Mergulhar em memórias reais ou sonhadas, acompanhando um personagem que, desde menino, desenha árvores. Ele as nomeia, conversa com elas, as guarda no papel. Entre todas, destaca-se a samaumeira. Quando ela desaparece, ele é lançado num fluxo de lembranças que transita entre a infância, a perda e a imaginação. É o que nos conta a animação “Umassuma – Lascas de Memória”, dos diretores Guaracy Britto Jr. e Andrei Miralha, que será lançada hoje, 25, às 18h30, na Casa da Linguagem.
A história é inspirada na queda de parte de uma samaumeira na Praça Santuário da Basílica de Nazaré, em Belém, em 2023. Além de um acidente urbano, o episódio ganhou o peso simbólico de uma perda coletiva. O risco de novo desabamento da árvore levou à decisão de cortá-la pela raiz. Durante dias, moradores recolheram fragmentos da árvore como relíquias, escreveram crônicas, fizeram orações. Era como se um guardião silencioso tivesse tombado.
“Ele é um curta que parte de um fato real, que foi a queda da samaumeira, que causou uma grande comoção na cidade. Muita gente foi para lá para pegar uma lasca da árvore. E pensamos numa história de um personagem que tivesse uma relação com essa árvore especificamente, mas acaba que cada um de nós tem alguma lembrança de alguma árvore. Seja uma árvore frutífera, seja uma árvore que era boa de subir, onde os amigos se encontravam, alguma árvore da rua, uma árvore do quintal de casa”, falou o diretor Andrei Miralha, que destacou ainda não saber como anda essa relação da geração atual com a natureza.
“A nossa geração tinha uma relação muito mais próxima com essas árvores, de subir, de pegar fruta, de se encontrar embaixo de uma árvore. E esse curta remete a essas memórias afetivas, mas que são umas memórias também inventadas”, acrescenta.
CONTO E MEMÓRIAS
Uma das sementes que deram origem ao curta-metragem é também um conto escrito por Guaracy. “A ideia surgiu de um encontro meu com o Andrei, onde propomos fazer uma animação juntos. Puxei um conto sobre um garoto que tem uma relação com uma árvore em uma das ilhas de Belém, e estávamos muito perto dessa comoção toda da samaumeira, então trouxemos para dentro da cidade”.
Ao longo do trabalho, Guaracy conta que ambos foram trazendo memórias pessoais para a história. “Cada um tem a sua pegada poética e criativa, a sua forma de pensar. Fomos jogando ideias e depois fomos diminuindo, pois estávamos focados que seria um curta de no máximo 7 minutos, essa era a proposta”, diz Guaracy.
As escolhas feitas resultaram em uma forma de contar uma história triste de uma maneira que sirva para reflexão e como diversão também. “Nos preocupamos muito em como iríamos desenvolver. Resolvemos fazer uma cronologia não de um garoto, mas de um garoto que se torna adulto e depois se torna um idoso, que é exatamente nessa idade, nesse período da vida dele, que a coisa acontece. É um trabalho cuidadoso, com uma equipe muito boa escolhida pelo Andrei”, elogia Guaracy.
Vale destacar que “Umassuma” é uma animação feita quadro a quadro em ambiente digital, com estética artesanal e trilha sonora original de André Moura, que costura os silêncios do filme com sons que evocam tempo, espaço e introspecção. A supervisão de animação é de Thaly Chrys, que também assina algumas cenas animadas. O curta tem produção do Iluminuras Estúdio de Animação, com apoio da Lei Paulo Gustavo, Secretaria de Cultura do Estado, Governo do Estado do Pará, Ministério da Cultura e Governo Federal do Brasil.
ENCONTRO
O lançamento é aberto ao público e após a exibição acontece um bate-papo com os diretores sobre como a animação foi feita e a apresentação da equipe que trabalhou nela. “É uma equipe muito legal de jovens artistas, alguns um pouco mais experientes, outros menos, mas que deram sua contribuição. Vamos falar também do tema do filme, sobre essa relação das árvores na nossa vida, acho que é um momento importante falar sobre isso, acho que sempre é, essa nossa relação com a natureza”, comenta Andrei.
Para Guaracy, transformar em narrativa poética e animada esse fato que aconteceu em Belém é conseguir atingir o público de uma forma muito forte, pois não é apenas a notícia do fato. “Trazer para o campo da animação, do audiovisual, é uma forma de fazer a pessoa entrar em contato com essa emoção de volta, de uma maneira poética, leve, mas ao mesmo tempo tocante. Por isso, acho importante levar essa experiência de perda não só para o audiovisual, mas também para as plataformas”, diz Guaracy.