TEXTO: WAL SARGES
A Amazônia está impressa no trabalho de Roberta Carvalho tanto como artista visual como curadora do Amazônia Mapping, que já existe há dez anos. O festival de arte mapeada ganha um desdobramento na mostra “Amazônia Mapping em Realidade Virtual”, projeto assinado em conjunto com a cantora Aíla, que poderá ser visto de hoje até o dia 24 deste mês, na Casa das Artes (R. Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236 – ao lado da Basílica – Nazaré), em Belém.
No início deste ano, a artista conduziu uma edição do Amazônia Mapping inteiramente em realidade virtual para que as pessoas visualizassem as obras no computador e nos mais diversos dispositivos móveis. Mas houve o desejo de criar uma experiência corpo a corpo, e assim criar uma possibilidade de visualização em equipamentos mais avançados para fazer a imersão nessas obras, com o uso de óculos de realidade virtual, explica Roberta Carvalho.
“Propomos esta mostra que criaria essa estrutura para receber o público, a partir dos óculos, para imergir nessas 12 obras que são feitas especificamente para uso com essa tecnologia. É uma mostra gratuita e para todo tipo de público, com monitores orientando o uso do equipamento, que é muito simples, mas que promove uma sensação e uma experiência que não se compara a nenhuma outra interface, como celular, computador ou tevê. Quando a pessoa coloca os óculos, a imersão é completa”, afirma a artista.
Mostra promove experiência imersiva
Será uma semana de experiência imersiva nos 12 filmes que foram todos construídos em realidade virtual numa maneira de aprofundar a difusão dos conteúdos dos artistas participantes do projeto. “O público poderá escolher a que obra poderá assistir. São vários trabalhos que envolvem o videomapping, a performance, encontros entre artistas da música e artistas da imagem, com shows, todos no metaverso”, diz Roberta Carvalho.
Ela destaca um dos trabalhos que estão em exposição. “Tem por exemplo, a Rafael Bqueer, que é uma artista paraense da performance, das artes visuais. Ela está fazendo uma performance lindíssima virtual, dentro de uma floresta digital. É uma experiência ainda, de linguagens, digital, de experimentação artística com outras possibilidades muito inovadoras. É muito legal ainda porque, no fundo, a gente está sempre falando de Amazônia, a mostra tem essa característica. Os nossos artistas são daqui da nossa região, então está ancorada a ideia da Amazônia em primeira pessoa, dessa floresta viva, e de fortalecimento da arte e da cultura da nossa região”, justifica.
Missão de fazer da Amazônia um lugar criativo
Referência no assunto, Roberta diz que encara tudo isso como missão. “Sempre sonhei com a ideia de fazer da Amazônia um lugar criativo, de muita força e de renovação da cultura. A tecnologia é um meio que me instiga. Trabalhar com projetos e com processos que vêm pela tecnologia me instiga porque eu acho que a tecnologia é algo que está no nosso dia a dia, e quando a gente utiliza conteúdos artísticos e pensa essa tecnologia a partir da arte, a gente dá um outro caminho para isso que faz parte do nosso cotidiano. Se você pensar nos dispositivos, o celular, o computador, a própria realidade virtual, as realidades mistas, a gente já está imerso nisso”, aborda.
Vida já é híbrida do real com o virtual, diz artista
Para Roberta, essa mistura com o virtual está presente em situações muito mais corriqueiras do que a gente costuma perceber. “O filtro do Instagram é uma realidade aumentada. Já estamos numa vida digital híbrida. E a gente transforma esse lugar num lugar para a arte, preenchendo de conteúdos importantes, conteúdos artísticos, que reflete sobre o nosso mundo atual, sobre a nossa região. É isso que me instiga, trazer outros pontos de vista, a partir da arte, para esses espaços tecnológicos, que são também espaços de novas linguagens”, reitera a artista visual.
Roberta conta que foram convidados para a realização do videomapping dois artistas brasileiros, Microdosys e Lumina Chebel. “Eles fizeram um videomapping chamado ‘Alma da Selva’. O prédio em destaque simboliza uma igreja de Santarém, mas é um ambiente completamente com outras referências. A gente tem a igreja de Santarém no meio de uma floresta, na beira do rio, e o videomapping acontece. Você coloca os óculos e consegue enxergar tudo ao redor, uma lua cheia, o rio, a água se mexendo, as árvores balançando com o vento. Realmente é uma experiência imersiva única”, detalha.
DJ Méury e PV Dias promovem encontro da arte visual com tecnobrega
Outro destaque é o encontro entre a DJ Méury e o artista visual PV Dias. “A DJ Méury é essa mulher incrível, referência do nosso tecnobrega, que é essa música que vem da periferia, além de ser uma artista superpotente. Ela se encontra em uma espécie de domo – é como se fosse uma concha – com o artista visual PV Dias”, destaca.
Na pesquisa visual dele, as obras falam muito das raízes musicais do Pará e da Amazônia e ele transforma isso em desenho e animações, lembra Roberta. “Nessa animação, a DJ Méury está dentro e os visuais do PV estão projetados atrás dela e esse domo está flutuando por um rio virtual numa Amazônia imaginária, que é esse metaverso da Amazônia Mapping. É uma loucura, só experimentando para ver. A Méury faz esse show flutuando nessa ‘balsa’, que é uma tela também, passa por igrejas, florestas e prédios”.
Aíla ganha cenário de fantasia criado por Jean Petra
Outro encontro interessante, ela diz, aconteceu com a cantora Aíla, na região das Ilhas, no rio Guamá. “A gente filmou a Aíla com uma câmera 360º. É a imagem dela numa canoa, depois no meio de uma floresta, em frente a uma samaúma gigante, e as interações foram feitas a partir de objetos e elementos 3D, que o Jean Petra, um artista paraense também que trabalha com arte digital, fez sobre o vídeo que foi gravado. São elementos visuais em 3D, são seres da floresta que o Jean modelou. São vitórias-régias, botos, borboletas mágicas, tem uma coisa muito surreal”, descreve.
Nesta composição, Aíla canta os grandes sucessos do último disco dela. “São videoclipes, como se fossem muito únicos, porque é uma coisa feita para esse nosso ‘metaverso’. Então a gente faz um jogo de realidade também: tem horas que a gente está dentro de um ambiente totalmente digital, em que a gente coloca a DJ Méury lá dentro, é um ambiente construído com software de videogame, e tem horas que a gente filma a Aíla no rio Guamá, um filme mesmo real, em 360º, e interfere com elementos digitais. Acho que as realidades mistas estão bem contempladas”, destaca.
VISITE
Mostra “Amazônia Mapping em Realidade Virtual”
Quando: Hoje, 17, até 24 de outubro, das 9h às 17h.
Onde: Casa das Artes (R. Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236 – ao lado da Basílica – Nazaré, Belém)
Quanto: Gratuito