Anitta rebusca origens e vertentes do funk brasileiro

Créditos: Gabriela Schmidt
Créditos: Gabriela Schmidt

As batidas do funk e o modo de dançar brasileiro são as características que a cantora Anitta queria para seu mais novo álbum, intitulado “Funk Generation”, que está disponível em todas as plataformas de música desde a última sexta-feira (26). A energia e o rebolado carioca estão presentes no disco da artista, que traz letras em inglês, espanhol e português. Anitta apresentou os detalhes do álbum e o clipe de “Grip”, em primeira mão, em uma coletiva de imprensa com jornalistas de todo o Brasil.

Com os cabelos desalinhados e o rosto quase coberto por grandes óculos, vestindo um moletom escuro, Anitta dizia que, como eram 9h da manhã, tinha acabado de acordar. Mas nem a aparência desglamurizada se contrapunha ao ar de satisfação que a cantora carregava. Ela diz estar em uma fase tranquila, sem exigir tanto de si mesma e nem esperar aplausos de ninguém porque acredita que já chegou onde se imaginara algum dia. Por outro lado, admite que quando pensou neste projeto, estava acamada e queria deixar seu registro na história, caso morresse naquele momento. A depender dos fãs e da crítica, parece que ela teve seu feito alcançado.

“Eu queria tentar algo novo e me arriscar novamente. É um desafio muito grande fazer um álbum que buscou mostrar o nosso jeito de fazer funk, nas letras e no nosso modo de dançar. Por várias vezes na minha vida esse álbum foi postergado e acabou não acontecendo. As pessoas daqui de fora [fora do Brasil] não estão acostumadas a ouvir funk brasileiro, então é uma porta de oportunidades que se abre”, disse a cantora, cada vez mais direcionada ao mercado internacional. “Não penso que ter feito este trabalho é um caminho certo e seguro. Mas acho que neste momento estou bem feliz só de vê-lo disponível para o mundo. A gente está trabalhando muito para ser só sucesso, mas se não acontecer, a gente vai entender. Nesse momento da minha carreira, estou pouco me lixando. Se der certo só no Brasil, ótimo; se for melhor no mundo, vou amar. Mas se não der certo, não vou me frustrar, porque pessoalmente estou muito orgulhosa do álbum”, afirmou Anitta.

“Grip” se inspira nos subgêneros do funk, desta vez com uma letra sensual sobre uma figura feminina que domina a cena. A canção é um dos carros-chefes do álbum e ganhou videoclipe inspirado nas festas de rua características das periferias brasileiras. Gravado em um galpão no Rio de Janeiro, o audiovisual envolveu 180 pessoas em sua produção e foi dirigido pela Ginga Pictures – que colaborou com Anitta em videoclipes como “Funk Rave”, “Boys Don’t Cry” e “El Que Espera”.

A viagem proposta por “Funk Generation” começa fazendo referência aos primórdios da cena funkeira. A inaugural “Lose Ya Breath” explode em arranjo inspirado no miami bass e no electro, subgêneros da música eletrônica que inspiraram a criação do gênero brasileiro. Aqui, a cantora convida o ouvinte a embarcar em uma jornada de tirar o fôlego. É o baile começando.

Anitta contou que se inspirou em um filme de Angelina Jolie (Gia – Fama e Destruição) para a estética do álbum. “Eu tenho essa coisa de me inspirar em audiovisuais para os meus discos. E quando pensei na faixa ‘Lose Ya Breath’, só lembrei de uma das cenas de Gia Carangi, onde as pessoas descobrem ela como uma top model. Ela vai para uma grade e começa a posar, superagressiva, com muita atitude. Eu falei para o meu diretor criativo que aquela cena era algo que eu tinha pensado por causa dessa energia. Então, a gente colocou a grade na capa do álbum e a favela por trás, porque simboliza uma das características do berço do funk”, descreveu.

As letras do álbum são em sua maioria em inglês ou espanhol. “Joga pra Lua”, feat de Anitta, Dennis e Pedro Sampaio, foi mantida no álbum em português. A cantora disse que até tentou traduzir a faixa para o inglês, mas não gostou do resultado. “‘Joga pra Lua’ foi o último funk que lancei e por isso quis colocar no álbum. Não era uma estratégia de mercado, mas traz essa ideia de ensinar o funk do nosso jeito. A intenção é mostrar uma nova era do funk. Não sei se vamos conseguir, que é feito com pesquisa das origens, sobretudo, feito para as pessoas de fora terem como referência de funk. Fazer funk com sonoridade e o nosso jeitinho. Acho que é por isso que os brasileiros estão gostando tanto”, ponderou.

MODO ANITTA

O jeitinho bem Anitta, direto e sensual, está no ritmo e também nas letras. Em “Puta Cara”, por exemplo, a ‘girl from Rio’ assume o comando na cama, falando abertamente sobre como gosta de explorar sua sexualidade. Na já lançada “Double Team”, em parceria com Brray e Bad Gyal, ela escancara seus desejos sem medo: “Sou bem puta, mais cachorra que o Rintintin”, canta.

Anitta critica o posicionamento de quem milita sobre o fato da mulher também sentir prazer e fingir que não sente. “Nessa música [“Puta Cara”] eu me apaixonei pela batida. As pessoas sugeriram trocar a letra, mas nada ficava tão divertido e empolgante, então deixamos assim mesmo (risos). Todo mundo f*de pra c*ralho, todo mundo transa. Quando é falado por homens, ninguém fala nada – e eles falam coisas até piores nas letras-, mas quando é a mulher que fala, criticam a forma como a cantora fala sobre as mulheres. Eu não estou nem aí para o que falam, quero me divertir, faço música para dançar e divertir. Acho bonito quem faz outro tipo de estilo, ouço e gosto, e penso em fazer um dia, mas por enquanto quero fazer música para dançar mesmo e para curtição”, enfatiza.

“As nossas inspirações foram músicas que já existem, alguns samples, além do funk melody, o de baile, de corredor, o funk de rebolar a raba, o sexo explícito, assim como o passinho, o rebolado. Tudo. E cada produtor que eu convidei, na minha visão, tinha uma missão, que foi trazer várias eras do funk. Tanto é que cada um deles tem uma idade diferente, um lugar na linha do tempo do funk”.

A cantora disse que ‘educou’ compositores no funk. “Foi bem engraçado porque a gente fez sessões com produtores – que são brasileiros – e escritores – que falam inglês e espanhol. Então, tive que falar sobre funk, cantar e dançar para eles entenderem do que se tratava. Eles ficavam boquiabertos e perguntavam se a gente ouvia ou cantava essas músicas. Eu dizia que sim, então foi um workshop sobre o funk. Todos saíram educados de funk”, brincou.

Quando se trata de ‘proibidão’ ou do melody, Anitta é certa que o mais desafiador é escrever sobre o primeiro. “Porque, pelo menos para mim, o melody tem mais letra, então, acaba sendo mais fácil. O proibidão não, porque tem de fazer a letra sem pensar no que está falando. Então é mais complicado porque é uma música feita para dançar e não cantar, a letra é mais vazia”, considerou.