Ansiedade titânica: fãs na expectativa para turnê “Encontro” dos Titãs em Belém

Aline Rodrigues

No último 16 de novembro, quando os Titãs anunciaram o reencontro da formação original da banda em uma turnê com dez shows para celebrar os quarenta anos de uma das bandas mais icônicas do rock brasileiro, eu estava no supermercado, e parei o meu carrinho num canto. Parecia um sonho para os fãs, entre os quais me incluo, rever a formação clássica. Era torcer para que Belém fosse contemplada pela turnê.

Não foi. Já combinava com os amigos e o marido para irmos a uma das cidades confirmadas, Fortaleza, em junho de 2023. Mas então veio o anúncio do show na capital paraense – uma das datas extras incluídas pela banda após a enorme procura do público. Foi uma mistura de felicidade e ansiedade.

No meu caso, a espera pelo show vem desde junho de 2008, quando a banda tocou em Belém. Eu, que estava casando naquele dia, não pude ir. Não podia faltar à cerimônia, porque perderia o marido. Mas fiz o convite ao meu parceiro: “que tal após a cerimônia irmos ao show vestidos de noivos e depois voltamos para a festa?” Ele não topou. Perdi o show. Tudo bem, casamos, construí uma família linda. De volta a 2022, no supermercado, liguei para ele e disse que ele me devia essa.

Certamente não sou a única. A jornalista Danielle Ferreira, 45 anos, também é pura ansiedade para o show da turnê “Encontro”, que aporta por aqui no próximo dia 12, no Espaço Náutico Marine Clube. Ela se declara fã de rock e da banda desde a infância. “Sempre, desde garotinha, com 10 anos, eu gosto de rock. Nasci em São Paulo e lá passava um programa na TV Cultura chamado ‘Som Pop’, apresentado pelo Kid Vinil. Assim fui conhecendo várias bandas, entre elas o Titãs. Me lembro que eu ficava dançando na frente da TV e minha irmã gritando, ‘Mamãe, mamãe, olha as músicas que a Danielle escuta’. Nessa época, final da década de 1980, havia uma espécie de ‘demonização’[do rock]. Tem até a expressão ‘o diabo é o pai do rock’. O Titãs era uma das bandas em que eu ‘pirava’”, lembra ela, que em março de 1990 veio morar em Belém.

Foi quando a banda veio fazer um show no Ginásio de Educação Física (atual campus da UEPA). Ela era uma pré-adolescente, 11 anos, e a irmã, agora também fã, endossou e intermediou a ida dela ao show. “Foi um showzaço. A performance deles no palco, lembro perfeitamente. A presença de palco sempre foi muito marcante nos Titãs. Essa época não tinha internet, era fita cassete, walkman e vitrola, aqueles 3 em 1 da Philco (risos). Eu tinha várias fitas cassete, desde o disco de 1984, ‘Titãs’, ‘Televisão’, de 1985, ‘Cabeça Dinossauro’, ‘Jesus não tem dentes no país dos banguelas’ e por aí vai”.

Danielle lembra até hoje do primeiro vinil que ganhou, presente de aniversário: “‘Cabeça Dinossauro’, comprado na Mesbla. Papai me deu e lembro até hoje da expressão dele, ‘passado’ com a capa do disco”, acrescentou a jornalista. Era tudo demais para a época, e isso era fascinante para a então adolescente.

“Os Titãs traduziam o sentimento dos marginalizados, dos excluídos. As críticas eram pesadas em cima das organizações, igreja, governos”, diz.

Agora, Danielle é só ansiedade para reviver esse encontro com a banda, porque para ela os Titãs não só estão na base do rock nacional, eles fazem parte da formação cultural, social e ideológica do país. “A música tem esse poder de movimentar as massas. O Titãs fez esse papel! E eu estou esperando eles tocarem tudo (risos), desde ‘Toda Cor’, que é uma balada linda, ‘Sonífera Ilha’… Torço para que sejam duas horas, no mínimo, do mais genuíno rock nacional”, deseja.

Show com família inteira ou fugindo da família, tem para todos

Em 40 anos de trajetória da banda, ainda nos palcos, era de se esperar que essa turnê reúna diferentes gerações. Para o militar Fabrício Nascimento, o show vai ser uma verdadeira celebração familiar, pois ele vai acompanhado da esposa, da mãe e do pai, da irmã e do cunhado, todos fãs da melhor da “Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”.

“A expectativa é imensa. No final de semana passado fizemos até uma cervejada regada à música e só deu Titãs”, conta. Ele começou a ouvir a banda após assistir um show acústico na extinta boate Escápole, em meados de 1997.

Para Fabrício, ser fã é sempre acompanhar os trabalhos da banda, sejam novos ou antigos, e na sua playlist estão todos os álbuns do Titãs. Mas “Hereditário” e “Domingo” são duas das canções que ele quer ouvir no show.

Nessa mesma noite na Escápole, também estava por lá a fisioterapeuta Fernanda Souza, 40 anos, na época adolescente e fugida da família para poder assistir ao show.