fizesse o relançamento da obra. Tito, por sua vez, conta que aceitou, contanto que ela fosse acrescida de outros textos que não estavam na edição original. “São pequenos textos, onde identificamos um por um dos personagens que são citados na obra, além de colocar uma cronologia bem adequada para a feitura dos poemas e alguns textos de pessoas que falaram sobre o Ruy”, detalha.
Tito comenta algumas questões levantadas sobre a obra. “‘Antilogia’ é, eu diria, uma síntese da obra do Ruy e por muitos requalificada como uma obra, digamos assim, enigmática, porque gerou questionamentos como: ‘por que o Ruy organizou os poemas desse jeito?’. Por exemplo, o poema “27 quase 28 anos”, escrito por ele exatamente quando Ruy tinha essa faixa etária e publicado no livro ‘A Linha Imaginária’, de 1951, vem numa ordem posterior à ‘Canção dos 40 anos’, escrito quando ele tinha 41”, destaca Tito.
Nesse diálogo, outras perguntas surgem, continua o editor: “Por que ele escolheu exatamente esses poemas ou ainda por que desse jeito? ‘Antilogia’ possui 14 poemas, com sete inéditos e outros sete que já eram conhecidos. Portanto, eu diria que ‘Antilogia e outras linhas’ é uma obra nova, porque penso que ela é um grande marco para quem quer conhecer uma síntese da obra do Ruy”, afirma.
Escrito por Ruy Barata quando ele tinha 41 anos, “Canção dos 40 anos” é um poema publicado mais ou menos na década de 1960, quando Ruy fez uma revisão aos 40 anos da vida dele. “É um poema rememorativo, então eu escolhi estes 14 poemas que constam de Antilogia, que ele quis passar uma mensagem”, descreve Tito Barata.
Relação filosófica com a poesia
Lançado em 2000, 10 anos após a morte de Ruy Barata, em 1990, “Antilogia” recebeu uma edição em capa dura, com selo da Secretaria de Cultura do Pará, com uma série de 14 poemas escolhidos por Ruy pessoalmente e dispostas por ele numa determinada ordem. Tito conta que o pai não gostava de apresentação ou de prefácio nos livros dele porque achava que isso fosse uma muleta para os poemas.
Mas na nova edição pela Amo!, na condição de editor, Tito percebeu que era possível fazer algumas análises pontuais da obra. “Tem uma apresentação excelente do Benedito Nunes, que foi muito amigo do Ruy, que era da geração da ‘turma do Central Café’, que ficava localizado na Presidente Vargas, abaixo do Hotel Central, onde reunia, segundo Lúcio Flávio Pinto, a maior geração de intelectuais republicanos do Pará nos anos 1940 e 1950. Essa roda era liderada pelo professor Francisco Paulo do Nascimento Mendes, o Chico Mendes, e nesta ‘Antilogia’ também consta a carta-poema que o Ruy fez ao Chico Mendes, que era seu mestre, mentor, além de compadre. Era uma das pessoas que o Ruy mais admirou em toda a vida”, diz.
IMPORTÂNCIA
Tito Barata lembra que, enquanto poeta, apesar da obra de Ruy Barata não ser grande, é significativa. “Sua importância não é só para a literatura feita na Amazônia ou no Pará, especificamente, mas é para todo o Brasil, porque o Ruy é de uma geração pós-modernista, mais ou menos da geração de 1945. Isso pode ser observado no poema dele, que não é o poema pelo poema, ele não brinca com palavras, nem fica organizando palavras. Ele sempre tem uma mensagem, e geralmente ela passa pela metafísica”, aponta o filho-editor.
E o trabalho de Ruy tinha muito a ver com um processo filosófico, acredita Tito. “Eu digo que o Ruy nunca parou exatamente para questionar o poema dele, acho que ele sempre trabalhou no estado de ‘flow’, para usar uma palavra da moda, retratando o significado de fluxo. Como ele abre um dos livros dele, o ‘Anjo dos Abismos’ com Baudelaire, perguntando o que é a beleza. Ele tinha a clara certeza que a beleza não é deste mundo e que as mensagens também não são. A mensagem era soprada pelo Universo, pela metafísica, por alguém que é o fluxo da chamada ‘inspiração’. Mas junto com ela, vinha muito trabalho, porque o Ruy trabalhava demais nos seus poemas para não desapontar – digamos assim – as musas dele. Ele tinha que conhecer o seu ofício para realmente passar essa simbologia em termos de poema”, justifica.
“Você pode ver que os grandes ensinamentos do mundo, todos são escritos em forma de poema, porque é uma linguagem que preserva muito mais a mensagem. Eu acredito que o Ruy ficou até o fim da vida se perguntando o que era poesia e não sei se ele conseguiu encontrar a resposta, mas ele era uma pessoa que se indagava o tempo inteiro filosoficamente isso. Essa poesia dele tem uma importância grande porque fala de coisas íntimas do ser humano”, diz.
TÉCNICA
Ruy Barata, segundo Tito, não tinha uma organização metódica para criar o poema, o que não quer dizer que em seus textos não houvesse o trabalho com a palavra, depois da inspiração chegar. “Quando recebia a visita das musas, ele estava preparado para criar o poema, e ele o criava sem horário para trabalhar, mas sempre era com muito trabalho. Depois, quando ele praticamente largou um pouco a poesia e foi para a letra de música, também conseguiu passar umas mensagens importantes. Por exemplo, você vê que em ‘Antilogia’ tem uns dois ou três poemas que viraram letras que foram musicadas pelo meu irmão Paulo André Barata, parceiro e filho do Ruy”, completa o editor.
LANÇAMENTO
“Antilogia e Outras Linhas”
Autor: Ruy Barata
Editora: Amo!
Quando: Quinta-feira, 30, às 18h30.
Onde: Espaço de Conexões Na Figueredo (Av. Gentil Bittencourt, 449 – Nazaré)
Quanto: Entrada gratuita. Livro a R$60 no lançamento.