Wal Sarges
Uma palavra de apenas três letras, mas que é sinônimo de complexidade ao ser usada: “Não”. Esse é o título do espetáculo que a atriz Adriana Birolli traz a Belém neste sábado, 25, às 20h, e no domingo, 26, 19h, no Teatro do Sesi. Após uma longa temporada em cartaz – e com apresentações agendadas até dezembro, em São Paulo -, a peça virá pela primeira vez à capital paraense.
“Não!” é uma comédia sobre uma mulher que está completando 36 anos e a família organiza um jantar de aniversário. Ela não quer participar, mas não sabe como dizer não para a própria família. “É assim que inicia a história dessa personagem. Ao longo do espetáculo, ela vai trazendo várias questões e lugares da vida dela onde tem dificuldade de dizer não. Em paralelo, há uma abertura de uma conversa com o público sobre essa dificuldade”, descreveu a atriz Adriana Birolli, em entrevista exclusiva ao Você. A paranaense disse o quanto a surpreendeu ao falar desse tema de forma leve.
Atriz desde os 9 anos de idade, Adriana Birolli começou a carreira profissional em 2002, e brilhou na TV em papéis que marcaram a memória de muita gente, como Isabel, a filha mimada e invejosa dos personagens de José Mayer e Lília Cabral em “Viver a Vida”. Será a primeira vez dela em Belém e se disse ansiosa para se apresentar na cidade.
“Estou louca para chegar em Belém e vou ter o privilégio de poder ficar mais dois dias passeando e conhecendo a cultura local, as comidas típicas. Estou louca para conhecer o mercado, eu sou viciada em artesanato. Então é uma realização entrar em turnê e poder conhecer a vastidão desse Brasil, de toda a cultura que a gente tem. Vai ser um sonho realizado”, disse.
IDENTIFICAÇÃO
Com texto e direção de Diogo Camargos, “Não” fez Adriana Birolli descobrir que o espetáculo traz muita identificação entre as pessoas. “A ideia do Diogo Camargos de falar sobre a dificuldade de dizer não é genial. Rodando há um ano pelo Brasil, em públicos completamente distintos, posso dizer que para 90% das pessoas, pelo menos, têm dificuldade de dizer não em algum âmbito da vida. Aos poucos as pessoas vão se identificando, rindo de si mesmas, mas entendendo que isso é uma questão que também é relevante na vida delas”, contou.
“Eu, em cena, consigo acompanhar o público aos poucos se identificando e entrando na conversa do ‘Não’, e fazendo uma retrospectiva da própria vida, identificando essas dificuldades. É uma comédia, mas a gente sai do teatro pensando, não só o público, como eu também venho, no meu dia a dia, pensando muito mais sobre os nãos que eu tenho que dizer. E é um trabalho diário porque ninguém aprende a dizer não da noite para o dia. Mas não significa que é para dizer não para tudo também (risos). É para dizer não para aquilo que a gente quer dizer não e tem dificuldade”, complementou.
Lidar com o gênero da comédia, para ela, é um bálsamo. “Eu adoro fazer comédia. Acho que é a melhor forma de comunicação com o público. O público de hoje, fundamentalmente, procura muito mais a comédia e se abre mais para ela, e a comédia sempre foi uma forma de crítica social, é uma forma política de conversar sobre temas. Eu acredito realmente no poder da comédia, de identificação de alguma forma, não a risada pela risada. A risada é, claro, fundamental na comédia, mas sou a favor de uma comédia que traga transformação. Acho que a função do artista, do teatro, de tudo isso, é trazer transformação. E esse espetáculo particularmente cumpre muito com esse objetivo. A gente se diverte, a gente sai leve, mas a gente sai pensando na nossa vida.”
A preparação para a peça requer alguns requisitos, como organização e foco, indicou Adriana. “Porque eu sou atriz da peça, mas sou ainda a produtora. Não é só a responsabilidade cênica, mas exige que eu tenha responsabilidade de toda a produção, a organização, negociação com os teatros e toda a estrutura de logística. Principalmente em turnê, que a cada semana a gente está num lugar diferente do Brasil. Tem que ter muita concentração para conseguir cumprir com tudo direitinho e, ao mesmo tempo, fundamental, cuidar da saúde, porque senão nada disso vai acontecer”.
REPERCUSSÃO
No palco há um ano com o espetáculo, ela se disse impressionada com a amplitude do tema e a potência da arte para discuti-lo. “Estou cada vez mais impressionada com o poder dessa temática, tanto que comecei a fazer não só a apresentação da peça, como lives no Instagram sobre esse tema com variados tipos de pessoas, mulheres, homens, profissionais da psicologia, músicos”, disse ela, afirmando que fez muitas descobertas.
A atriz conta que ouviu muitas histórias de pessoas que passaram a compartilhar situações variadas após a encenação ou por mensagem em seu Instagram. “Muita gente passou a me contar coisas particulares, inclusive. Me mandam histórias, agradecem porque não viam o quanto isso afetava a vida delas. Depois que assistiam ao espetáculo, paravam para pensar que tinham que trabalhar na terapia essa questão. Mas não conseguiam entender que o problema fundamental, por exemplo, era a dificuldade de dizer não”, observou.